INFÂNCIA

90 4 0
                                    

O ano é 1976 mas me parece que foi ontem.

Ouço a voz aguda e estridente de minha prima Lúcia bem perto do meu ouvido.

-Acorda Aaaana! !!

-Já são 4:30 .

Lúcia morava com meus avós já havia um ano e estava acostumada a madrugar.

-Vamos sua preguiçosa a vovó terminou o mingau e o vovô já vai para o curral.

-Você vai perder o leite cru .

-Tá bom.

Respondo sonolenta.

Na cozinha vovó Clara lavava orgulhosa as vasilhas sujas no preparo do que ela chamava de bom café.

Bolo.mingau de fubá com muito alho ,couve e ovos.
-Para fortificar .

Ela sempre dizia.

Lúcia.: Vó dá as canecas de alumínio. Eu e a Ana vamos beber leite cru no curral.

O dia estava gelado. Me lembro da sensação de estar em outro país.

Todos os pastos e montanhas ao redor eram brancos da geada que castigara as plantações e todas as ervas do campo.

Nossos dentes batiam uns nos outros mas logo esquecemos vendo o leite espumoso e quente que nosso avô ordenhara direto em nossas canecas com chocolate .

-Hum . Quero mais .

-Vai ter é dor de barriga ahaha.

Pela risada do meu avô, fiquei com medo.

Apesar do frio os dias eram cheios de descobertas e aventuras pelo pomar e na Mata do macaco .

Mas a melhor hora era a dos casos na beira do fogão de lenha .Toda vez que eu percebia os mais velhos "quentando " no fogão, me achegava quietinha até ter a oportunidade de pedir para escutar um caso (era assim que nós chamávamos todas estórias em que o sobrenatural se manifestava.

A fazenda era muito antiga e minha família estava ali a 4 gerações. Ainda se via as ruínas do que fora uma vila dos escravos que pertencia ao meu bisavó Nhonho e que preferiram ficar com ele cuja fama foi de homem bom e conselheiro e em sua memória conto o primeiro caso.

HISTÓRIAS DO ALÉM DO AQUÉM E DO MUQUÉMOnde histórias criam vida. Descubra agora