Capítulo oito: vai ficar tudo bem.

11 3 0
                                    

Esdras, dia A10 do ano AIC, 1 semana depois.

-Você é muito idiota. -Gargalho com a piada que Felícia me conta.

-Cara, sério. O seu mundo pode ser incrível, mas não tem música nem cachorros? Prefiro mil vezes a minha casinha simples com minhas músicas e meus bichinhos. -Ela diz, com as bochechas vermelhas por conta do sol. Sua pele, por ser clara, é mais sensível aos raios solares, aprendi isso com ela.

-Falando em música... poderias cantar para mim?

-Depende. -Ela dá um sorriso malicioso.

Coloco as mãos no rosto e rio por saber o que ela irá me pedir.

-É isso mesmo que você está pensando...

Me levanto e começo a imitar uma “dança” humana que Felícia me ensinou. Eu nunca havia ouvido falar nesse termo, todavia foi uma das melhores decisões que pude fazer quando aceitei aprender seu significado. Durante esses sete dias, pude absorver milhares de informações sobre seres humanos, tanto biologicamente, quanto culturalmente. Felícia é uma mulher extremamente inteligente, arrependo-me de tê-la subestimado tanto.

-HAHAHAHA! -Ela ri, afastando seu corpo para trás e batendo palmas.

Estamos numa parte espaçosa do jardim. A humana utiliza um lindo vestido amarelo que a mesma customizou utilizando algumas tintas. Ela fez pequenos desenhos de flores em toda a vestimenta, deixando-a com sua essência criativa e divertida. Enquanto ela está sentada, rindo da minha dança, estou apreciando seu lindo sorriso.

-Tudo bem, tudo bem. Ah! -Ela pula de excitação. -Preciso te ensinar outro tipo de dança. 

A moça levanta-se e aproxima-se, ficando frente a frente comigo. Em seguida, ela pega as minhas mãos e as coloca em sua cintura; então passa seus braços em volta do meu pescoço. Ela cola nossos corpos, e, de repente, sinto uma tensão. Mas não é uma tensão ruim. Não consigo transformar este sentimento em palavras.

-Preciso que você mentalize aquela música calma que cantei aquele dia. -
Ela sorri levemente, e não consigo desviar meus olhos dos seus e de sua boca, por alguma razão que desconheço.

Como solicitado, é isto que faço. Lembro-me com clareza de sua voz invadindo meus ouvidos de maneira carinhosa, deixando marcas inesquecíveis em minha memória. Começamos a fazer movimentos tão leves quanto voar. De um lado para o outro, num ritmo inexplicavelmente satisfatório.
Nossos rostos estão próximos, e agora eu não sou o único a encarar a boca de alguém aqui... Será que iremos fazer aquilo que Felícia mencionou quando estávamos falando sobre cultura? Iremos nos beijar? 

-Sim, Esdras. -Ela diz, como se ouvisse meus pensamentos.

Nossos narizes se tocam, então inclino meu rosto para um lado e fecho os olhos. Nos beijamos. A sensação era desconhecida até o momento, todavia sinto-me em paz. Sinto-me... cativado, desejado, abrigado. O que ela está fazendo comigo? Como conseguiu me presentear com experiências tão únicas e inesquecíveis? Talvez eu esteja errado em permitir que ela me afete. Todavia, nesse momento, estou gostando de estar errado.
Nos afastamos e ambos sorrimos. Eu nunca senti algo assim em toda a minha vida. Estar com ela me deixa... feliz. Mas felicidade é uma emoção humana, então não sei como decifrar o que está havendo. Quando estou ao seu lado, esqueço dos problemas do reino, dos relatórios que precisam ser preenchidos, do meu pai se recusando a ouvir minhas explicações sobre a raça humana, e do fato de que...
Estou perdendo meus poderes.
Isso é o que mais me perturba, o que mais me atormenta. O fato de eu não encontrar uma solução para tal problema faz com que eu sinta medo. Muito medo.
Mas a Felícia me faz esquecer.

Meu nome é Felícia (lembre-se).Onde histórias criam vida. Descubra agora