doze

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- vovó?

Cheguei na sala, vendo minha avó assustada com o pessoal da corte noturna. Ela nunca gostou desse lugar. Era o maior pavor dela.

Assim que a velhinha me viu, ela soltou o ar e veio até mim, me abraçando forte. Tentei não reclamar de dor, pra não assusta-la ainda mais.

- achei que nunca mais veria você! - ela voltou a me abraçar, mais forte que de início - fiquei tão apavorada, Allysah... Quase não dormia.

Vovó finalmente se afastou e me olhou de cima a baixo, ficando emocionada. Segurou meu rosto nas mãos e alisou minhas bochechas.

- vamos embora daqui. Você não faz ideia de como essa gente é ruim. Eles me capturaram e...

- vovó... Acho melhor a senhora se acalmar agora. Temos muito o que conversar.

Ela me olhou um pouco surpresa.

- conversar? Olha só onde a gente tá!vamos sair logo daqui.

- se acalme. Posso explicar tudo.

Segurei na mão dela, tentando reconquistar sua confiança.

- está com sede? Fome? - perguntei preocupada - posso providenciar um quarto se quiser descansar.

- não, não - ela negou rapidamente - to bem.

- tem certeza? Posso providenciar tudo...

- fale logo o que tem pra falar. Já não aguento mais esse confusão toda.

Resolvi não discutir e assenti.

Me virei pra Azriel e o resto do pessoal que nos assistia.

- vamos conversar lá fora - ela pediu olhando feio pra todos.

Feyre mandou um gesto me incentivando a obedecer a senhorinha.

- tudo bem.

Passei meu braço pelos ombros dela e a guiei pra fora, ficando no jardim bem arejado e extenso. Estava bem de noite, quase um breu se não fosse pelas milhares de estrelas e constelações acima da gente.

Vovó se afastou do meu toque e cruzou os braços, pronta pra ouvir.

- me explique o que tá acontecendo.

Engoli seco e juntei meus braços do lado do corpo, endireitando a postura.

- uns dias atrás descobri que tinha um parceiro. Não te falei nada porque nem eu mesma acreditava nisso - fiz uma pausa - mas ai, ele ficava me chamando na floresta. Acabei quebrando as regras de Tamlin duas vezes, não tendo escolha a não ser vir com ele...

- espera. Ele quem? Ele é dessa corte?!

Assenti, já pronta pra receber um sermão.

- o nome dele é Azriel. É espião da corte...

- perdeu o juízo? - ela arregalou os olhos e chegou bem perto de mim - essa laia não é boa de se envolver, Allysah! E você tá morando aqui?!

- ou era isso ou iria ficar presa na corte de Tamlin pro resto da vida - disse - e eles são boas pessoas, vovó. Tamlin que espalhou essa ideia de vilões. Confia em mim.

Ela suspirou, tentando recuperar o ar diante de tanta informação.

- e nós podemos viver aqui. Em velaris.

- onde foi parar a noção dessa menina.... - minha vó tentava recuperar o ar.

- não posso voltar pra lá. Mas você pode vir morar aqui comigo. Podemos alugar um lugar em Velaris, vovó. Um lugar bem melhor do que aquele buraco que a gente morava.

- e quem me garante que isso não é um plano pra eles nos matarem, hein? Já pensou nisso?

- eles não vão nos matar. Tamlin que vai, se me ver por lá de novo!

Ela teve que se sentar num banco que tinha ali e respirar fundo, com a mão no peito. Fui até ela e juntei suas mãos nas minhas.

- confia em mim vovó. Eles são bons. Podemos ter uma vida melhor aqui. Uma vida de verdade!

- Allysah...

- amanhã podemos ir ver uma casa. Se não quiser morar comigo, podemos alugar uma só pra senhora. Aqui também tem várias oficinas pra trabalhar. Você iria amar.

Ela me olhou desconfiada.

- por favor... - pedi - não posso deixar que volte pra lá...

A velhinha ficou em um silêncio cortante, ainda digerindo tudo de vez.

- ao menos pense com mais calma depois. Aqui poderemos ser felizes de verdade. A mamãe iria querer que fizéssemos isso.

- não fale sua mãe assim.

Bufei e afastei os pensamentos turbulentos que começaram me invadir. Me levantei e ofereci o braço.

- é o mais certo a se fazer, vovó. Você verá.

***
Depois de insistir pra que ela dormisse aqui, vovó preferiu ficar numa pensão em velaris do que dormir sob o mesmo teto que os illyrianos.

Já era de madrugada quando voltei pra corte, depois de acompanhar minha avó por velaris. Entrei no quarto, encontrando Az dormindo.

Fechei a porta lentamente sentindo meu corpo pesado e meus músculos latejando de dor. Tirei meus couros e vesti minha camisola, indo pra cama grunhindo de dor.

Az acordou assim que eu deitei ao seu lado.

- deu certo?

- não sei. Ela é bem teimosa... - disse meio fraca, tentando ficar confortável na cama.

Az acabou percebendo meu estado e tentou me ajudar abrindo mais espaço pra mim, não adiantando muito.

Bufei de cansaço e me virei de costas pra ele.

- pode voltar a dormir, Az. Vou ficar melhor quando acordar.

- vai continuar dolorida. Já passei por isso também.

Revirei os olhos, tentando me aconchegar no colchão.

Ele puxou o ar pra acordar e se levantou, indo até suas coisas e tirando um pote pequeno dali. Voltou pra cama, se sentando dessa vez.

- o bálsamo vai aliviar bastante.

- posso passar amanhã... Não quero atrapalhar seu sono.

Ele dispensou minha desculpas e se ajeitou pra começar. Vendo que não teria como fazer ele dormir de novo, acabei aceitando a ajuda.

Tirei a camisola, ficando só de lingerie pra facilitar. Deitei de bruços e fechei os olhos, sentindo meus ossos pesarem no colchão.

Tinha sido uma péssima ideia caminhar por velaris depois de um treino daqueles.

Não demorou muito pra sentir as mãos de Az deslizarem sobre minhas costas com o bálsamo, fazendo uma espécie de milagre nas regiões doloridas. Azriel também aproveitava pra fazer massagem no local, me fazendo sentir no paraíso. Arfei, sentindo o bálsamo fazer efeito, agradecendo a Mãe por essa dádiva dos deuses.

Continuei de olhos fechados, só aproveitando a sensação de seus dedos deslizando por mim. Senti meus olhos ficaram mais pesados e minha respiração mais pausada a casa minuto que se passava.

E sem perceber, acabei dormindo sob os cuidados de Azriel.

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⏰ Última atualização: Nov 19, 2020 ⏰

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