8º Capítulo - Aqui Está Seguro, Aqui Está Quente

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Me sinto inquieta, perturbada e apreensiva. Acho que o campo de batalha em que estou vivendo está conseguindo determinar o tom de todos os meus dias. Seja lutando, seja fugindo, seja protegendo alguém ou sendo protegida. O caos está me mudando. Me envolvendo tão profundamente que não tenho mais controle sobre minhas emoções. O espaço para sentimentos bons está sendo arrancado de maneira sutil e quase doentia.

A maior guerra que tenho enfrentado é contra mim mesma. Contra esses impulsos sombrios que não são completamente meus, mas que fazem parte de quem estou me tornando. Preciso me recompor droga! E encontrar o caminho de volta ao equilíbrio e sensatez. Não que em algum momento da vida eu tenha conseguido tal proeza.

São duas da manhã e estou na cozinha. Minha fome noturna tem se tornado um hábito e acordei sentindo que seria capaz de matar alguém por um Poutine. A dispensa está abastecida, ainda bem, mas minhas habilidades culinárias são humilhantes. Tiro as batatas da gordura e coloco em um prato sobre folhas de papel toalha. Já desisti de fazer meu molho de carne engrossar, então devido o avanço das horas e minha falta de paciência vou me contentar em ter uma sopa quase decente para aplacar a fome.

Desligo o fogo e xingo um palavrão quando algumas gotículas de gordura atingem meu pulso. Aperto os olhos jogando a panela na pia e o encontro da água com o calor extremo provoca um som peculiar. Solto uma longa respiração ao esfregar as têmporas.

Equilíbrio e sensatez! Equilíbrio e sensatez!

Repito em minha mente.

— Vai restar algum utensílio nessa casa depois dessa aventura culinária?

Merrick surge na porta da cozinha e meu olhar mortal faz seu sorriso sarcástico desaparecer. Ele veste uma calça de moletom cinza com a linha da cintura abaixo das entradas saltadas de seu abdômen definido. O peitoral está completamente a mostra também e percebo que ele estava treinando.

Desvio os olhos para o balcão. Pego os cubos de queijo coalho e jogo sobre as batatas, depois tempero com sal e pimenta sendo acompanhada por um par de olhos curiosos e quase aficionados. Ele então pergunta:

— Está tudo bem com você?

— Sim, eu só... Só preciso de um maldito Poutine!

Me dou conta da força de meu tom apenas quando o eco se espalha pelos quatro cantos da cozinha e faz os olhos de Merrick se arregalarem. Uma expressão de constrangimento surge em meu rosto depois disso, mas antes que eu possa ter a chance de reconsiderar ele diz:

— Podemos resolver isso facilmente. — Caminha para mais perto da bancada. — Temos duas opções. Boas opções, devo dizer. Número um. Eu vou até a casa do primeiro chef que encontrar, o sequestro sem nenhum pudor e o arrasto até aqui para aplacarmos seu desejo por um prato típico canadense. — Faço uma careta em repreensão.

— Opção número dois?

— Você come essa desastrosa tentativa de refeição, controla seus impulsos até que amanheça e eu possa enviar Jay ao centro da cidade para comprar e trazer um Poutine digno do seu paladar.

Solto um suspiro. Ele está tentando ser engraçadinho para ignorarmos o fato de que mal nos falamos desde sua cena com os membros do clã do Aiden, mas eu sinceramente não quero ter que pensar sobre isso agora, meu único desejo é encher a barriga e voltar para a cama.

— Fico com a opção número dois.

— Sábia escolha.

Enfio minha batata frita no molho de carne e coloco na boca desviando os olhos. O silêncio se instaura mais uma vez e o muro de coisas não resolvidas entre nós fica palpável. Os pesadelos que tenho tido quase todas as noites estão ficando cada vez mais específicos e isso diz que Merrick tem mantido segredos de mim.

Filhos das Trevas - A Última NecromanteOnde histórias criam vida. Descubra agora