39 - Brecha

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Quanto mais tempo passava, mais brechas se abriam na armadura de Moñai. Isso era preocupante para o monstro, já para Kenel e Boitatá era vantajoso. O novo guerreiro, que era composto pela dupla, seguia voraz em seus ataques, demonstrando que o conhecimento e a técnica de Kenel em sincronia com a experiência e poder de Boitatá eram uma arma poderosa demais. Então Moñai junta seus braços para se defender de um longo chute, que criou um caminho para uma torrente de chamas, afastando os lutadores.

— Vocês demonstram que devemos prestar mais atenção ao escolher um receptáculo. O meu era um menino cruel, realmente parecia uma serpente, porém era frágil e asmático. Acho que vou te espancar e tomar o seu corpo ao expulsar Boitatá dele.

— Boitatá, isso que ele falou é possível?

— Sim, Kenel. É possível um deus expulsar outro, entretanto, isso não é fácil de fazer, tome cuidado com as suas ações e acima de tudo, não o deixe atrapalhar a nossa conexão, não o deixe plantar dúvidas em você sobre mim.

— Nem ao menos precisa tentar, não vai ter tempo para isso.

Foi uma resposta curta e grossa, tão direta quanto o golpe que ele havia preparado. Com sua lâmina em mãos o menino avança, uma única passada foi dada, e o espaço entre eles sumiu deixando apenas a espada flamejante de Kenel cravada no braço de Moñai. Foi uma ação tão rápida e precisa que o monstro mal teve tempo de se defender. Era verdade que Boitatá era um deus defensor e que não priorizava a violência, entretanto quando era preciso, ele sabia exatamente onde bater e o olhar criterioso de Kenel ajudava muito nisso.

O inesperado era que nesse instante o sangue de Moñai cai sobre o braço de Kenel, ele deveria ter evaporado com o calor da espada, mas isso não aconteceu. Assim, que o sangue caiu nele, o corpo da aberração ficou inerte no chão, enquanto isso da sua cabeça veio a voz.

— Boitatá disse para você ser cuidadoso menino, e isso não me pareceu inteligente de se fazer.

Moñai havia possuído o meu corpo, um pacto de sangue havia acontecido ali. A escuridão veio, meus olhos se fecharam, e eu senti a dor nas minhas costas antes de perder a consciência. Minha mente era uma turbulência só, várias cenas que eu não entendia passavam por ela, via duas serpentes se enroscando e lutando entre si, uma bege esverdeada semelhante a uma campina, a outra, negra azulada, entre suas escamas era possível ver uma claridade como se seu interior fosse puro fogo azul, em sua cabeça havia um cocar como plumas de fogo também. As duas se arremessavam para os lados se chocando contra uma espécie de barreira invisível. Os dois seguiam trocando golpes ferozes como mordidas, chicotadas e choques de cabeça.

Não conseguia saber quem estava tendo a vantagem e quem estava perdendo, até que com muita concentração apareci no lugar com minha pequena espada diante daqueles monstros de 10 metros cada. Corri em direção a eles, busquei golpear a base da serpente Moñai e vendo que não havia causado grandes danos, sigo correndo e subindo pelo corpo da grande cobra de fogo, que era Boitatá, e então saltei em direção à cabeça da sua oponente lhe acertando e descendo pelo seu corpo enquanto a cortava de cima para baixo, o que me libertou desse transe. Quando abri os olhos, vi o corpo magro à minha frente se levantar devagar como eu, e ouvi em minha mente.

— Você apareceu na hora certa e foi uma ótima escolha, como sabia qual serpente atacar?

— Você pediu para eu confiar em você, e bem, ele não solta ou controla fogo. Isso ajudou muito na escolha.

— Aparentemente, sua ligação está bem maior do que imaginei, parece que você nasceu para cumprir esse papel garoto. Uma pena, já que tem que morrer aqui.

— Para um oponente de sangue frio você é muito tagarela, vamos ao que importa.

(Sangue frio? Sério? Você tá falando de um réptil... Sangue frio? Leitores, eu descobri o motivo da atração da Kanuri pelo Kenel... Que comentário estúpido.)

Os segredos de Kanuri, a guerreira Tupi.Onde histórias criam vida. Descubra agora