Capítulo cinco: humanos.

5 2 0
                                    

Felícia, dia A2 do ano AIC, 15:00 da tarde.

Uau. Simplesmente uau. Esse banheiro é tipo... Um sonho. Cabem umas três casas aqui, caramba. O teto tem pinturas muito lindas, mas bem egocêntricas, pois nelas tem o nosso “queridíssimo” príncipe, um cara grandão e barbudo de cor branca, e ainda aquelas duas mulheres que tentaram me pegar. Na pintura eles estão no céu e com várias flores ao redor de todos. Brega, mas muito bonito. Até eu queria uma pintura minha se fosse assim.
As paredes daqui são de cor bege e possuem detalhes dourados que fazem curvas enroladas. Os cantos das paredes têm umas flores lindas de doer, dá até vontade de pegar uma pra mim. O chão é tão limpo que consigo ver meu reflexo (caramba, estou destruída). Tem 3 banheiras gigantescas brancas e 2 chuveiros (essa galera curte tomar banho junto?). A pia, então? É do tamanho da cozinha de casa. Minha nossa... Incrí-

-Vai demorar muito? -O Esdras interrompe o meu momento de admiração com sua voz chata.

Me viro em sua direção e percebo que ele está parado na porta me olhando.

-Vai não.

Mantenho contato visual com ele, esperando-o ter o bom senso de sair. Mas ele só fica lá, parado. Eu daria um soco nesse imbecil se ele sentisse dor.

-Vai sair não, desgraça? -Pergunto, estressada.

-Com qual objetivo?

Percebo que o idiota está realmente confuso. Bom, pelo que tô vendo esse pessoal, além de narcisista, é tarado.  

-Hugh. Ah, preciso de roupas, vai buscar, por favor. -Ordeno.

-Tudo bem.

Enquanto ele não volta, eu continuo a admirar o banheiro. Ando em direção a um espelho, que está a alguns passos e à minha esquerda. Me viro e observo meu reflexo. Realmente... Estou totalmente... Destruída. Seguro o choro, não estou a fim de surtar agora. Não com a possibilidade daquele chato me ver.
Depois de alguns minutos, Esdras volta com uma blusa branca de mangas longas, uma calça de cor azul marinho e duas peças íntimas. Ele se aproxima olhando para o chão, e então, quando levanta a cabeça pra mim, se assusta e se afasta pra trás.

-Por que você está com os olhos avermelhados? -Questiona, confuso e preocupado.

-Nada não. -Me aproximo e pego as vestimentas rapidamente. -Obrigada pelas roupas. -Sorrio pra ele, mas não sinceramente.

Vou em direção à banheira, porém percebo que ele não saiu.

-Eu quero ficar sozinha. -Digo, cética.

Esdras diz que sim com a cabeça e leva os passos até a porta. Passando por ela, ele faz um gesto com uma das mãos, que faz com que ela feche. Sinceramente, eu nem me admiro mais.  
Retiro as minhas roupas sujas e as jogo no chão. As limpas, deixo em cima da imensa pia. Encho a banheira com água e entro lentamente. Fecho meus olhos... E começo a chorar. É inevitável, tudo isso está me deixando completamente perturbada. Como diabos eu vim parar aqui? Por que eu? Quero voltar pra casa, ver meus amigos, minha família. Como será que eles estão? Devem estar preocupados.
Começo a soluçar e meu choro fica mais alto. Parece que não sou tão corajosa como mostro pros outros. Só preciso... sumir daqui. Quero que tudo volte a ser como era ontem. Estou presa nesse inferno desde a madrugada, e essas horas parecem anos pra mim. Ainda não processei essa história de “príncipe” e as outras infinitas coisas que presenciei hoje. Preciso dos que amo, preciso. Eu faria de tudo para abraçá-los agora, faria de tudo para que me fizessem esquecer por um momento de tudo que está me atormentando. E por eles, eu vou aceitar ser estudada, ser usada. Preciso voltar pra casa, e se esse for o único jeito... Não hesitarei em fazer. 
Depois do banho, me visto e arrumo meu cabelo molhado. E claro, pego uma das flores para colocar em minha orelha. 

Meu nome é Felícia (lembre-se).Onde histórias criam vida. Descubra agora