Capítulo 20

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Estar fora da universidade era uma sensação muito boa. Vi que minha mãe, Marla e algumas outras choravam de emoção por colocar os pés lá fora de novo depois de tanto tempo. 

Estávamos fora, mas e agora? Como vamos prosseguir nosso plano? Será que temos um plano a partir de agora? Não sei essas respostas, pois fiquei de fora das ultimas reuniões. Eles não me deixaram participar delas, por isso ficava muito tempo com Paula nos computadores.

- E agora mãe? Pra onde vamos?

- Vamos encontrar com um grupo de leitores. Tem algumas pessoas nos esperando.

- E como vamos chegar lá?

- Vamos andando. É apenas vinte minutos daqui.

Algumas pessoas já estavam andando a nossa frente e seguimos pelo mesmo caminho. Os policiais que nos apoiaram e aqueles que permitiram nossa passagem no último momento também seguiram andando conosco.

Apesar de não ser uma caminhada difícil, pois o caminho era plano, em pouco tempo algumas pessoas começaram a se cansar e sentiam sede. Era por volta de três horas da tarde e o sol deixou algumas pessoas um pouco tontas, talvez algumas delas não tivessem nem almoçado por causa da confusão que marcou o inicio do plano de fuga. Assim, alguns não estavam passando bem. 

Paramos por alguns minutos debaixo de uma árvore, para que todos se recuperassem para seguirmos em frente. 

A universidade em que estávamos ficava um pouco distante da cidade, não haviam muitas casas por perto, por isso tivemos que andar vinte minutos, além da parada, até chegar num lugar onde entrava na cidade. Quando chegamos ao lugar combinado, encontramos cinco pessoas a nossa espera. Logo que nos viram vieram em nossa direção para nos ajudar.

Seguimos eles por mais alguns minutos até chegarmos em um prédio abandonado que não ficava longe de onde estávamos. Descobrimos que lá era o lugar onde funcionava o grupo de leitura deles e assim como os outros grupos, ele também ficava o mais escondido possível, para não levantar suspeitas.

Chegando lá fomos todos bem acolhidos. Várias pessoas estavam a nossa espera, prontos para nos ajudar. Nos acomodamos sentadas no chão, pois éramos um grupo enorme e era a melhor forma de todos caberem ali. Começamos a contar como haviam ocorrido a fuga.

- Será que posso usar o computador de vocês? - perguntou Paula a um deles enquanto as outras pessoas conversavam.

- Claro! Está atrás daquela estante de livros. - respondeu um rapaz apontando para o lugar onde ela deveria ir.

Ela se levantou e eu fui atrás dela.

- Posso ir com você? - perguntei a ela bem baixo

- Pode sim. Vamos!

Ela ligou o computador e procurou o sistema que usávamos para nossa comunicação, esperando encontrar alguma mensagem que informasse como o restante das fugas sucedeu. Mas não tinha nada. A última mensagem que tinha era uma que ela mesma escreveu lembrando todos da hora que começaríamos.

- O que isso quer dizer? - perguntei

- Não sei... Talvez não tenham encontrado um computador para enviar as mensagens ou talvez tenha dado errado... - diz ela com a voz fraca

Desligamos o computador e voltamos para perto dos outros. Minha mãe estava do outro lado da sala em que estávamos, quando nos viu fez um sinal com a cabeça, dando a entender que estava perguntando o que vimos. Paula respondeu balançando a cabeça negativamente. Vi que ficou triste pela resposta. Continuamos paradas ouvindo a conversa deles.

Mais tarde o pessoal do grupo de leitura trouxe coisas para comermos, alguns biscoitos, bolacha pães e para beber, leite e água. Era por volta de cinco horas e resolvemos olhar de novo o sistema. E mais uma vez não tinha nada. Quando estava indo desligar o computador uma mensagem apareceu na tela.

- Olha! - apontei animada

Conseguimos! Saímos da universidade onde estávamos presos no Ceará. Estamos escondidos com um grupo de leitura esperando informações para os próximos passos.

Outra! - disse ela quando viu outras mensagens aparecendo abaixo daquela.

Boa parte das pessoas haviam conseguido escapar, mas não todas, alguma mensagens diziam que não conseguiram fugir e haviam sido pegos antes de conseguir fazer algo. As que conseguiram estavam abrigadas com grupos de leitura, já as outras provavelmente estariam sendo vigiadas de perto pelos policiais, tanto que tinha uma mensagem que dizia que ele só tinha conseguido escrever porque teve muito cuidado pra não ser pego, pois não conseguiram sair e agora os policiais estavam mais alertas com eles.

Depois de ler todas aquelas mensagens que haviam chegado, voltamos para perto do restante do grupo e contamos a eles o que aconteceu, de acordo o que diziam as mensagens que foram enviadas. 

Apesar de que nem todos conseguiram fugir, todos estavam felizes, pois a quantidade que foi bem sucedida foi bem maior. Agora temos um grande grupo de pessoas dispostas a lutar aqui fora com muito mais vontade que antes. Precisávamos agir e lutar também por aqueles que ainda se encontravam presos.

Paula enviou uma nova mensagem combinando uma hora para que saíssem nas ruas manifestando para pedir o fim da ditadura. Decidiram que seria no dia seguinte no fim da tarde, quando as pessoas estivessem saindo dos seus trabalhos e assim poderiam se juntar a eles. Ela também teve uma grande ideia de como anunciar nossa manifestação e convidar a população a se juntar a nós. 

- Marla, venha aqui, por favor... - chamou Paula

- Tudo bem. O que foi? - perguntou Marla curiosa.

- Eu achei um fone aqui com microfone e queria que você gravasse uma mensagem para que todos ouvissem, chamando-os para lutar conosco.

- E como vai fazer isso? - pergunta Marla

- Vou invadir o sistema do canal de televisão permitido e colocar seu áudio pra passar.

- Entendi! Ok ... Vou falar.

“Primeiramente boa noite a todos que estão escutando esta mensagem. Vai ser breve, mas gostaria que prestassem atenção no que direi. Não direi meu nome, mas estou representando todos os professores, bibliotecários e leitores em geral que se encontraram presos por todo o período da ditadura. Pra quem não sabe, a implantação da ditadura teve como consequencia a nossa prisão, pois como vocês devem saber, é proibido ler livros e transmitir conhecimento, e muitos de nós viviam disto. Mas dez anos se passaram e nada mudou para nós. E para vocês sei que a situação está piorando, pois com o fechamento das universidades, o déficit de profissionais em várias áreas se faz presente. Queremos dar um fim nisto e pedimos a ajuda de todos, para que possamos ter um país melhor. Sairemos nas ruas amanhã a partir das quatro horas da tarde em todo o país para reivindicar o fim da ditadura. Contamos com a presença de todos para lutar nesta causa. Obrigada."

- Pronto! - disse Paula - agora é só esperar dar sete horas, que coloco seu áudio no ar. É um horário em que a maioria das pessoas estão em casa.

Quando deram sete horas, Paula mandou uma mensagem para Gabriel Teixeira, o segurança pessoal do presidente.

Gabriel, 

Gostaria de te pedir que ficasse de olho no presidente, estamos preparando uma revolta e não queremos que ele fuja agora. Fale também com o Fábio sobre isso. Qualquer novidade me avise. Obrigada!  - Paula 

Depois de enviada esta mensagem, ela invadiu o sistema do canal de tv e colocou o áudio para passar. Ele durava cerca de um minuto, foi repetido por duas vezes e depois tirado do ar e a programação voltou a passar normalmente. Agora é continuar com o plano. Só descobriremos se a mensagem deu certo amanhã quando estivermos nas ruas. 

É proibido ler livrosOnde histórias criam vida. Descubra agora