Capítulo 10

54 10 63
                                    

Ótimo. Já não gostava de ir à psicóloga uma vez por semana, agora tinha que ir duas vezes. Sua mãe insistia que seria o melhor para ela, que lhe faria bem. Mas Cecilia só queria desaparecer.

Seu aniversário de quinze anos havia quase passado em branco. A viagem programada para as Bahamas com alguns amigos mais íntimos havia sido cancelada como castigo pelo comportamento, junto com o aumento de suas sessões de terapia, e eles haviam cantado parabéns com um bolo em casa e sem convidados.

O castigo de Melanie já havia acabado, ou mal tinha sido posto em prática na realidade, e a garota estava sempre com tempo livre para fazer o que quisesse, enquanto Cecilia tivera a agenda completamente programada para ficar ocupada todas as tardes com aulas de francês, pilates e biologia avançada. Sentia-se exausta e solitária, sem poder sair de casa para nada além dos compromissos marcados pelos pais.

Edward desistira de tentar se comunicar com ela, permanecendo calado quando se viam à sós e deixando para Lynn todas as conversas sobre seu comportamento errático. Ele sequer fazia questão de lhe passar sermão como sempre parecera gostar de fazer.

Para piorar as coisas, era obrigada a passar uma hora brincando com Adam todos os dias para "reafirmar seus laços de fraternidade". Sessenta minutos inteiros com o irmão, um garoto tímido e fracote, completamente o oposto dela. Era tortura.

— E agora vamos fazer o quê? — perguntou Adam, com as bochechas rosadas após ter corrido dez voltas ao redor do jardim dos fundos.

Ceci suspirou e desviou o olhar do celular.

— Cinquenta polichinelos — disse ela.

— Mas eu não sei contar até cinquenta, você conta pra mim?

Ela revirou os olhos.

— Claro, eu te aviso quando der cinquenta. Vai, começa — incentivou Cecilia.

O garoto começou a pular e balançar os braços de maneira desajeitada, realizando a ordem que Ceci havia dado na "brincadeira" dos dois.

— Eu adoro brincar de O Mestre Mandou com você, Ceci — disse Adam, com um sorriso largo.

— Eu também — volveu Ceci, forçando um sorriso — Tenho certeza que da próxima vez você vai ganhar no cara ou coroa e será sua vez de ser o Mestre...

O garoto sorriu e Ceci voltou o olhar para o celular novamente, planejando deixar o irmão fazendo polichinelos até se cansar.

Ela trocava mensagens com Melanie enquanto acompanhava o grupo de conversa da sala. Não tinha muitas amizades naquela turma, mas gostava de saber do que falavam pois a maioria dos alunos da escola eram filhos de celebridades, como ela, ou donos de empresas multimilionárias.

O pedaço de uma conversa chamou-lhe atenção.

"O irmão da Mel".

A frase fez com que ela quase saltasse da grama.

— Já deu cinquenta? — perguntou Adam.

— Não! — disparou Ceci, com o foco completamente voltado para o celular, tentando rolar a conversa para cima e descobrir a pergunta que havia gerado aquela resposta enquanto mais e mais mensagens inundavam o grupo.

"Quem?" foi o que encontrou.

Ela revirou os olhos, passando rapidamente por mensagens sem sentido até achar "o babaca quase me deu um soco por causa dessas fotos".

Cecilia sentiu o ar escapando-lhe. Estavam falando das suas fotos? O furor da rave já havia se extinguindo há muito tempo, fotos haviam circulado e ela não aparecia em nenhuma. Por que alguém se importaria com aquilo tanto tempo depois?

Garota InconsequenteOnde histórias criam vida. Descubra agora