Congelados

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Com mais dúvidas do que esclarecimentos em mente, decidiram deixar todo aquele trabalho de detetives de lado e o criado juntou-se a Taehyung na ponta da cama. Os dois permaneceram olhando a tinta da parede descascando, sem coragem de falar ou de aproveitarem para dormir um pouco.

O relógio na parede em frente a eles tinha os ponteiros estáticos em um horário aleatório, sendo difícil saber as horas exatas, mas há tempos deixaram de se importar com o passar dos minutos. Não havia mais uma data especial para eles, isto é, se um dia já tivesse existido alguma.

Nuvens escuras se agrupando eram visíveis pela janela do apartamento, escondendo aos poucos a lua e as estrelas daquela noite, e logo ocorreu o pensamento de que o tempo poderia atrapalhar uma caminhada a pé até Gyeongju, mas agora, tão perto do objetivo e cheio de novas expectativas, Taehyung mal conseguia se conter.

— Precisamos conversar com Jungkook antes de continuarmos. Somos apenas seis, sem contar o gato, contra um exército enorme de soldados e cães preparados para nos capturar. — Taehyung finalmente quebra o silêncio, dando um susto em Yoongi, que estava compenetrado demais em seus pensamentos.

— Você têm certeza sobre isso? — disse em um tom tão baixo que o original só foi capaz de ouvir por estarem bem próximos. — Taehyung, essa ideia toda soa como um plano suicida. Ainda que sejamos fortes como Hoseok nos diz, eles podem estar nos esperando atacar a qualquer momento e estão atrás de nós também, já que pelo jeito o seu amigo fugiu da base de experimentação — argumentou, acrescentando mais uma possível dificuldade que teriam.

Um suspiro alto ecoou como resposta, depois de se infiltrar tão a fundo na mente do criado, conseguia sentir todo o medo que o tomava, assim como o cansaço que fazia sua cabeça pesar. Taehyung queria bloquear aquelas sensações para não o influenciar. Por muito tempo, sentiu-se perdido em sua essência por não conseguir separar os seus pensamentos e, consequentemente, seus sentimentos do de outras pessoas.

Houve dias em que simplesmente deixava o esconderijo com seus amigos e se isolava em um local para que perspectivas, como a raiva que alguém sentia ou o desejo de algo vindo de outra pessoa, não se tornasse a sua realidade também. Muitos pensavam que ter a habilidade de acessar a mente das pessoas fosse algo formidável, mas o original possuía uma lista quilométrica de contras. A mente das pessoas podia ser um lugar sombrio e cheio de más influências, é nela que se passam os desejos mais profundos e tudo aquilo que nunca será dito em voz alta.

Por isso sempre torcia para que ele fosse o único com aqueles dons, talvez sabendo os controlar não fosse tão ruim, mas em seu caso era uma experiência que, por vezes, não desejava a ninguém.

— É exatamente por isso que eu acredito que seja a hora, mesmo que tenhamos uma chance mínima, é o que nos resta a tentar. — Taehyung continua a perceber a relutância de Yoongi, e, por mais que seu aspecto traga algo de sombrio, os olhos dele transpassam o garoto assustado que se escondia por detrás de tanto poder.

Independentemente de suas origens, Yoongi sempre foi muito humano aos seus olhos, com seus medos, decepções e inseguranças. Constatar tal fato trazia a sensação de que deveria protegê-lo a todo custo e talvez por isso nunca tenha deixado que Namjoon ou qualquer outro o fizesse algum mal.

— Você precisa confiar em mim — pediu em uma quase súplica ao ver que Yoongi não pensava em ceder. — Eu sei que é loucura, estou com tanto medo quanto você. Não quero morrer, nem perder mais ninguém.

O marcado fica surpreso com as palavras direcionadas a si, mas logo em seguida sua expressão se fecha e Taehyung chega a recuar, quase caindo por um dos lados da cama, quando vê ele se aproximar subitamente. Yoongi ficou tão próximo que sentia e ouvia a respiração alterada do criado, seus pensamentos projetando-se em sua mente sem que quisesse e nenhum deles era agradável.

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