5º Capítulo - Me Leve Para Casa

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Rio Grade do Sul, Brasil

Estamos em um chalé na serra gaúcha, rodeada por árvores e clima frio. Fazem duas semanas desde que parti, não tenho dormido direito e nem comido bem. Não estou me adaptando a essa nova realidade e ler os livros de feitiço que Merrick gentilmente me cedeu não está sendo nenhum pouco terapêutico.

Estou sentada no beiral da varanda fazem exatos quarenta minutos, com os olhos perdidos no nada, segurando um cartão postal que nunca vou enviar. O sol está se pondo entre a vegetação o que significa que a casa vai ficar agitada em pouco tempo e que meu sossego depreciativo vai acabar.

Viver com vampiros é como ser jogada no fogo e logo em seguida levar uma rajada de água. Tudo é novo, assustador, repulsivo e ao mesmo tempo fascinante. Tenho me reservado ao direito de ser apenas um bibelô, onde Merrick pode colocar dentro dessas paredes e esconder do mundo. Sou quase inanimada, assim não preciso conversar mais do que o necessário.

A noite cai completamente e Miwa surge na entrada quase que de imediato. Os cabelos levemente acobreados estão presos em um coque frouxo. Seu rosto tem traços orientais bem característicos e ao que parece ela é a mais nova deles. Sempre que pode tenta puxar assunto, mas não temos muito em comum, obviamente.

— Kato encontrou rastros de lobisomens na mata. — Diz me lançando um olhar tênue. — Estão chegando mais perto a cada dia.

— E o que o grande líder disse a respeito?

— Partiremos amanhã.

Lisboa, Portugal

Tranquei a porta do meu quarto com feitiço, na esperança que pudesse ter algumas horas de paz. Faz um mês que parti e meus pais estão lotando minha caixa de entrada com e-mails preocupados. Quero responder, mas a voz de Jay sempre surge na minha cabeça me dizendo que se eu fizer isso estarei entregando minha localização já que qualquer endereço de IP pode ser facilmente rastreado.

Me remexo sobre a cama sentindo a angústia da distância e empurro o notebook para longe decidindo não estragar tudo.

A arquitetura do lugar em que estamos é deslumbrante. Um tipo de castelo rústico com vidros que impedem a captação solar. A área externa tem um jardim enorme. Jardim esse que explorei mais do que gostaria já que é o lugar mais longe que posso ir.

Tenho ocupado meu tempo tentando encontrar um jeito de ressuscitar a bruxa que criou a linhagem de Merrick. A maioria dos livros não estão traduzidos e isso tem me deixado cansada e estressada. Jay também está me ensinando a lutar e descobri que sou péssima nisso, assim como sou péssima em aceitar minha natureza, tal como prometi a vovó Harriet que faria. Em alguns dias eu quero desistir, em outros quero apenas desaparecer.

Merrick nunca disse com todas as letras o que foi que aconteceu na primeira vez que invadiu minha casa e eu também não perguntei, embora não precisasse depois de um tempo. Esse lado da maldição, ter alguém completamente e incondicionalmente apaixonado por mim sem nenhuma explicação lógica ainda é demais para assimilar. O que eu sei é que minha mortalidade é um perigo para todos já que Merrick transformou a maioria deles e agora ele está ligado a mim pela maldição. Bastou um olhar para fazer um vampiro de quatrocentos anos cativo e ele se esforça muito para esconder essa condição.

Tenho procurado maneiras para não surtar completamente. Minha mais nova obsessão é organizar as coisas que vou odiar em uma lista dentro da minha mente. Nesse momento, estou tentando superar o homem degolado no porão, suspenso por uma corda enquanto sangra feito um porco dentro de um balde para que os vampiros dessa casa possam se alimentar.

Filhos das Trevas - A Última NecromanteOnde histórias criam vida. Descubra agora