Capítulo IV.I • Depois do amanhecer

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Caminhei pela clareira lentamente e assim parei, observando e fitando tudo ao meu redor. À noite ali era realmente linda, as árvores de porte grandes e troncudas xacualhavam suas folhas verdes e aromatizadas, causando em mim um efeito de calma e paz de espirito (eu amava o cheiro da natureza e tudo que a compõem). O rio de águas cristalinas corriam ao norte, bem ao fim de uma trilha de pedras que delimitavam o espaço verde onde jaz ali diversas flores e hortaliças que combinavam perfeitamente com a paisagem. O vento, embora estivesse forte e pesado demais, não chegou a ser um problema pra mim, ele batia sobre meu corpo de forma agradável e abundantemente acolhedora. Apesar da noite quente que se exibia, minhas vestes eram compostas por uma calça jeans preta e uma blusa azul meio largada, meus pés calçavam meu all-star preto favorito.

É lindo, não é? 一 disse a voz desconhecida. Nesse instante, desviei minhas orbes negras em todas as direções, procurando o lugar de origem daquela pergunta.

一 Quem está ai? 一 proferi em alto tom para que a voz misteriosa tivesse chances de me ouvir. Mas nenhuma resposta veio ao meu encontro quanto a minha pergunta. Por isso, resolvi voltar a caminhada e sair logo dalí a fim de explorar cada centímetro daquele lugar. Levei ambas de minhas mãos para dentro dos bolsos de minha calça jeans ao iniciar meus passos lentos.

Já pretende ir? 一 a voz outra vez me questionara, mas agora ela correspondia à um rapaz alto e de aparência muito familiar que se mostrara ao sair de trás de um salgueiro. Sim, era o mesmo garoto do meu outro sonho.

一 Pretendo ir? Mal sei como e por quê cheguei aqui. 一 respondi, cessando minha caminhada, mantendo-me imóvel enquanto ele se aproximava.

Você chegou aqui porque quis, mesmo que não saiba disso ainda. E há diversas formas de retornar quando assim quiser. 一 respondeu ele, agora parando defronte à mim. Tive que inclinar um pouco minha cabeça pra cima para fitá-lo no rosto.

一 E se eu não quiser voltar?

Isso seria o mesmo que mentir pra sí mesmo, Jake. Você está aqui... Eu estou aqui por vontade múltua de nós dois. Você já viu alguem deitar em sua própria cama, cansado do dia puxado e não querer dormir? 一 perguntou ele, me instigando a responder tal pergunta, mas nenhuma explicação que eu tentei pensar seria boa o suficiente para tapar o buraco do enigma que ele lançara.

一 Como pode saber se estou mentindo para mim mesmo? Não sabe o que se passa em minha cabeça, e... 一 eu ri 一 ah, já sei... Eu deitei em minha cama há uma hora atrás, isso aqui é apenas um sonho bobo. Então por que é que estou me explicando para uma pessoa que existe somente no meu sub-consciente, afinal?! 一 perguntei para mim mesmo, mas ele não se limitou a responder.

Sim, você está dormindo agora, tem razão, mas... 一 ele desviou seus olhos esverdeados que brilhavam com a luz da lua em direção ao meu peito onde eu tinha a tatuagem, seguindo a fitar meu rosto em seguida 一 mas só porque seja sonho não quer dizer que não seja real. E você é mais lindo do que eu imaginava que poderia ser. Fico feliz em saber que você está aqui. 一 concluiu, sorrindo.

Mas seu rosto passou a ficar embaçado, sua voz aos poucos ia sumindo e agora, eu mal conseguia distinguir a cor de suas vestes. Ele estava se desfazendo, junto à ele, a paisagem também se fora formando borrões. Tudo ao redor passou a ser branco, menos a chave dourada que brilhava incessavelmente caída ao chão. Por fim, eu acordei.

Ainda sonolento levantei a cabeça do travesseiro, olhando ao redor com as minhas vistas embaçadas devido ao sono que era ofuscada pela claridade do dia que se aproximava ao horizonte. A janela do "meu" quarto estava aberta e uma brisa gelada se aproveitou disso para me fazer estremecer. Lovan estava deitado no colchão à beira da minha cama e pelo julgar de seu ronco baixo e continuo ele estava em sono profundo, abraçado com o travesseiro que parecia pequeno demais para o tamanho de seus braços.

Ele resolveu por dormir ali por conta de sua educação exemplar, já que Elli sugeriu que ele ficasse no quarto de seus pais, os senhores Johnson, mas ele discordou logo de inicio e disse ser falta de respeito e educação. Pra parecer tão educada quanto, o que ela não era nem um pouco, Elisa dormiu com Tyler em seu quarto cor de rosa, deixando vago o quarto do casal.

O sofá era duro e pequeno demais para alguém passar a noite, Okay, é compreensivo. Mas da forma que Lovan trouxe o colchão para o "meu" quarto, porque ele não o colocou sobre o chão da sala e dormiu por lá afinal?

Me levantei, vesti meu shorts e minha camisa, já que sempre fora acostumado a dormir de cueca, independente da temperatura climática e sai do quarto rumo as escadas que me levaria até a cozinha. Chegando lá, logo coloquei uma panela de água no fogo para preparar o café.

(~)

一 Por que não me acordou, Jay? Acabei perdendo a hora. 一 disse Elisa ao abrir a porta da sala e sair para os fundos onde eu estava, segurando em sua mão uma xícara grande de café.

Eu desviei meus olhos até ela e outra vez voltei a fitar a água suja da piscina que agora encobria metade do meu tornozelo.

一 Não quis te acordar, Elli. Em vista da hora que chegou ontem, a noite deveria ter sido boa e pensei que você pudesse estar cansada. 一 expliquei, me ajeitando sentado sobre a borda da piscina.

一 Ah, você tem razão... Foi ótima! 一 ela deu um gritinho, bebericando o café em seguida. 一 mas como foi a sua noite? O que você e Lov fizeram? 一 perguntou.

一 Hãn... Nada, a gente só conversou um pouco e depois jogamos verdade ou consequência, o que de fato foi extremamente entediante. 一 confessei.

一 Hum... 一 ela me observou por completo, passando a se sentar ao meu lado, mas não fez como eu, ao invés de molhar as pontas dos pés ela encolheu suas pernas. 一 está odiando ficar aqui no meio do nada, não é? Longe dos seus outros amigos, dos seus familiares? Nota-se em sua feição que está abatido. Se quiser, podemos voltar pra minha casa e se não estiver pronto para enfrentar seus pais ainda, podemos...

一 Não! 一 eu a interrompi, sorrindo 一 eu estou amando ficar aqui. Sei lá, é completamente diferente do que estou acostumado, mas... É bom. Ficar sozinho, sentir o cheiro na natureza, o cantar dos pássaros, o raiar do dia... 一 bufei, percebendo que essa foi a pior mentira que eu tinha contado em toda a minha vida.

一 Não vou cair nessa, eu te conheço desde que tínhamos quatro anos de idade, sei que não está gostando de ficar aqui. Você vem embora com a gente no domingo ou na segunda de manhã. 一 bebeu outra vez o café 一 e a propósito, você é um péssimo mentiroso.

Eu revirei os olhos e sorri, assentindo positivamente com a cabeça enquanto tomava das mãos dela a xícara de café.

一 De onde é que você conhece Lovan? 一 perguntei, bebendo.

一 Eu não o conheço, aliás, conheço, mas só de vista. Ele é amigo do Tyler e jogam no mesmo time do colégio. 一 ela parou por um instante e levou as mãos até seus longos cabelos loiros, prendendo-os em um rabo de cavalo frouxo posicionado no topo de sua cabeça. 一 por que a pergunta? Rolou interesse? 一 proferiu baixinho enquanto ria, batendo seu braço contra o meu.

一 Não... 一 limpei a garganta ao pigarrear 一 claro que não. Ele é bonito e tudo, mas acho que não rola.

一 Se eu fosse solteira e Lov não fosse amigo do Ty, eu daria pra ele sem dúvidas. 一 cochichou ela próxima à mim para que ninguém fora eu escutasse.

一 Sua cretina nojenta. 一 eu disse com rispidez

一 Me ame menos, Jay. 一 retrucou ela abaixando a cabeça.

Logo após alguns segundos de silêncio, ela voltou a falar, dando pulinhos ainda sentada 一 Ah, deixa eu dizer o nosso cronograma de hoje.

Eu apenas suspirei.

一 Pois bem, escute... Hoje como o dia amanheceu lindo e quente, vamos fazer piquenique nas cachoeiras que tem há uns 30 minutos de carro daqui. Eu e Tyler tivemos essa ideia ontem, íamos só nós dois, mas como estava escurecendo e o tempo fechou, decidimos por deixar pra hoje. O que acha?

Parei por um minuto e pensei na proposta, de fato era uma boa ideia. Seria ótimo sair da casa para arejar a cabeça e assim, conhecer novos lugares.

一 Hum... Eu topo!

Ela deu um gritinho após ouvir minha resposta e me abraçou, voltando então a se apoderar da xícara de café que estava em minhas mãos.

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