Meus olhos agora sem sono, perplexos e pensativos, findavam a escuridão do quarto pouco iluminado. Minha mente reproduzia aquele sonho tudo de novo, do começo ao fim analisando cada detalhe, e parando para pensar, parecia outra vez tão real; o cheiro da mata verde adentrando minhas narinas, o barulho do riacho ao fim da clareira, a temperatura quente do sol que batera sob minha pele, o sabor do morango entre meus lábios e os toques do rapaz misterioso que agora revelara seu nome, Beyron. Nome este que ainda martelava em minha cabeça pelo fato de não me ser desconhecido. Como aquilo era possível? Como poderia ser tão contínuo meus sonhos com uma pessoa que eu sequer nunca tenha visto antes? Meu cérebro lançava perguntas ao ar que até então pareciam não ter respostas plausíveis.
Suspirei pesadamente e decidi por voltar à realidade, em breve meus amigos iriam embora e eu gostaria de agradecê-los pela companhia com um belo café da manhã. Me virei novamente de frente à Lovan que roncava baixinho ao meu lado enquanto apoiava uma de suas mãos em minha cintura. Seu corpo muito próximo ao meu demonstrou que ele se manteve fiel alí a noite inteira, junto a parte macia e voluptuosa de seu membro coberto pelo moletom que tocava o meu quadril de forma inocente, afinal, ele estava dormindo em sono profundo e aquilo não fora feito de forma intencional. Tirei cuidadosamente sua mão pesada de cima de mim e assim o mesmo fiz com os cobertores.
Estava realmente muito frio como a repórter tinha anunciado e meu corpo tremia conforme eu me movimentava e rumava até o banheiro à fim de iniciar minha higiene matinal. Assim que passei pela porta de madeira, apenas a encostei para não fazer barulho e acendi a luz, parando defronte ao grande espelho que se pendia sobre a parede. Meus olhos correram por todo meu reflexo até pararem na altura do meu ombro direito na região do peitoral, onde jazia alí um pequeno desconforto. Era como se minha pele queimasse levemente na localidade da tatuagem. Mas Ignorei tal situação, já que isso sempre acontecia todas as manhãs, quase virando rotina. Escovei meus dentes, lavei meu rosto e coloquei uma toca em minha cabeça ao perceber que meus cabelos estavam rebeldes de mais para serem penteados e sai dali, voltando outra vez para o quarto.
(~)
一 Bom dia, moreninho!
一 Ei Lovan, bom dia. Dormiu bem? 一 desviei meus olhos da cafeteira em direção ao moreno que adentrara pela porta da cozinha, vestindo uma calça jeans larga na cor preta, um casaco verde da Adidas e um tênis comum, já pronto para ir embora.
一 Eu dormi bem, e você? 一 perguntou ao envolver suas mãos em minha cintura, pressionando meu quadril contra o dele ao desferir em meus lábios um beijo rápido, porém quente.
一 Hum... Eu também dormi bem. Mas e ai... Me mexi muito durante a noite? 一 perguntei assim que me afastei do beijo, colocando a xícara em cima do suporte prateado na parte inferior da cafeteira.
一 Não, quanto a se mexer durante a noite você está de parabéns. A única coisa que deixou a desejar foi você ter falando enquanto dormia 一 disse enquanto colocava a ultima fatia de presunto no meio do pão de forma que eu coloquei sobre a mesa, lambendo os dedos em seguida.
一 Eu falei de novo essa noite? E o que eu disse dessa vez?
一 Quem é Beyron? 一 interferiu ele minha pergunta curioso, lançando outra em minha direção, se sentando na cadeira numa posição que ficasse de frente à mim.
Eu não sabia exatamente o que responder quanto aquela questão, afinal... Nem eu sabia exatamente quem ele era.
一 Um velho amigo de infância que se mudou para PortAngeles quando eu tinha treze anos. 一 menti. Era melhor ter inventando uma desculpa a ter que explicar que Beyron era o amor platônico dos meus sonhos de todas as noites. 一 ele se mudou pra lá após sua mãe ter conseguido uma promoção no trabalho. 一 menti de novo pelo fato dele ter continuado a me encarar desconfiado, dessa vez desistindo de me investigar ao abocanhar o pão, eu suspirei aliviado, voltando a pegar a xícara de café na cafeteria.
一 Mas então, animado por saber que vai voltar pra grande metrópole? 一 questionei, bebericando o café.
一 Nem tanto. Gostei de estar aqui... A casa é maneira, tem vários lugares para passear... 一 deu de ombros 一 mas e você? Quando vai voltar pra casa?
一 Voltarei ainda essa semana, mesmo que eu não queira. Acho chato ficar muito tempo na casa dos senhores Johnson's, mesmo que eles não se importem. Sei lá.. Gastando água, luz... Me sinto desconfortável por isso.
一 Acho que eles não ligam muito pra isso mesmo, mas então... Vai conseguir aturar a pressão de seus pais quando voltar?
一 Não vou ficar na casa deles. Vou procurar um trabalho e com o dinheiro que receber alugarei uma kitnet. Não sou obrigado a aturar os desaforos da minha mãe, tampouco o machismo ridículo do meu pai.
一 Deve ser mesmo horrível, moreninho. Bom, eu posso dividir quarto com você se quiser. Moro em uma república e não tenho colega de quarto. Se quiser... 一 ofereceu ele.
一 Hum... Vou analisar sua proposta Lov.
一 Pense com carinho. 一 ele piscou, terminando de comer o pão que parecia pequeno demais para suas mãos.
Nesse instante, Elisa entrou na cozinha ainda de pijama e com a cara amassada e marcada do travesseiro, logo atrás dela veio Tyler, vestido com sua roupa e carregando as malas, também pronto para partir.
一 Bom dia Jay... Lovan?! 一 comprimentou Ty.
Eu sorri em sua direção enquanto Lovan retribua as condolências com um sinal de contingência.
一 O que você fez de bom, Jake? 一 perguntou a loira ainda sonolenta, revirando as coisas que estavam dispostas sobre a mesa.
一 Ah Elli, nada de mais... Fiz o que tinha ai e servi o restante das coisas que vocês trouxeram, acabou tudo. 一 respondi.
一 E como vai passar os dias aqui sem ter o que comer? 一 perguntou ela parecendo irritada com a situação, como se tudo tivesse acabado por única e exclusivamente culpa minha.
Mas não dei muita importância a isso, Elisa era o tipo de pessoa que acordava com cara e gestos de poucos amigos, eu já estava acostumado.
一 Quando vocês forem embora eu vou no mercado aqui da cidade e compro algumas besteiras, sem problemas. Eu não vou morrer de fome.
一 Sabe quantos minutos vai ter que andar só pra chegar na área asfaltada? 一 questionou ela.
Eu balancei os ombros.
一 Jake, é muito longe o mercado daqui, muito mesmo. Vai ficar a vida andando até chegar lá. 一 ela suspirou, coçando a cabeça enquanto fitava o chão. 一 quer ficar com o meu carro? 一 voltou a me observar.
一 E como vocês vão embora? 一 terminei de beber o café e coloquei a xícara em cima da pia.
一 Você nos leva e depois volta pra cá de novo, assim, quando for embora essa semana eu não vou precisar faltar na aula pra vir te buscar.
Pensei por um momento na sugestão.
一 Mas e você? Vai ficar andando a pé enquanto seu carro fica aqui comigo parado? 一 perguntei outra vez.
一 Ai Jake, você sabe muito bem que eu sempre ando com o Tyler e nunca saio com o meu carro. Pra ir a escola pego carona com o Ty e pra voltar meus pais me buscam. E ai?! Vai querer ou não?
Os garotos tinham ouvido a sugestão e ficaram parados esperando minha resposta, assim como Elisa
一 Eu particularmente acho que seria uma boa ideia. Seria bom você ter um carro para qualquer caso de situação de emergência. 一 Lov disse quebrando o silêncio e Tyler concordou com a cabeça enquanto devorava o pão de queijo.
一 Tá legal, eu fico! 一 suspirei, e todos os três me ignoraram ao sentar na mesa para irem tomar o café da manhã.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O portal ( EM REVISÃO)
AléatoireApós ter sido expulso de casa pelos seus pais ao descobrirem que ele era gay, Jake foi convidado a passar uma temporada na casa de veraneio de sua amiga, localizada e pouco afastada na pequena cidade de Westlake. Desde o primeiro dia na casa, o garo...