Cinco

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"I was young so I forgot
Which was my place and which was not
Thought I had a good shot
I took it right in my eye..."
- Twin Forks

N.a: este capítulo contém cenas explícitas de um acidente de trânsito. Haverá um aviso de gatilho mais a frente ‼️

O homem que estava à frente do trono era diferente e parecido com Caleb ao mesmo tempo. Ele não estava usando o sobretudo roxo das apresentações e seus olhos já não eram mais verdes, mas sim pretos. Seu rosto fazia parecer que ele era um lobisomem cuja transformação havia parado na cabeça. A pele de sua face era cinzenta e alguns pêlos saíam de debaixo de seu nariz, o qual era preto e comprido, mais parecendo um focinho de cachorro do que o nariz de uma pessoa. Seus caninos eram grandes e pontudos, assemelhando-se à presas.
Seu corpo, porém, não lembrava mais nada que não fosse o próprio corpo humano. Ele tinha braços e pernas musculosos e seu tronco estava coberto por uma espécie de armadura prateada, enquanto a parte debaixo de seu corpo era tampada por um manto bege amarrado como uma saia. Ele também usava sandálias de couro marrom e um tipo de colar dourado com pedras verdes encrustadas.
Willie pensou que estava delirando. Ele não podia acreditar no que estava vendo. Parecia que ele estava vivendo uma cena de Indiana Jones, mas ele não se sentia nem um pouco excitado ou confortável com isso. Ele sabia que, depois daquilo, a possibilidade de sobrar um resquício de sua alma era quase nula.
- Não vão dizer nada? - Caleb diz - É falta de educação não cumprimentar o seu anfitrião! - ele continua, com grandes doses de sarcasmo.
Ninguém disse uma palavra. O choque parecia ter paralisado as cordas vocais de todos. Um homem com cabeça de cachorro é a última coisa que alguém imagina ver, mesmo na vida após a morte.
- Muito bem, então! Que começe o pagamento! - ele continuou, com um sorriso sádico.
Ele começou a chamar as pessoas pelo nome completo e quanto mais a fila andava, mais nervoso Willie ficava. Ele estava vendo a porcaria do deus egípcio das múmias pegar pedaços da alma daquelas pessoas até não sobrar mais nada. Ele sabia que, provavelmente, aquele era seu último dia de existência e ficou pensamento se as pessoas que o conheceram, vivas e mortas, ainda se lembrariam dele. Começou a se lembrar de todos que amou e ainda ama.
Lembrou-se de Alex, seu sorriso fofo e sua sinceridade pura. O que ele não daria para abraçá-lo de novo e dizer tudo o que sentia por ele. Ainda dava pra ouvir aquela voz mansa dele, ecoando em sua cabeça. O coração de Willie parecia que ia se desfazer em pedaços casa vez que ele pensava nele.
Lembrou-se de sua mãe Elizabeth, o modo como ela ficava preocupada toda vez que ele saía de casa para andar de skate, com a expressão apreensiva; a maneira com que ela falava que estava tudo bem quando na verdade ela estava exausta dos plantões que dava no hospital e do fato de o pai das crianças não estar nem aí pra elas. Ele queria poder dizer a ela que ela é a pessoa mais forte do mundo e que ela não está sozinha.
Mas eu a deixei sozinha, ele lembra.
Ele queria ter sido um filho melhor.
Lembrou-se, por último, de sua irmã mais nova, Maeve. Eles tinham sete anos de diferença e, mesmo assim, eram melhores amigos. Ele a amava mais do que tudo. Ele se lembra do dia em que ela nasceu e da sensação de carregá-la no colo; lembra-se de quando ele começou a ensiná-la a andar de skate e que logo eles viraram parceiros de manobras; lembra-se do dia do acidente. Dos gritos da irmã.
E ele é transportado de volta para aquele dia.

•••

Los Angeles estava ensolarada e a brisa do mar aliviava o calor de trinta e quatro graus. As férias haviam começado há uma semana e, cansados de ficarem em casa, os irmãos Fox resolveram sair para andar de skate e treinar suas manobras. É claro que Willie mandou mensagem de texto para sua mãe avisando. Não queria que ela mandasse a polícia atrás deles.
O Oceano Pacífico estava lindo e agitado como de costume e havia vários surfistas pegando aquelas ondas enormes. Enquanto isso, na orla da praia, William e Maeve se equilibravam nos skates de mãos dadas. Ela estava usando um vestido verde claro e um par de All Stars cor de rosa, além de um capacete com desenhos de crocodilos verdes que era de Willie. Ele, por sua vez, usava seu capacete verde musgo e um cropped laranja com os escritos "Summer Culture" por cima da regata branca, a bermuda preta batendo um dedo acima dos joelhos.
Eles estavam muito felizes.
Willie tinha prometido à irmã que eles iriam a um parque recém-aberto na cidade e não muito longe de casa, onde havia uma enorme e espaçosa rampa de skate nova. Eles estavam muito ansiosos, pois não viam a hora de treinar manobras novas e de passar um tempo ao ar livre, aproveitando aquele clima gostoso de verão. Foi quando eles decidiram sair do passeio e andar na rua mesmo, porque a calçada estava muito cheia de gente e eles queriam chegar lá logo.
- Willie, tem certeza de que não é perigoso? - Maeve pergunta, preocupada - Os carros estão em alta velocidade! Acho que deveríamos voltar pro passeio.
- Já estamos quase lá, Mae! E outra, eu estou aqui como você, te segurando forte! - ele diz, apertando a mão da irmã - Vai ficar tudo bem, confia!
Ela sorriu para ele e os dois continuaram o caminho, desviando de alguns carros e se enfiando nos pequenos espaços entre eles. Em um dado momento, eles foram parar em uma esquina e quando foram virar, acabaram entrando no ponto cego do retrovisor de uma caminhonete vermelha.
É claro que o motorista não os viu.
Em questão de segundos, eles já estavam no chão.

[HIATUS/EM REVISÃO] SK8ER BOY || JATP 💜Onde histórias criam vida. Descubra agora