Te Vejo Amanhã

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Os Kage haviam acabado de ressuscitar. E Kabuto cometeu o erro de abrir seu chakra.

Usando todo o chakra que sua maldição acumulara ao longo dos anos, e o de Kabuto, Hikari expandiu o uso de uma versão melhorada do Edo Tensei.

Seu avô não era o único gênio da família Senju, afinal.

E enquanto todos os injustiçados se erguiam, ela caminhou, tranquilamente, até Uchiha Madara. Não havia outro com quem ela pudesse falar. Seu avô era um irracional preconceituoso. Já Hashirama e Hiruzen não precisariam de maiores explicações.

O mais forte dos Uchiha observou aquela ousada figura, de caminhar tranquilo e olhar perigoso. Tudo nela lhe lembrava Tobirama, o que lhe dava gana de assassina-la cruelmente. Foi  figura de Izuna, seu irmãozinho, caminhando atrás dela que o impediu.

-Madara-sama.-Ela lhe fez uma reverência educada. Digna da princesa  de um tradicional e poderoso clã. E por essa razão retribuiu, dando um passo para perto da mulher.-Sou Hikari Hatake... Eu... Eu vim fazer um pedido de paz. Não por Konoha. Vim pelo seu clã.-Aquilo o fez arquear a sobrancelha, intrigado.-Eu... Não sei se sabe tudo o que aconteceu nos últimos anos... Mas eu consegui aprimorar o jutsu que o trouxe de volta...-Ele sentiu um chakra estranho lhe percorrer, dessa vez o trazendo vida de fato.-Por favor... Uma última vez, dê uma segunda chance. Mate Tobirama, se isso o conforta. Eu mesma abrirei o caminho até ele se desejar... Mas não deixe seu clã ser exterminado outra vez... Resgate seus herdeiros da Maldição do Ódio...

Ela respirou fundo, e ele viu como as mãos dela tremiam. Também assistiu Izuna segurar os braços dela com a delicadeza típica dele.

-Querida, está tudo bem... Venha, você precisa descansar.-Ele a trouxe para o peito, olhando para o irmão mais velho.-Por favor, ouça o que ela diz.

Ela deu um sorriso triste, se aninhando no colo oferecido. Os olhos coloridos ficando opacos. Só então Madara percebeu a marca amaldiçoada, com a assinatura de chakra de Tobirama, já que ela tomou metade do rosto da mocinha.

- Você se parece com meu Itachi...

-Está tudo bem... Vou levar você pra ele, mas precisa ser uma menina forte para chegarmos.

Os olhos dela marejaram, e os cabelos prateados, tão rebeldes, perderam parte de seu brilho.

-Eu não quero ser forte...

- Eu sei. Eu sei... Mas precisa. Só mais um pouquinho... Eu prometo que vai passar.

-Hikari!?-A voz característica de Hashirama chegou aos irmãos pouco antes dele próprio. Vivo. Havia medo em seu olhar, que se transformou em desolação assim que viu a marca.-Cretino, Tobirama! Inferno! Izuna, me dê minha sobrinha-neta,por favor...

- Não.-O mais novo segurou a menina contra o peito.-Você nunca fez nada para ajudá-la! Deixou que seu irmão fizesse o que bem entendesse com a neta. Agora ela é um Uchiha e eu vou cuidar dela como ela merece!

Finalmente Madara começava a entender o que estava se desenrolando à sua frente. E sorriu para a forma protetora do irmão. Mas o rosto triste de Hashirama lhe chamou a atenção.

-Eu não sabia. Nunca imaginei que Tobirama havia amaldiçoado uma criança inocente. Uma criança do nosso clã.

- Por que ele fez isso?- Foi a vez de Madara questionar, enquanto se aproximava do irmão e da moça, que apenas perdia as forças aos poucos.-Por que amaldiçoou uma descendente? Aquele estrupicio não sabe que são elas as responsáveis por gerar os herdeiros mais fortes do clã?

- Ela nasceu Akai Ito de um Uchiha.-Os dois líderes imediatamente arregalaram os olhos para Izuna.-Esse foi o erro dela. Nascer destinada a amar incondicionalmente alguém que Tobirama odiava.

Dizer que Hashirama estava indignado era muito suave. Ele estava irado com seu irmão mais novo. Se lembrava bem da alegria de descobrir que tinha uma neta. De cuidar de sua pequena Tsunade. Como aquele certinho podia... Ah, ele teria uma conversa bem severa com o caçula.

-Hashirama.-O mais velho dos irmãos Uchiha chamou a atenção do Primeiro Hokage.-Ela vai morrer. Faça alguma coisa.

Izuna a acordou melhor no colo, para que o med-nin pudesse avaliar a situação clínica da sobrinha-neta. R sua expressão assumiu a mais plena desolação.

- Eu... Eu não posso... Não tenho chakra o bastante para... Fazer o necessário.

A tristeza tomou o rosto de Izuna.ele havia acompanhado, do mundo dos mortos, toda a trágica história de amor entre Itachi e Hikari.

- Eu tenho.-Madara estendeu a mão ao velho amigo.-Use o meu. Mas salve a menina. Ela é, exatamente, o que queríamos. O elo de paz entre nosso clãs.

O castanho lhe deu um sorriso, antes de segurar sua mão e voltar a se concentrar na albina. Madara tinha razão. Eles eram a resposta. Tinham de protege-los a todo custo.

•~⚡~•

Frio.

Era muito escuro e frio ali dentro.

Na cela minúscula e asquerosa que Tobirama havia selado Õkami Akuma.

Ao longo dos anos, sempre que dormia durante dias com as crises de frio intenso, Hikari tentou, de todas as formas, abrir o selo e libertar a linda loba branca.

Foi por assim que ela entende que a criança não tinha culpa de sua tortura. Aquela crianca deveria ser seu receptáculo, sua joia protegida. Não sei Jinchuriki.

E aquela convivência forçada, que deveria ter sido natural desde o início, começou a destruir o corpo dela.

Aos poucos foi danificando sua memória, seus sentimentos, seu corpo físico... Sua criança adoecia.

E Karasu Gin esteve ali, ao seu lado, desde que nascera com a criança. Ela nunca pode tocá-lo. Mas escutava seu procurar doce, apaixonado, devotado... Sempre que seu hospedeiro estava ali, juntinho de sua criança.

Com o passar dos anos, o corpo de ambas crianças padeceu. Eles se distanciaram. Gin deveria saber a razão, uma vez que ele não estava acorrentado à sua criança, diferente dela.

Na primeira vez que seus hospedeiros fizeram amor, quase duas décadas depois que nasceram, os dois finalmente se encontraram, usando o canal de sonho dos Akai Ito. E isso de repetiu todas as vezes. Mas Gin nunca lhe dizia o que estava acontecendo.

Até que em uma noite ele voou para a frente de sua cela, e chorara de forma desmedida. Estava todo molhado e respirava de forma fraca.

-Nunca ficaremos juntos, Õkami...-O corvo crocitou de forma sofrida.-Nossas crianças estão morrendo. Eles têm pouco tempo... Não nos encontraremos livres nesta vida. Ficaremos separados por séculos novamente...

E ela sentiu. Quando o hospedeiro de Karasu se foi. Quando sua hospedeira enterrou o corpo de seu Akai Ito. Quando ela, simplesmente, se entregou ao frio do selo.

A via encolhida ali, no canto da cela nojenta, sempre chorando. Sempre com novas mutilações. Sabia que ela não morreria por isso. As lacerações eram cada vez mais grotescas. Apenas porque ela queria sentir dor em um lugar diferente. Que a dor nos antebraços fosse tão forte a ponto de fazê-la esquecer a dor em seu coração.

Mas não daquela vez.

Daquela vez ela estava deitada ali, do outro lado das grades. Tremia de frio, mas havia uma expressão serena em seu rosto. Havia gasto quase todo o chakra delas. E se entregado de vez à morte. Ela reencontraria seu Akai Ito do outro lado.  E eles mereciam isso. Um momento de plena paz.

Akai ItoOnde histórias criam vida. Descubra agora