Me sinto inquieta, perturbada e apreensiva. Acho que o campo de batalha em que estou vivendo está conseguindo determinar o tom de todos os meus dias. Seja lutando, seja fugindo, seja protegendo alguém ou sendo protegida. O caos está me mudando. Me envolvendo tão profundamente que não tenho mais controle sobre minhas emoções. O espaço para sentimentos bons está sendo arrancado de maneira sutil e quase doentia.
A maior guerra que tenho enfrentado é contra mim mesma. Contra esses impulsos sombrios que não são completamente meus, mas que fazem parte de quem estou me tornando. Preciso me recompor droga! E encontrar o caminho de volta ao equilíbrio e sensatez. Não que em algum momento da vida eu tenha conseguido tal proeza.
São duas da manhã e estou na cozinha. Minha fome noturna tem se tornado um hábito e acordei sentindo que seria capaz de matar alguém por um Poutine. A dispensa está abastecida, ainda bem, mas minhas habilidades culinárias são humilhantes. Tiro as batatas da gordura e coloco em um prato sobre folhas de papel toalha. Já desisti de fazer meu molho de carne engrossar, então devido o avanço das horas e minha falta de paciência vou me contentar em ter uma sopa quase decente para aplacar a fome.
Desligo o fogo e xingo um palavrão quando algumas gotículas de gordura atingem meu pulso. Aperto os olhos jogando a panela na pia e o encontro da água com o calor extremo provoca um som peculiar. Solto uma longa respiração ao esfregar as têmporas.
Equilíbrio e sensatez! Equilíbrio e sensatez!
Repito em minha mente.
— Vai restar algum utensílio nessa casa depois dessa aventura culinária?
Merrick surge na porta da cozinha e meu olhar mortal faz seu sorriso sarcástico desaparecer. Ele veste uma calça de moletom cinza com a linha da cintura abaixo das entradas saltadas de seu abdômen definido. O peitoral está completamente a mostra também e percebo que ele estava treinando.
Desvio os olhos para o balcão. Pego os cubos de queijo coalho e jogo sobre as batatas, depois tempero com sal e pimenta sendo acompanhada por um par de olhos curiosos e quase aficionados. Ele então pergunta:
— Está tudo bem com você?
— Sim, eu só... Só preciso de um maldito Poutine!
Me dou conta da força de meu tom apenas quando o eco se espalha pelos quatro cantos da cozinha e faz os olhos de Merrick se arregalarem. Uma expressão de constrangimento surge em meu rosto depois disso, mas antes que eu possa ter a chance de reconsiderar ele diz:
— Podemos resolver isso facilmente. — Caminha para mais perto da bancada. — Temos duas opções. Boas opções, devo dizer. Número um. Eu vou até a casa do primeiro chef que encontrar, o sequestro sem nenhum pudor e o arrasto até aqui para aplacarmos seu desejo por um prato típico canadense. — Faço uma careta em repreensão.
— Opção número dois?
— Você come essa desastrosa tentativa de refeição, controla seus impulsos até que amanheça e eu possa enviar Jay ao centro da cidade para comprar e trazer um Poutine digno do seu paladar.
Solto um suspiro. Ele está tentando ser engraçadinho para ignorarmos o fato de que mal nos falamos desde sua cena com os membros do clã do Aiden, mas eu sinceramente não quero ter que pensar sobre isso agora, meu único desejo é encher a barriga e voltar para a cama.
— Fico com a opção número dois.
— Sábia escolha.
Enfio minha batata frita no molho de carne e coloco na boca desviando os olhos. O silêncio se instaura mais uma vez e o muro de coisas não resolvidas entre nós fica palpável. Os pesadelos que tenho tido quase todas as noites estão ficando cada vez mais específicos e isso diz que Merrick tem mantido segredos de mim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Filhos das Trevas - A Última Necromante
FantasySienna é uma médica dedicada de um hospital renomado em Portland. Viciada em trabalho, ela encontra na rotina frenética uma forma de esconder sua verdadeira natureza. Tudo parecia correr bem, até ela receber a visita de um homem enigmático, chamado...