I: UMA ANDORINHA NA FLORESTA ESCURA

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Era final do outono, o tempo frio estava seco e as arvores da floresta igualmente secas, o chão encoberto com uma camada de folhas cor laranja e bege, local perfeito para uma emboscada, o caçador aguçou seus sentidos e procurou cheiros, sons, movimentos milimétricos, nada no local, o único problema? A presa não tinha uma forma física no sentido literal do termo, era um espírito, o que podia muito bem ser uma tarefa impossível e provavelmente mortal se não fosse a expertise do caçador em rastrear essas criaturas, o barulha das folhas, a queda repentina de temperatura... ela estava lá.

Com um pulo rápido e o saque da lâmina em suas costas ainda mais rápido o primeiro golpe foi desferido nas costas da criatura, que após o golpe deu um estrondoso grito de dor. Normalmente metal não podia machucar essas criaturas, mas aquilo não era ferro ou aço de nenhuma forma, era prata enriquecido com magia.

A criatura entrou num estado translúcido para tentar evadir o caçador, mas ele havia se preparado para tal habilidade, com um arremesso preciso para o alto, o objeto esférico arremessado começou a liberar fragmentos do tamanho de grãos de mostarda da mesma prata mística que compunha a espada, o espirito maligno não podia mais se esconder e agora estava enfraquecido.

Com um símbolo na mão direita em direção ao chão e a espada na mão esquerda, o caçador lança um feitiço imobilizando a criatura num círculo de runas brilhando roxo, a imagem espectral furiosa tentando se libertar de sua prisão rúnica mal percebe o poderoso golpe de espada vindo em sua direção até que ela é cortada ao meio.

Antes mesmo que a espada cortasse a silhueta completa da criatura, ela se dissipou no ar e o único resquício da existência do monstro era uma cabeça feminina mumificada por magia, ao pega-la e amarrar o troféu em seu cavalo, uma profunda respiração marcava mais uma caçada bem-sucedida do jovem guerreiro com 2 espadas nas costas e olhos de cobra.

Ao retornar para o vilarejo para sua recompensa, o jovem foi encontrado por olhares de quase todos os que andavam nas ruas, alguns de medo, outros de curiosidade, mas apenas um de aprovação e satisfação. O prefeito da vila contratará o bruxo a cerca de 3 dias antes pois o espectro estava aterrorizando as noites da vila e já havia ceifado 3 porcos da fazenda mais próxima, pouco nos padrões de ameaça do bruxo, mas dinheiro é dinheiro, ele entregou o crânio ao prefeito e pegou a bolsa com 98 coroas temerianas e disse.

- Está faltando 2 coroas.

O robusto e já grisalho prefeito respondeu.

-Ah sim, eu sei, se não se importar posso te pagar uma refeição na taberna local, meu primo é o dono e tenho certeza que ficará bem satisfeito em saber que o espectro que matou seus porcos.

-Certo...

Disse o bruxo.

A taverna era bem simples assim como toda a vila, ele se sentou, pediu uma coxa de frango e um copo de cerveja enquanto o prefeito anunciava com o crânio em suas mãos

-O fantasma que nos assombrava e matou nossos porcos está finalmente banido deste mundo, tudo graças ao jovem mestre bruxo que nos prestou esse nobre serviço!

Houve uma pequena salva de palmas e o dono do estabelecimento se aproximou do bruxo e lhe disse com lagrimas nos olhos.

-Foi você que vingou a morte dos meus porquinhos mestre bruxo?

Eu com um olhar de certo incomodo respondeu educadamente.

-Sim, eu mesmo senhor, sinto muito pelos porcos, o toque de um espectro é algo bem difícil de sobreviver.

- Não precisa pedi desculpa não moço, vingando-os está bom já. Ó pode comer a vontade que tu deves estar cansado.

Tal hospitalidade é rara para a vida de um bruxo, o preconceito contra nós pregado pelas igrejas e nobres por medo de o que um grupo de bruxos é capaz de fazer. Por sorte este vilarejo é muito afastado de qualquer outro e o povo aqui parece não receber muitos visitantes, quem dirá bruxos, pensou o jovem caçador.

Ele bebeu e comeu o suficiente e quando estava prestes a sair, um grupo de homens em armadura com o símbolo da igreja do fogo eterno entrou na taberna e um deles anunciou.

-Este vilarejo agora está sob os cuidados do fogo eterno, todos os hereges devem ir embora ou morrer.

O bruxo não se abalou com as palavras gritadas pelo cavaleiro em armadura malfeita, não era a 1ª vez que ele se via no mesmo estabelecimento que um grupo de homens fanáticos religiosos e, se ele ficasse atento, não seria a última.

Ele se levantou com leveza e calma, pegou suas posses da mesa, e foi em direção a porta usando um capuz para tentar evitar os soldados. Tudo corria bem até que...

-Ei você ai do capuz, diga quem é e aonde vai!

Disse um dos soldados com a mão na bainha de sua espada.

Merda de novo não, pensou ele.

-Meu nome é Elias de temeria, sou um membro da escola de bruxos da andorinha, algum problema senhor?

Ele pode ver a expressão dos homens irem de surpresa, passarem para medo e terminarem com raiva e agressividade.

-Se temos um problema? Claro que temos seu mutante imundo, como ousa usar desse estabelecimento e dessas pessoas?!

Gritou um deles, assustando os outros presentes.

- Oras, eu tenho dinheiro e a gratidão desse povo por ter eliminado o fantasma que assolava a região, coisa que vocês os "novos guardiões" desta região deveriam ter se encarregado, certo?

Disse o bruxo num tom de coragem e deboche.

-É isso já chega aaaaahrg!

Um dos 3 soldados avançou em direção do bruxo com um punhal em mãos.

O bruxo não só desviou do golpe, mas também com uma joelhada bem aplicada na barriga do soldado, o deixando inconsciente no chão. Com um ar de irritação ele perguntou os 2 soldados restantes.

-Vocês são mais inteligentes que seu amigo? Eu espero pelo bem de vocês que sejam...

Os dois soldados se olharam, olharam para o colega caído e desacordado, e correram para fora com medo.

-Foi o que eu pensei.

Elias resolveu que quaisquer motivos para ele permanecer a noite naquela vila acabaram de ir embora junto dos dois soldados do fogo eterno, eles definitivamente voltariam com mais colegas e mais dispostos a esfolare-lo vivo, era hora de partir.

Pegou suas coisas: a espada de aço de meteorito que estava com ele e a espada de prata reforçado que estava sendo reparada após a luta contra o espectro, alguns mantimentos para a viagem e finalmente, sua égua, Framboesa, nos estábulos, antes do pôr do sol ele já havia partido do vilarejo pacato que em breve não seria mais tão pacato, no horizonte as costas de Elias, ele podia ver um grupamento de soldados da igreja do fogo eterno.

-Pobres coitados.

Disse Elias enquanto cavalgava rumo leste, kaer morhen o esperava, o inverno estava a caminho...

Um Bruxo No ContinenteOnde histórias criam vida. Descubra agora