— Vamos, filha — chamou Lynn ao pé da escada.
Cecilia agarrou o corrimão que adornava a balaustrada em pedra polida, sentindo o toque frio do material. Respirou fundo. Estava tudo bem. Eles haviam sido expulsos. Ninguém lembrava mais do que havia acontecido. As férias de inverno haviam sido longas o suficiente para que o colégio inteiro se esquecesse que ela sequer existiu. Estava tudo bem.
— Ceci, vamos perder o horário.
A garota assentiu com a cabeça e desceu os degraus com pouca firmeza nas pernas. Queria sair correndo. Mas estava tudo bem. Ela respirou fundo novamente.
O carro parado na garagem parecia maior do que antes. E se a foto reaparecesse nas conversas do grupo da sala? Ela não fazia mais parte de nenhum deles. E se seu rosto aparecesse dessa vez? Ela puxou o elástico que adornava seu pulso e deixou a borracha estalar em sua pele antes de entrar no carro. Estava tudo bem. Não havia nenhuma foto.
Os corredores pareciam enormes. Era impressão sua ou haviam mais alunos esse semestre? Ela puxou o elástico novamente e sentiu a ardência no pulso afastar o pensamento por um breve momento. Ela respirou fundo.
Um grupo de adolescentes ficou em silêncio quando ela passou por eles. Ficou mais difícil de respirar. Queria sair correndo. Se atravessasse o corredor, poderia sair pelos fundos do prédio e pular o muro. Poderia pegar um ônibus e ir para a casa de Igor. Não, Igor estava fora e ela havia deixado a cópia da chave do apartamento dele em casa.
A porta da sala 105 estava fechada, mas as luzes estavam acesas e os alunos conversavam e riam do lado de dentro. Ela esticou o braço e colocou a mão sobre a maçaneta. Seu olhar instintivamente se ergueu para olhar o topo da porta.
— Vai entrar ou vai ficar aí parada? — uma voz soou atrás dela.
Cecilia quase desfaleceu. Três garotos se aglomeraram às suas costas. Os pelos da nuca se arrepiavam. Uma sensação de desconforto brotava em sua espinha, como se algo terrível estivesse acontecendo atrás de si. Ela respirou fundo. Estava tudo bem. Girou a maçaneta e empurrou a porta com o pé antes de entrar.
Os três garotos riram atrás dela. Os alunos dentro da sala se sobressaltaram quando a porta fez o movimento de balanço nas dobradiças com força exagerada e bateu na parede causando um estrondo. Cecilia arregalou os olhos. Os garotos se adiantaram e forçaram passagem na frente dela enquanto ela tentava respirar aquele ar denso e pegajoso, que fazia seus pulmões arderem por dentro.
Mais risadas. Mais olhares. Cecilia se esforçou para não fechar os olhos e sair correndo. Entrou na sala como se cruzasse um portal para outra dimensão. Os mesmos rostos de sempre. A mesma turminha cruel. Fechou a porta atrás de si, cerrando o portal para o mundo real. Dentro da sala estava presa. Os alunos respiravam e se moviam como um grande monstro. Como criaturas amorfas de desenhos japoneses. Como um filme de terror. Ela deixou o elástico atingir seu pulso uma, duas, três, quantas vezes fosse necessário até que seu coração se acalmasse. Mas depois que se sentou percebeu um filete de sangue no pulso vermelho, e nada de calma em seu coração. Ela esticou o elástico ainda mais. Aquilo não estava ajudando em nada, mas não conseguia parar.
— Que barulho é esse? — alguém perguntou.
Os dedos dela congelaram, segurando o elástico no ar. Lentamente ela abaixou as mãos, apertando-as com as coxas como se fosse quase impossível manter-se quieta. Seu olhar manteve-se fixo no quadro negro. As palavras do professor rodopiavam em sua mente, sem sentido. O que ele havia dito? Estava falando dela?
Um zumbido invadiu seus ouvidos e todos os sons pareciam atravessar mil paredes antes de chegarem até ela. O caderno estava aberto à sua frente. As folhas em branco. Onde estava Mel? Por que não estava ali com ela?
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Fiksi RemajaLEIA A SINOPSE APÓS O AVISO: Se você estiver lendo esta história em qualquer outra plataforma que não seja o Wattpad, provavelmente está correndo o risco de sofrer um ataque virtual (malware e vírus). Se você deseja ler esta história em seu formulár...