Amadas Ossadas

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Kisame assistiu seu amigo cair morto.

Sabia que Itachi havia enviado seu corvo momentos antes. Só esperava que o animal chegasse a tempo em seu objetivo.

Pensou que deveria recolher o corpo e... Levá-lo de volta a Konoha.

Estava prestes a fazer isso quando uma concentração monstruosa de Chakra se fez presente, e um raio o cegou por alguns segundos.

Quando voltou a enxergar, viu apenas a cabeleira prateada de costas para si. E sentia o cheiro das lágrimas dela. Ouviu os soluços baixinhos e viu como ela permeia a camiseta de Itachi entre seus dedos.

Ele já não usava mais o manto da Akatsuki.

Sasuke havia sido levado por Tobi, e ele sabia que deveria contar isso a ela. Mas não era sua prioridade no momento.

Se aproximou com cuidado, tocando o ombro da mulher.

A expressão no rosto dela era da mais pura dor. E isso fez o tubarão apenas apertar o ombro da mulher de forma carinhosa.

-Vem, eu levo pra você. Quer ir ao Distrito Uchiha?

-Quero... E Sasuke?

-Está com Tobi. Seguro por hora.

Ele viu os olhos dela ficarem coloridos, e alguma coisa pareceu se encaixar.

-Obito... Filho da puta... Kisame, depois eu preciso que me leve até Sasuke...

-É claro, Hikari-san. Mas, agora, vamos voltar a Konoha.

Ela suspirou, abraçando mais forte de Itachi, antes de deixar o Espadachim pegá-lo.

-Vamos voltar a Konoha, diretamente ao Distrito Uchiha.

•~⚡~•

Kisame nunca tinha assistido a um funeral.

Não que o de Itachi fosse como as histórias que ele ouviu dos demais companheiros ao longo dos anos.

Ver o amigo ali, devidamente limpo, com os cabelos amarrados, a expressão serena... Não haviam sequer as marcas da luta contra o irmão caçula. O kimono quase inteiro branco, apenas o Obi era de um tom vermelho escuro e sua fita central era azul marinho. Tudo aquilo tornava  morte de Itachi mais crível.

Isso tudo, além da expressão de pleno sofrimento da esposa que o amigo tanto amava.

Depois que conheceu Hikari, Itachi acabou lhe contando muitas histórias sobre ela. Das loucuras e besteiras que eles faziam junto de Shisui Uchiha. O tubarão acreditava que Itachi precisava compartilhar com alguém as coisas boas de sua vida. Que ele havia se cansado dos outros saberem só sobre o Massacre dos Uchiha. Então ele lhe contava.

De como ela detestava ter que colocar Kimonos, e de fora a mãe dele quem ensinara a ela como colocá-los, já que ela não tinha mãe. De como sorria para ele e de como cuidava de Sasuke. Como incentivava seu irmãozinho. Não deixando que Sasuke acreditava ser só a sombra do irmão mais velho. De como ela e Shisui brigavam, discutiam, e depois que se cansavam de gritar um com o outro começavam a gargalhar do tema besta que levou a discussão.

Conheçia bem a forma como seu amigo via a própria esposa.

Também ouvira as histórias das missões. De como Hikari nunca era diplomática, apesar de ser a capitã. De como ela também não era leal a Vila da Folha. Ela era leal aos dela, cuidava do dela. Se Konoha ameaçasse um deles de alguma forma, seria dizimada. E que foi por isso que Itachi e Shisui não contaram nada a ela, antes da fatalidade acontecer.

Tinha uma flor que ele não conhecia presa na orelha de Itachi. Era vermelha também, assim como o elástico que prendia seus cabelos negros.

O tubarão preparou um chá e levou até a prateada, que estava ajoelhada ao lado do corpo.

Alguém se aproximou do Distrito, e Kisame se tranquilizou ao ver o sorriso triste que Hikari abriu, depois de agradecer o chá.

O shinobi abriu a porta com delicadeza e acenou para o tubarão, antes se abaixar ao lado da mulher, tirando a franja da frente de seu rosto.

-Tudo bem, querida?-Iruka não olhou para o cadáver de Itachi, sabendo que ver todo o capricho de Hikari apenas faria seu coração doer mais.-Você comeu?-A prateada apenas acenou negativamente, antes de deitar contra o peito do cunhado.-Você precisa comer, Kari...-Ele voltou o olhar para o espadachim, com um sorriso agradecido.-Muito obrigado por ter tomado conta da nossa Luz.

- Foi uma honra vigiar pela mulher do meu amigo.-O rapaz se abaixou também, sorrindo para a mulher.-Agora eu devo ir. Vou vigiar Sasuke e Tobi. Quando for sério eu volto para buscá-la e levá-la até eles. Tudo bem?

-Obrigada, Kisame.

Ele se foi e Iruka apenas acariciou os cabelos prateados até a hora de enterrar o Uchiha. Depois buscou um pouco de missô para que prateada comesse antes de voltarem para a Casa dos Hatake.

Deu um olhar de aviso a Kakashi quando ameaçou se levantar e ir até a irmã. O portador do Sharingan apenas assentiu e permaneceu no lugar, esperando seu namorado colocar Hikari no quarto para que pudesse conversar.

•~⚡~•

Seis dias seguidos de pleno sol em Konoha.

E Hikari não saiu do quarto em momento algum.

Foi com a chuva do final daquela tarde que a mulher saiu de sua casa, caminhando até o Distrito dos Uchiha.

Antes passou no túmulo simbólico de seu tio-avô e no túmulo de seu pai. Hashirama quem havia feito questão, é claro. Ainda passou por Minato e Kushina, então voltou seu caminho, sob a chuva razoável, até o cemitério do Distrito.

Os dois estavam enterrados lado a lado, porque ela fizera questão que fosse dessa forma.

Se sentou no chão mesmo, sem se importar com a grama e a lama. E se deixou chorar. Ali estavam, seus dois amores. Seu Akai Ito e seu Nii-san. Seus companheiros, protetores. Seus meninos.

Ambos estavam ali.

Abraçados a ela, cada um de um lado.

Shisui acolhendo ambos mais novos em seus braços. Queria tanto que as coisas tivessem sido diferentes. Que os três pudessem só se encontrar ao final da tarde e comer alguma coisa gostosa. Ou que fizessem uma noite do pijama... Como quando eram pequenos.

Era dolorido que ela pudesse vê-los.

-Vocês são dois...-Ela soluçou baixinho.-Filhos da puta... Vocês me aban-donaram...-Os dois estreitaram mais o abraço.-Eu não quero... Ficar aqui... Eu quero... Ir tam-bém...

A presença de Jiraya permaneceu oculta, enquanto ele escutava sua amada sobrinha. Sabia que a encontraria ali. Também imaginava que Sakumo estivesse com ela, assim como os meninos. Aqueles dois nunca abandonariam Hikari.

Deu uma longa olhada para a imagem de seu pai, esculpida na pedra. Antes de suspirar pesado.

-Parabéns, cretino filho da puta. Você conseguiu tirar da sua odiada neta tudo o que ela mais amava. Incluindo o pai e o amor do irmão mais velho. Realmente... Sua inteligência é invejável. Inclusive para a maldade.

O sannin, então, se inclinou para tocar os ombros da sobrinha, antes se abaixar ao lado dela, sem ganhar seu olhar. A abraçou com cuidado.

-Oi...

-Vim avisar que estou indo, querida. Você fica bem?

- Sim, oji-san... Boa viagem.

Deixou um beijinho na testa da mulher e se foi, rumando para os portões de Konoha. Pensou em conversar com Kakashi, mas não era o momento. Teria feito bem diferente se soubesse que não voltaria a vê-los em vida.

Akai ItoOnde histórias criam vida. Descubra agora