Capítulo II • Sem energia? - O livro

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Nem preciso dizer o quão meu dia fora entediante sem Elisa e sem nenhum nada para fazer. A TV velha mau funcionava direito, já que seus canais todos pegavam chuviscados, quando não, passava programa de culinária ou talk-show de cantores gospel. A antena do rádio de pilha disposto sobre a mesinha de centro da sala estava quebrada e o rádio encontrava-se sem pilha também, que me impossibilitou de ao menos ouvir música. Estava calor e nadar na piscina era uma boa opção, se não fosse pela água suja e verde que boiava em sua superfície folhas de árvores e insetos mortos. Meu celular era meu resguardo, minha fortaleza e minha fonte de entretenimento, mas o sinal da internet alí era horrível e me limitava a entrar em quaisquer redes sociais. Então, resolvi tomar um longo banho e caminhar pela pequena e humilde cidade à fim de me distrair.

一 Cara, que água fria é essa? 一 perguntei a mim mesmo, molhando a ponta do meu pé na ducha do chuveiro enquanto eu abraçava meu próprio dorso. Sim, a água estava um gelo e embora estivesse calor seria impossível me banhar naquela "geladisse". Era capaz até de eu ter uma hipotermia e morrer com a boca torta. Inclinei meu corpo para cima e apoiei minha mão esquerda no azulejo enquanto a direita tentava alcançar o dispositivo do chuveiro que tinha a função de mudar a temperatura da água, e assim que meu dedo empurrou a pequena alavanca, mudando do " desligado" para o "verão" projetou-se um estalo rápido que queimou o chuveiro e estourou a lâmpada do banheiro, que devido as grossas janelas e as cortinas que encobriam os raios solares, deixou o ambiente escuro.

一 Ah não! 一 gemi em meio a escuridão, me enrolando na toalha.

Confesso que tentei desrrosquiar a lâmpada para trocá-la, apertei várias vezes o interruptor, procurei pela caixa de força, mas falhei em todas as opções anteriores, o que eu tinha de lindo me faltava em prestatividade. Ainda com a toalha branca enrolada no quadril, subi as escadas e fui até o quarto de hóspedes que eu estava dormindo, onde peguei meu celular e digitei os números correspondentes ao de Elisa. Todas as luzes da casa tinham caído apos meu pequeno incidente.

一 Ei Elli, como foi a viagem? 一 perguntei assim que ela disse "Alô".

一 Sossegada Jay, tirando o calor que torrou minha cabeça e transito insuportável, foi tranquilo. E ai?! Como estão as coisas? 一 perguntou.

一 Bem, estão legais e tals... Mas preciso da sua ajuda. 一 eu disse calmamente.

一 Lá vem... O que você aprontou?

一 Nada... 一 respondi de imediato 一 a única coisa que aconteceu de ruim foi quando resolvi tomar banho. O chuveiro deu um estalo e a força da casa caiu. 一 ela riu por um longo tempo da minha explicação.

一 Ah, não se preocupe... 一 tornou a rir de novo com seu timbre de siriena 一 isso acontece quando os fios de eletricidade da casa esquentam, mas relaxa, não vai precisar fazer nada a não ser ter paciência. A força vai voltar sozinha quando a temperatura dos fios se estabilizarem. Desculpe por ter esquecido de avisar esse detalhe.

一 Argh, que ótimo! 一 susurrei, coçando minha nuca com a mão vaga. 一 Mas demora muuuito pra voltar? 一 perguntei.

一 Depende, teve uma vez que levou o dia inteirinho. Ah, mas caso a força não volte até o escurecer, tem algumas velas de emergência dentro de uma caixa de sapato lá no sótão.

一 Beleza, Hãn... Agora eu vou me vestir porque ainda estou pelado. Tem diversas coisas super legais e atraentes aqui me esperando. 一 disse desanimado.

一 Claro que sim, beijinhos e divirta-se por mim. 一 ironizou ela.

一 Beijos. 一 desliguei.

Joguei meu celular em cima da cama e em seguida me vesti, colocando apenas uma cueca boxer preta e um shorts de tecido leve na cor vermelha. Não me preocupei em colocar camisa ou qualquer vestimenta na parte de cima do corpo, afinal, eu estava sozinho e ninguém bulinaria meu físico atlético. Sai do quarto e rumei até o longo e estreito corredor, observando ao fim deste uma escada sinuosa que levava ao sótão. Deixei de lado o medo bobo que eu alimentava de lugares assim e subi as escadinhas com a cara e coragem, notando ao chegar no topo da escadaria o quão grande e cheio de coisas ele era. Caixas e mais caixas estavam distribuídas de forma irregular por sobre toda a sua extensão, brinquedos antigos e mobilias velhas também tinham ali a sua vez, o que me deu a certeza de que seria uma missão impossível encontrar a caixa de velas. Antes de começar a procurar, abri a pequena janela redonda para que adentrasse luz e facilitasse meu processo, após o feito, dei início a minha missão. Encontrei uma caixa pequena de madeira que continha em seu interior diversos enfeites de natal, na outra, diversas fantasias de todos os gêneros e tamanhos, encontrei também fotos antigas e bugigangas da senhora Johnson. Quase desistindo estava quando desviei minhas orbes negras em direção ao chão, em baixo de uma escadinha de metal enferrujada, encontrando por fim a caixa de sapato recheada de velas. Me aproximei da mesma e me abaixei defronte à ela, puxando-a para as minhas mãos. Um livro de tamanho médio e de aparência antiga estava escondido em baixo da caixa que eu recolhera, me chamando atenção por conta de sua aparência e seu título inusitado "mal feito, feito. - manual de feitiçaria." Eu estreitei os olhos e passei a segurar a caixa apenas com a mão direita, pegando o livro então com a mão vaga. Dei uma leve folheada sobre suas paginas

Primeiro dia, teste 1: feitiço para o amor.

Retire de uma maçã o seu topo e assim também seu miolo, acrescentando dentro dela o nome de sua pessoa amada escrita em um pergaminho junto à um fio de cabelo . Preencha o espaço de dentro com mel e volte a colocar a tampa. Enrole a maçã em um pano branco e lance-a no mar corrente em noite de lua cheia. Não se esqueça de conjurar os elementais, cultuando todos, em especial a deusa da água. Lembrando- que, todos e quaisquer feitiços, sejam eles profanados para o bem ou mal, têm suas consequências. Os elementais lhe dão poder, mas irão pedir algo em troca por isso. Mal feito, feito.

Beyron St. Claire.

Eu fiquei em silêncio por um longo tempo, olhando perplexo para aquela folha do livro, mais se parecia um diário na verdade, deveras as palavras escritas ali foram feitas à mão por uma pessoa de caligrafia fina e torta. Eu bufei e em seguida dei risada, jogando o livro para longe ao me levantar e sair dalí.

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