Meu nome é Felícia (lembre-se).

Capítulo seis: novo mundo.

Esdras, dia A2 do ano AIC, 16:00 da tarde.

-Fascinante... -Me admiro com o fato que acaba de ser mencionado.

Apesar de estar fascinado com tudo que estou aprendendo, todos os ensinamentos que desenvolvi durante anos foram completamente desmentidos em questão de minutos. Minha raiva cresce cada vez mais, porém não posso perder o controle novamente. A primeira vez foi assustadora o suficiente, não preciso de uma segunda.

-O que significa “machucar”?

Felícia olha para os lados, procurando a melhor forma de responder.

-Existem dois significados pra essa palavra. O primeiro é quando fazemos outra pessoa se sentir mal, sentir tristeza... Ah, mas você não sabe o que é tristeza. -Ela contrai os lábios. -Vamos dizer raiva, então. Você sabe o que é raiva, né? Já te vi furioso antes.

-Sim.

-Quando fazemos alguém sentir raiva, então dizemos que machucamos essa pessoa.
Anoto tudo que ela diz.

-Já o segundo... Deixa eu ver...
Ela observa as borboletas que a rodeiam. Mencionando isto, ainda não pude encontrar uma explicação para tal acontecimento.

-Imagine que você está com muita raiva. Raiva nos faz mal, certo? Não é muito legal. -Ela diz.

-Certo.

-O outro sentido de machucar é como se fosse um sentimento ruim, só que projetado de maneira física. É como se sentíssemos algo insuportável, mas no nosso corpo. Foi isso que aconteceu com meu joelho, eu tropecei e caí no chão, aí me machuquei.
O ato de ser machucado aparenta ser horrível. Sinto uma pontada estranha no peito.

-Eu não quero que você se machuque.
...
Mas por que eu diria tal absurdo?
Eu não sou assim, não preciso ter empatia por uma humana. Eu não me reconheço, francamente.

-Nossa, obrigada por fazer o mínimo. -Ela retruca, de maneira debochada.
Mas ainda posso observar um leve sorriso em seu rosto rosado.
Ela passa uma das mãos por seu cabelo úmido, e logo posso observar o que não havia notado anteriormente: Felícia colocou uma flor em sua orelha. Ficou bonito.
...
Preciso de concentração imediatamente. Ainda tenho muitos questionamentos.

-Por que sai água dos seus olhos em determinadas circunstâncias?

-Isso se chama chorar. Quando estou triste, choro. Ou quando estou com medo e desesperada. Ah, e também quando me machucam. Tanto fisicamente quanto emocionalmente. A gente chora porque a dor é grande demais pra ser guardada dentro de nós. -As frases saem de sua boca com um tom de voz leve, todavia desanimado.

Eu... Argh, eu não quero que ela chore. A quem quero enganar? A mim mesmo? Não fazem nem 24 horas e eu já sinto empatia pela coisa. Pela Felícia. Infelizmente, não será possível retrair esse sentimento.

-Eu preciso comer, Esdras. -Sua fala faz-me sair de meus devaneios repentinos.

-Claro. Porém, não sei onde encontrar “comida”.

-Mais cedo você chamou as maçãs de frutos enfeitadores, tem mais alguma coisa assim que vocês, idiotas, usam pra enfeitar?
Antes que eu possa responder, ela me interrompe.

-Nossa, se os humanos soubessem que vocês usam alimento como enfeite, já era. -Ela faz uma expressão esquisita, não sei como descrevê-la.

-Respondendo a sua pergunta, temos uma feira na cidade onde se vendem inúmeras decorações. Existe a possibilidade de haver a sua comida.
Ela sorri largamente.