Indebatível

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Então era aquilo.

No fim, um deveria espionar e destruir o outro.

E ninguém se importava com o quanto eles se amavam.

Eram irmãos! Independente da hierarquia dentro do Clã.

Bem, ela se importava. E ela deveria saber. Ao menos Shisui achava isso.

-Itachi... É o certo. Hikari tem que saber a verdade. O que nosso clã está tramando. A posição que teremos de tomar para tentar apaziguar as coisas até acharmos uma solução...

- Você sabe qual é a solução, Shisui.

-Conte a ela.-O mais novo voltou os olhos para o céu, fingindo-se de surdo.-Itachi... Se não contar à Hikari... Eu mesmo contarei.

•~⚡~•

Foi até a casa dela. Sabia que ela estava cuidando de Kakashi. Ele estava ferido de forma grave desde sua última missão, que envolvia os testes ilegais em humanos de Orochimaru.

Bateu na porta com cuidado, ouvindo passos arrastados, e o som dos dentes batendo. Ela estava com frio.

A porta foi aberta, e a prateada apenas se deitou em seu peito, procurando por seu calor. Seu rosto estava manchado por lágrimas. Olhos vermelhos, olheiras profundas, magreza, palidez, cabelos opacos... Sua Hatake estava doente. Sendo consumida, cada dia mais por sua maldição.

Ali, Itachi decidiu que não diria nada a ela. Não podia jogar aquela bomba nos braços de sua garota. Aceitaria que ela não o perdoasse. Que não o entendesse.

Era cruel.

Eles haviam perdido Shisui há pouco mais de três dias. Sabia que Hikari não acreditaria na história do suicídio. Afinal, ela era a melhor amiga de Shisui. Ela saberia se ele estivesse prestes a tirar a própria vida, pelo motivo que fosse.

A pegou nos braços para adentrar a residência. E a levou para a cozinha, onde preparou um chá adoçado de camomila.

Voltou a pegar sua garota no colo, para que sentassem à varanda.

E ficou com Hikari em seus braços. Sentia o quanto ela estava gelada, mas não tremia mais. Como se fosse indiferente ao frio não natural que sentia.

-Vou fazer uma coisa.-Murmurou, ganhando os olhos cinzas. Estavam mais claros aquela tarde.-Uma coisa horrível.

-Shisui morreu por isso?

-Shisui morreu por Danzo ser um covarde.

-A covardia dele vai me tirar você também?

-Não...-A apertou mais em seus braços.-Se puder me perdoar.

-Itachi... O que está acontecendo?

-Meu clã quer começar outra guerra.-Ela suspirou, se acomodando novamente em seu ombro.-Eu não posso deixar... Acabamos de sair de uma guerra que arrancou tudo de você.

-Mas...-Os olhos dela mudaram para o cinza costumeiro.-Kurama... A Vila acha que foi um Uchiha...

-A Vila sabe que foi um Uchiha, Hikari. É diferente. E eu preciso resolver isso.

Os dois se afundaram em silêncio. Por horas.

Itachi assistiu a forma delicada com a qual Hikari cuidou do irmão mais velho, independente da frieza que ele demonstrou a ela. Foi se banhar, e depois preparou um novo chá para eles, enquanto ela ocupava o ofurô, já que tinha trocado todas as bandagens do irmão.

Se sentaram no futton, de frente um para o outro. Não se olhavam enquanto tomavam o chá. Era um ritual deles antes de dormir. Estabelecido há quase uma década.

Ele deixou ambos copos no aparador, do outro lado do quarto, antes de voltar para se deitar junto da prateada. Hikari estava acomodada em seu peito há um longo tempo, até achou que ela houvesse adormecido.

Mas, em algum ponto do início da madrugada, ela se apoiou nos cotovelos, para olhá-lo nos olhos. Os circulos cromático estavam ali, cheios de lágrimas.

Levou o indicador para secar as trilha finas que começaram a se formar. Seu coração apertava de forma descomunal quando a via chorar. Era torturante.

- Não quero que me diga o que vai fazer.-Ela pousou o indicador sobre seus lábios, pedindo para que não a interrompesse.-Quero... Quero que prometa que não vai me deixar. Independe da forma como isso afete a sua permanência em Konoha. Independente de como julgue a si mesmo a partir daqui... Prometa que não vai me deixar... Eu só tenho você, Itachi...

Enlaçou o mindinho dela com o seu, e os trouxe até os lábios, repousando um beijo suave na união deles.

- Eu prometo, Hikari Hatake. Eu, Uchiha Itachi, nunca vou deixar você.

•~⚡~•

O coração do Terceiro Hokage pesou ao ouvir o que Itachi faria. O jovem jounnin cortaria os riscos que seu clã traria para Konohagure de vez.

-E, em contra partida, lhe peço duas coisas.-O Hokage acenou positivamente.-Quero a proteção integral de Sasuke, e que ele nunca saiba a verdade.

-Compreendo.-Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes.-E a segunda coisa, Itachi?

-Quero que tire Hikari da Ambu.-Itachi sabia que, se desse a oportunidade, Hikari faria todas as missões Kamikaze de Konoha, só para que seu irmão não fosse enviado a elas.-Coloque-a a serviço do hospital, na ala infantil. Mas não deixe que saia nas missões da Ambu, nunca mais.

O Terceiro Kage de Konoha suspirou, e acenou positivamente.

-Tem minha palavra, Uchiha.

•~⚡~•

Hikari se sentou no telhado da residência dos Hatake. Totalmente voltada ao Distrito Uchiha.

Ela havia conversado com Fugaku e Mikoto, enquanto Itachi estava em reunião com o Hokage.

Ele estava certo. Eles estavam irredutiveis. Iam começar a Quarta Guerra no coração de Konoha. Se ele não tivesse impedido.

Não era uma civil inocente. Era uma capitã da Ambu. Uma das mais temidas por todas as nações, tal e qual seu irmão mais velho. Sabia, exatamente, o que Itachi estava fazendo naquele momento. Em que Sasuke brincava longe do Distrito.

O corvo dele estava sentado ao lado dela, com a cabeça repousada em sua coxa. Num claro reflexo de como o próprio Itachi se sentia naquele momento. Desolado.

-Tudo bem, querido.-Com delicadeza, a loba pegou o corvo no colo, o abraçando contra o peito.-Tudo bem... Eu estou aqui. Vamos ficar bem. Eu prometo.

Minutos depois, quando uma chuva fria caía em Konoha e Sasuke já estava no hospital, sob observação por seu estado de choque, Itachi estava na mesma posição do corvo.

Encolhido, deitado contra o tronco da prateada. Seu rosto acomodado contra o colo dela.

As lágrimas não o deixavam, o choro prejudicava mais seus pulmões, e a constatação de que Hikari estava ali, cuidando dele, fazia seu coração ter algum tipo macabro de acalento.

O que era seu martírio. Pois ele deveria partir. Antes que os shinobi decidissem lembrar que a casa dos Hatake seria seu refúgio mais óbvio.

Não a casa... A Hatake sempre seria seu refúgio mais óbvio.

Akai ItoOnde histórias criam vida. Descubra agora