Primeiras impressões.

107 14 198
                                    

Lorelay

*Brasileiro? Será que as pessoas acham mesmo que essa língua se quer existe? Aliás... Aron já deve ter aberto o bico.*

Peço qualquer coisa na cantina, a comida daqui ou só tem batata ou não tem gosto algum, pelo menos no Brasil eles conhecem sal. A única coisa que me salva é o suco de pêssego, meu preferido. Costumo tomar também de goiaba e manga, mas obviamente eles não tem isso aqui.

— Hm... é seu primeiro dia aqui e já conhece o quarteto fantástico? Muito bom pra uma novata. — Alguém interrompe meu almoço sentado à minha frente.

Encaro o ser sem entender o porquê da conversa repentina.

— Meu nome é Susi e você? — Ela sorri.

— Lorelay. — Coloco outra garfada de comida na boca.

— Você não é muito de conversar, né? Não quer conhecer sua veterana?

— Com licença, mas eu já terminei de comer. Até depois. — abaixo a cabeça levemente como cumprimento antes de sair.

Deixo o prato no lugar onde todos estavam deixando e procuro um lugar silencioso e escondido pra descansar. Subo as escadas na esperança de encontrar um piso vazio. Elas param numa porta e assim que a abro percebo ser o terraço, um ótimo lugar pra tirar um cochilo. Coloco a mochila na cabeça e deito numa sombra em algum canto onde o sol foi bloqueado por mais um pedaço de construção.

*Nunca vou entender porque as pessoas constroem algo em cima do lugar onde literalmente a construção termina. Tipo, é o "telhado"? Não deveria ser o fim?*

Mando embora esses pensamentos aleatórios tentando me concentrar em aproveitar o tempo que tenho para dormir um pouco mais.

Alguns minutos depois o sinal toca avisando que é hora da aula de línguas. Eu desço as escadas ainda sonolenta e por algum milagre divino eu não tropeço ou caio enquanto ando alguns segundos aqui, outros ali com os olhos entreabertos lutando pra mandar o sono embora.

Quando finalmente volto a meus sentidos e me percebo já no andar inferior paro em frente a algumas salas, percebo que não há distinção de idade, alunos mais velhos e mais novos estão entrando na mesma sala.

*Por que não tem separação das classes?*

— Hoje é a prova de nivelamento. — A voz vem de trás de mim.

É a mesma veterana do almoço, apenas aceno com a cabeça em afirmação.

— Eu não gosto muito da sua atitude... — ela diz e me viro pra ela e olho bem em seus olhos. — Nem do seu olhar... Por que parece que você está sempre pronta para desafiar alguém?

— Eu só não tenho medo de ninguém. — Dou de ombros e me viro pra entrar em uma das salas.

Sento na antepenúltima carteira da última fila, me debruço sobre a mesa e fico olhando pela janela.

— E aí Lorelay? — Alguém chuta minha mesa de leve.

*Ai não é possível que esse tonto veio me irritar até aqui*

Apenas continuo olhando a janela.

— Eu falei com você! — Tom aumenta um pouco o volume.

Levanto lentamente da minha posição e olho para a pessoa que está à minha frente com preguiça, mas não pronuncio nada.

— Que foi? Esqueceu como se fala alemão?

— Não.

— E por que não respondeu? — sua voz é ambígua, não sei dizer se é realmente uma dúvida ou uma provocação.

O fim não menteOnde histórias criam vida. Descubra agora