Ouço um estrondo vindo do primeiro andar. O chão chega a tremer. Dou alguns passos para perto da escada, mas Jay me lança um olhar firme, deixando claro que devo ficar exatamente onde estou. Sons de coisas sendo quebradas preenchem o ambiente me deixando inquieta. Jogo o cabelo para trás e pergunto:
— Vamos mesmo deixa-lo destruir a casa?
— Se for preciso, sim.
— Que diabos aconteceu afinal? Você disse que o Aiden queria declarar paz.
— Não se trata do Aiden.
— Então que merda está acontecendo?!
Um grito enfurecido de Merrick interrompe meu interrogatório. Arregalo os olhos ao sentir uma agonia indescritível. Coloco a mão sobre o peito e me apoio em Jay soltando alguns murmúrios de dor. Meu coração acelera e o rosto de Merrick vem em minha mente como uma flecha acertando o alvo. Ele está sofrendo e por alguma razão estou sentindo.
— Sienna? O que foi?
— Tem algo errado. Eu preciso descer.
— Não, ele pediu pra ficar sozinho.
— Jay... — Olho dentro de seus olhos para que saiba que falo sério. — Posso sentir a agonia dele. Eu não sei o que é, mas se tiver a menor chance de minha presença ajudar eu não vou ficar aqui parada.
Enquanto me ajuda a me recompor ele desvia os olhos para Mallory, que está na outra ponta do corredor, encostada ao parapeito da escada com um copo de whisky na mão. Ela me encara por alguns segundos e com um balançar sutil de cabeça concorda:
— Deixa a Bruxinha tentar.
Saio do corredor e desço as escadas rapidamente. Passo pela sala principal e no caminho até o escritório eu noto os rastros de destruição deixados por Merrick. Ele arrancou o arco da porta e tem papel e madeira espalhados por todos os lados. Entro com um pouco de receio e vejo-o no fundo da sala, com as duas mãos apoiadas na parede.
— Agora não, Sienna.
— Me deixa ajudar.
— Quer mesmo ajudar? — Ele finalmente me encara. — Então se prepare para destruir a Cecily.
— Me diz o que está acontecendo. Só dessa vez.
— Você não entenderia.
Me aproximo com cuidado e percebo que algo de muito cruel aconteceu para desestabiliza-lo dessa forma. Aquela agonia me atinge novamente e meus olhos queimam com lágrimas vulneráveis, mas as contenho para não deixar o momento ainda pior. Eu consigo entender e preciso que ele acredite nisso. Tento segurar uma de suas mãos, mas vejo-o hesitar, então digo com insistência:
— Não precisa ter medo de perder o controle. Nós dois sabemos que posso apaga-lo em dois segundos se assim eu quiser.
— Vá para o seu quarto.
— Não, eu vou ficar. Você precisa de mim aqui. Eu sinto isso.
Ele franze os lábios e desvia os olhos. Toco seu rosto com delicadeza e involuntariamente sinto minha energia fluindo através de mim. Ouço-o engolir seco ao sentir alívio. Merrick coloca sua mão sobre a minha e pergunta:
— O que está fazendo?
— Não sei. As necromantes tem essa ligação com a morte. Acho que quando vampiros sentem algo com muita intensidade eu também consigo sentir. Pensei que poderia aliviar, de alguma forma. — A expressão em seu rosto começa a suavizar e apertando minha mão ele sussurra:
— Cecily matou todos... Todos da minha família.
— Como? Eu não sabia... Que você...
— Existem muitas coisas sobre mim das quais eu não me orgulho. Coisa que eu gostaria que você nunca precisasse saber.
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Filhos das Trevas - A Última Necromante
FantasíaSienna é uma médica dedicada de um hospital renomado em Portland. Viciada em trabalho, ela encontra na rotina frenética uma forma de esconder sua verdadeira natureza. Tudo parecia correr bem, até ela receber a visita de um homem enigmático, chamado...