Era ela. Não havia rosto na imagem, mas Cecilia sabia que era ela. Na foto aparecia um torso seminu, o zíper de uma bermuda preta aberto, o ventre exposto, um seio coberto por uma mão masculina e o outro completamente à mostra. Do lado direito a ponta de uma trança ruiva aparecia sobre o ombro. O celular escorregou da sua mão e caiu no chão, trincando a tela.
Melanie parou de caminhar e se abaixou para pegar o celular da amiga.
— Já era — disse a garota, exibindo a tela completamente arruinada, notando naquele momento as lágrimas no rosto da outra — Por que está chorando?
Cecilia não havia se dado conta de que estava chorando. Imediatamente cobriu o rosto com as mãos e se virou para Melanie, que abraçou-a, escondendo-a dos demais alunos que caminhavam em direção à saída.
— O que foi?
— Sou eu... — sussurrou Ceci — Sou eu na foto.
Melanie tirou o celular do bolso de forma ágil. Não precisou procurar muito para encontrar o motivo do desespero de Ceci. Abriu a foto enviada no grupo de mensagens da classe um segundo atrás e reconheceu-a.
— Que merda! — praguejou— Não aparece o rosto, ninguém vai saber que é você — acrescentou rapidamente, fazendo parecer trivial.
— E se tiver uma versão com meu rosto por aí? — indagou Ceci aterrorizada — E se for parar numa revista?
— Você tem que falar com seus pais, eles têm como pagar para a foto não ser publicada!
A ideia de Melanie parecia ótima na teoria, mas Ceci sabia que na vida real as coisas não seriam tão simples. O pai talvez finalmente lhe desse aquela surra que vinha antecipando desde que fizera treze anos. A mãe... ficaria decepcionada. Depois de tanta liberdade, confiança e ensinamentos, fora extremamente idiota ter ido naquela rave e se drogado, deixado fotografar nua e ter quase perdido a virgindade com o irmão da amiga, provavelmente sem qualquer proteção.
Sua cabeça começou a trabalhar à mil por hora, mas, de início, a única coisa que poderia fazer era negar que era ela naquela maldita foto. Haviam muitas outras ruivas pela escola, as chances de ser associada àquela imagem eram pequenas e, se sua face jamais fosse publicada, ela negaria até a morte.
Ela abaixou o rosto e os cabelos escorreram para frente, vermelhos e brilhantes à luz do sol. Cabisbaixa, Ceci correu para dentro com Melanie em seu encalço. Depois de um breve momento no banheiro feminino para se acalmar, ela apareceu com uma expressão neutra nos corredores, caminhando como se nada diferente houvesse acontecido.
Enquanto a loira lançava olhares preocupados para todos os lados, Cecilia fez questão de parecer inabalada. Ela não tinha por que aparentar preocupação ou vergonha se aquela foto não era dela. Bastava fingir que estava tudo bem e logo tudo ficaria bem. Assim ela havia aprendido.
— Vamos sentar no fundo hoje — disse ela, e Melanie entendeu que o rosto inexpressivo era apenas uma fachada.
— Tudo bem.
As duas se sentaram e Melanie devolveu o celular trincado para Ceci, que rapidamente enfiou o aparelho dentro da mochila e retirou um caderno espiralado e uma caneta simples de tinta azul.
O professor de química entrou marchando na sala e iniciou seu sermão sem sequer dar bom dia aos alunos, que igualmente não fizeram qualquer questão em dar atenção ao que ocorria na frente do quadro. Pequenos cochichos flutuavam aqui e ali. Sons de celulares vibrando discretamente ecoavam pelo local e Cecilia apertou a caneta com força, escrevendo anotações sem muito sentido enquanto sua mente alerta focava nas conversas ao redor. Estavam falando sobre a foto, claro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Garota Inconsequente
Novela JuvenilLEIA A SINOPSE APÓS O AVISO: Se você estiver lendo esta história em qualquer outra plataforma que não seja o Wattpad, provavelmente está correndo o risco de sofrer um ataque virtual (malware e vírus). Se você deseja ler esta história em seu formulár...