2º Capítulo - Você Não Pode Se Esconder

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Quando você era criança enxergava a vida de forma simples e fácil. Se preocupava com dever de casa, férias de verão e em alguns momentos chegava a sentir medo do que podia estar escondido dentro dos armários a noite, o que era facilmente esquecido depois de um leite quente e uma conversa sobre como seu pequeno mundo estava seguro. Então, você cresceu, e se deu conta de que foi apenas poupado de uma dura verdade. 

Todas as coisas que temia estavam realmente lá, escondidas dentro das pessoas!

O rosto de Merrick se transforma enquanto avança contra mim. Seus olhos ficam vermelhos sangue, veias escuras começam a pulsar sob sua pele e as laterais de sua boca rasgam ao surgir dentes grandes e pontiagudos que o deixam assustador. Diante disso, permito que meu lado obscuro domine e sinto algo dentro de mim crescer. É uma energia que dilata cada poro do meu corpo e me lembra de quem realmente sou e do que sou capaz.

Sem mover um único músculo eu levito a mesa de centro e a quebro contra Merrick antes que ele possa chegar até mim. Estilhaços de vidro voam para todos os lados e vejo-o puxar um pequeno pedaço que se cravou em seu peito. Um sorriso se abre em seu rosto transfigurado quando a ferida começa a regenerar e em uma fração de segundos ele corre até mim e me levanta do chão pelo pescoço. Sua mão aperta minha traqueia. Sufoco tentando me livrar de sua posse, então seguro seu braço com força e este começa a necrosar. A pele fica acinzentada, veias coagulantes e pútridas rasgam a carne e feridas se abrem como buracos na terra fazendo-o perder as forças e me soltar no mesmo instante.

Caio de pé, colocando as mãos na garganta e respirando forte quando o ar começa a circular em meus pulmões novamente. Forço-o a se ajoelhar, segurando o braço enquanto rosna de dor e raiva. Me aproximo tirando o cabelo do rosto, aperto os punhos para intensificar sua dor.

Se ele me quer então vai ter que fazer muito mais que isso!

Repentinamente seu rosto volta ao normal e os olhos castanhos sombrios me fitam com perplexidade e certa admiração. Com os lábios entre abertos e respiração ofegante vejo a esclera de seus olhos ficarem de um tom verde reluzente e um círculo quase prateado surgir em volta da pupila.

Que porra é essa?

Não espero para descobrir, chuto o peito de Merrick fazendo-o voar a alguns metros de distância e chocar-se contra o sofá. Fico tonta e sei que estou abusando da minha força. Aperto uma das mãos novamente e faço seus gruídos se intensificarem à medida que a necrose começa a subir para seu ombro e tórax.

— Sienna...

Minha cabeça dói e começo a perder o foco. Sangue escorre do meu nariz enquanto faço Merrick sofrer e por um instante eu poderia jurar que vejo preocupação em seu rosto.

— Não. Faça. Isso. — Murmura.

Perco as forças. Um peso domina minhas pernas e minha visão escurece. Sinto o impacto do meu corpo contra chão até que em menos de um segundo tudo desaparece.

🎵 (Hozier – Arsonist's Lullaby)

Merrick tenta conter suas emoções enquanto a necrose em seu braço vai desaparecendo. Ele sabia que Sienna era forte, mas não imaginou que seria nocauteado com tamanha facilidade e nem que ela chegaria a seu extremo com tanta rapidez.

Um pouco atônito ele passa as mãos nos cabelos. O sangue flui em suas veias como a muito tempo não fluía e seu coração morto dispara feito um motor enquanto a observa desacordada no carpete da sala. Depois de quatrocentos anos achou que seria quase impossível ser alcançado por essa maldição absurda e bastou um segundo para que fosse completamente envolvido. Não consegue nem mesmo se lembrar de como se sentia a alguns minutos atrás.

Filhos das Trevas - A Última NecromanteOnde histórias criam vida. Descubra agora