Sorrisos

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Itachi e Hikari não eram crianças dadas a sorrisos largos e gargalhadas.

O pequeno Uchiha era de sorrisos discretos, com olhos expressivos.

A pequena Hatake não sorria. Não para a maioria das pessoas. Itachi, agora, era sua única exceção. Shisui via alguns esporádicos, mas nunca eram pra ele.

Os dois tinham sete anos agora, e a senhora Mikoto estava grávida. Itachi não sabia como se sentia em relação a ser irmão mais velho, e também não poderia perguntar a Kakashi. O, agora, shunin havia ficado ainda mais fechado ao longo dos anos, após o suicídio do pai.

Então, quando as dúvidas pesavam em seus pequenos ombros, ele se deitava, acomodado nas pernas ou na barriga da melhor amiga, sentindo-a mexer em seu cabelo com carinho.

-Itachi...-Ouviu a loira chamar baixinho, atraindo sua atenção.-Sua respiração está chiando de novo.

-Treinamos pesado, Hikari...

-Não faça isso. Você sabe que não pode mentir pra mim.-Os olhos, comumente cinzas, assumiram aquele círculo cromático que Itachi achava tão misterioso. Isso acontecia as vezes. Normalmente quando as crises de frio eram muito fortes.-Anda, vamos pra casa. Você precisa de um banho quente e uma massagem com chakra pra sua respiração melhorar. E se teimar comigo vou contar à Mikoto-sama.

Não que quisesse sair do conforto onde estava, mas decidiu que era melhor não bater de frente com a amiga.

Caminharam até o Distrito Uchiha, encontrando Shisui no caminho, que decidiu acompanhar os mais novos. A senhora Mikoto já estava com o jantar encaminhado quando eles chegaram.

-Crianças! Bem vindos.

-Chegamos, Okaa-san.-Itachi abraçou a barriga e beijou o rosto da mãe.-Sasuke se comportou?

-Direitinho.-A mulher pegou a mão do filho mais velho, mostrando onde seu irmãozinho estava chutando aquela tarde. E riu quando Itachi colou o ouvido na região, sorridente.-Se animou quando você entrou em casa.

-Mesmo?-Mikoto viu o pequeno sorriso que apareceu no rosto de Hikari, que assistia a cena quietinha. Até seu filho estender a mão e puxar a albina para mais perto.-Hikari, sente aqui.-Ele colocou a mão dela sob seu rosto, esplanada na barriga da mãe.-Sasuke, essa é a Hikari.

O pequeno se moveu, para deleite do irmão mais velho. O que fez a prateada rir.

-Oi, Sasuke. Eu sou a melhor amiga do seu irmão. Como está, tia?

-Estou bem, querida. Um pouco enjoada apenas. Vocês dois vão se banhar para o jantar, certo?

- Sim senhora!

Os dois mais jovens se despediram da matriarca e seguiram para os quartos. Hikari acabou segurando a blusa de Itachi, antes dele entrar no próprio quarto.

- Eu atravesso o corredor.

-Mas...

-Da última vez Fugako-sama quase pegou você. Deixa que eu faço dessa vez.

-Tá bem...

•~⚡~•

Odiava quando chovia daquele jeito em Konoha.

Também odiava o fato de ter prometido a Hikari que não sairia na chuva. Agora não podia vê-la há três dias, tendo a certeza de que algo ruim havia acontecido.

-Hey, Itachi.-O, agora, Ambu deu um pulo, olhando para o primo. Shisui estava totalmente molhado, e tinha aquele sorriso característico.-Hikari me mandou dizer: "Diga àquele cabeça dura que está tudo bem e que ele não pode sair nessa chuva fria". Palavras dela.

- Você viu a Hikari? Onde? Como? Por que?

Shisui pegou uma toalha, secando os cabelos negros.

-Obviamente vi. Afinal trouxe um recado dela. Eu a vi no mercado agora pouco, fui buscar algumas coisas pra mamãe e Mikoto-sama. Ela parecia bem.

O mais jovem respirou tão aliviado que Shisui decidiu dar um desconto daquela vez. Ele percebeu o quão aflito Itachi ficava quando chovia. Por alguma razão o time dele havia entrado em um consenso de não treinar na chuva, ou dias muito frios. Ele imaginava que fosse por Hikari e suas inexplicáveis crises de frio súbito.

Sasuke decidiu que era um excelente momento para reclamar, o que prendeu totalmente a atenção do irmão mais velho.

•~⚡~•

Hikari terminou de preparar o jantar e arrumar mesa de jantar. Ao menos hoje Kakahsi e Jiraya iriam comer ali com ela, e foi por isso que caprichou um pouco mais.

Mesmo que seu irmão não ligasse a mínima, fez o prato favorito dele.

Tomou um banho bem quente e vestiu um conjunto de agasalho, luvas meio dedo e meias bem grossas. Estava com muito frio naquele dia. Mas atribuiu isso ao fato de estar chovendo muito. Mesmo que o clima lhe trouxesse e uma paz sem igual, e que gostasse de caminhar na chuva quando tinha crises.

Trançou os cabelos, molhados mesmo, e foi abrir a porta para o tio. Jiraya abriu um sorriso triste ao ver sua sobrinha, ganhando um pequeno em retorno. Ela lhe deu um abraço gostoso, mas que permitiu que sentisse a pele extremamente gelada da menina.

Os olhos dela estava levemente débeis, e transitavam do cinza simples ao círculo cromático. Não sabia o que aquilo significava, e Sakumo não lhe disse nada a respeito daquela estranha habilidade da filha. Não se lembrava de alguém na família que tivesse algo assim. Afinal, habilidades oculares eram extremamente ligadas aos Uchiha. Talvez viesse daquela habilidade o desprezo que seu pai sentia da neta. O que era uma pena, na percepção do sannin.

-Como você está, princesinha?

-Estou bem, Ojii-san... E o senhor?

-Ótimo agora que posso ver minhas crianças. Onde está seu irmão?

-Deve estar voltando da Torre Kage... O senhor não quer descansar um pouco enquanto ele chega?

-Claro, claro.-Jiraya começava a suspeitar que o que lhe sobrava de seu irmão, o pequeno núcleo familiar de seus sobrinhos, estava se desmembrando. Porque Kakashi não conseguia entender e perdoar a morte do pai. E porque Hikari, simplesmente, entendia o luto do irmão. E tinha um amor tão grande que não batia de frente com ele e sua absurda indiferença com ela.-Vou pro meu quarto. Você me chama quando ele chegar?

-Sim!

O sannin dos sapos seguiu para seu aposento, indo se banhar e deitar um pouco para esticar os músculos, doloridos da viagem. Precisava, de alguma forma, tentar conversar com seu sobrinho. Minato havia lhe enviado um pergaminho sobre o novo padrão de comportamento, ainda jamais arredio e fechado, de Kakashi. Era algo sumariamente preocupante.

Hikari continuou na sala, deixando uma toalha ao lado da porta para quando o irmão chegasse do treinamento. Também deixou o ofurô do quarto dele cheio de água quente. Não queria que ele ficasse gripado ou coisa assim. Aliás, nunca queria ver seu irmão doente. Ele não deixava que cuidasse dele quando adoecia.

O mesmo comportamento de Itachi. Ela não sabia se era algo ligado ao ego masculino deles, ou se eles apenas não queriam que ela deixasse de vê-los como ninjas fortes e independentes. O que ela julgava uma bobagem. Afinal, foi isso que tirou a vida de seu pai. E seu avô fez questão de frisar isso para ela em todas as oportunidades que teve, antes de morrer.

Akai ItoOnde histórias criam vida. Descubra agora