Prologo

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Observo minha mãe chorando, aparentemente meu pai tinha desaparecido, mas não por um acidente, e sim vontade própria, foi ele  porque quis largar eu e minha mãe sozinhas pra viver Deus sabe onde, ele e ela sempre brigavam, e sempre por causa de dinheiro, meu pai era ambicioso e minha mãe era romântica, mesmo assim foi uma surpresa quando ele foi embora e nunca mais voltou.

Lembro que minha mãe chorou a noite toda e depois o xingou a outra noite toda, ela amava meu pai, mas ele não parecia amar ela, e  a abandonou e isso se estende à mim, ele nunca me quis de fato e nunca me amou apesar de achar que todo pai deve amar seu filho, não é um dever ? Ou deveria ser, no entanto não era o meu caso, e provavelmente não era o caso de muitas crianças no meu bairro atual.

Claro que minha mãe se virou ou tentou sendo mãe solteira e sem ninguém de confiança ou um lugar seguro pra me deixar ela me levava nos seus trabalhos e fui crescendo ajudando ela, que  nunca teve uma saúde boa e o stress e trabalho excessivo fez tudo piorar, eu via ela se deteriorando a cada ano e ao mesmo tempo lutando para cuidar de mim, no entanto quando estava na pré- adolescência tomei rédeas da situação aos exatos 14 anos, ainda estudava ou tentava, arrumei um trabalho de meio período em uma lojinha, tentava conciliar os trabalhos extras com a escola e consegui, pelo menos  minha mãe pode sair de um dos seus empregos, eu achei que sua saúde ia melhorar mas não melhorou. O tempo passou e mesmo com muito esforço não conseguimos manter o padrão de vida de antes.

Quando boa parte dos estudantes estavam comemorando a formatura ou tirando a carteira aos 16 ou 17 anos, eu estava sendo despejada, acontece que meu pai, tinha levado tudo e deixou minha mãe e eu na miséria, mesmo nos duas tentando muito não demos  conta da hipoteca e tivemos a casa tomada pelo banco, o pouco dinheiro que tínhamos juntamos e compramos um trailer que virou nosso lar na época achamos que seria provisório, pelo menos era isso que esperávamos, mesmo com as dificuldades eu mandei cartas e fui aceita nas faculdades meu sonho era fazer medicina em uma boa faculdade, eu tinha conseguido uma bolsa e um belo desconto, mas tinha que me mudar, no entanto esse plano foi para o lixo, quando a doença da minha mãe piorou, ao ponto dela não conseguir se lembrar de coisas simples e eu tive que cuidar dela, então fiquei na cidadezinha onde morava,  fazendo medicina como bolsista na universidade local que não era nem de longe prestigiada ou boa de fato, mas se mostrou útil para cuidar da minha mãe.

Quando a época do estágio chegou implorei para ir para o  asilo, onde me esforcei e acabei trabalhando no lugar o que me ajudou bastante porque minha mãe podia ficar lá, receber tratamento e refeições, o que cortava custos e preocupação com ela e sua segurança, infelizmente eu ainda tinha que pagar  eu tive que abrir mão de metade do meu salário, no entanto era melhor para ela e eu podia estudar e ter outro trabalho em paz.

Trabalhava de seis da manhã às quatro da tarde, depois aí para “casa” com minha mãe descansava uma hora e aí trabalhar cuidando de um menino como babá, o minha mãe não podia fazer esforço, mas podia tomar banho e esquentar sua comida, no final do mês fazia 2 mil dólares, que podia ser muito se não fosse os remédios, o médico, e alimentação especial, tudo que minha mãe precisava para ter o mínimo de saúde no final mal sobrava para contas ou para conseguir fazer uma vistoria no trailer que tinha parado de funcionar a anos.

Me sento no sofá cama da sala que era meu quarto no trailer, minha mãe ficou com o único quarto, se é que poderia chamar um espaço de uns 5 metros quadrados de quarto, não me importei de transformar a sala no meu quarto, afinal nunca tínhamos visitas, pelo simples fato de não ter amigos ou namorado, por trabalhar demais, e nunca ter tempo para poder conhecer alguém ou estar cansada demais para isso, e mesmo que quisesse meus relacionamentos não ia durar como aconteceu com meu primeiro e último namorado.

Vejo minha mãe andando devagar, com sua camisola branca, e já fina de tanto ser lavada ela abre a geladeira pegando água e voltando para o quarto, as vezes ela parecia um fantasma, vivia no mundo, mas não estava ali de fato.

Me levanto indo tomar banho, me recuso a me olhar no espelho pequeno do banheiro, ou o cubículo que chamava de banheiro, mal podia me mexer sem esbarrar em nada, entretanto evitava ao máximo me encarar no espelho, sabia que estava magra demais até para minha altura, tinha 1,65 e não estava pesando mais de 35 kgs onde deveria pesar 60kgs, não tinha nenhum problema de anorexia eu não comia, entre alimentar minha mãe doente e eu preferia ela e isso resultou na minha perda de peso extrema, mas o que ganhava não era suficiente e tinha que abrir mão.

Tomo um banho e volto para meu quarto me visto e sento na cama, mexendo no meu celular velho e rachado, eu infelizmente deixei cair várias vezes, por descuido, as vezes ficava tonta ou tinha teto preto, o que virou rotina, mas não tinha como trocar de celular então fiquei com o mesmo, procuro no site de sempre um oferta de emprego melhor, aproveitando a internet do prédio vizinho que sentiu pena de mim e me deixou usar o Wi-Fi mas não acho nada, não que pague o suficiente para largar meus dois empregos, decido mexer na correspondência, apesar do terreno que o trailer está estacionado não ser nosso, ainda recebíamos as cartas as vezes, vejo uma carta em questão que me chama a atenção abro vendo um aviso, leio o mesmo.

Aviso de desapropriação .

Leio de novo sem acreditar, o local onde ficava o trailer ia ser desapropriado, parece que o dono original vendeu o local para uma empresa, mas o que seria de mim e da minha mãe? O stress de ficar rodando com o trailer pode piorar a saúde dela, sem contar que não tínhamos dinheiro para pagar o concerto dele e se não retirarmos ele seria rebocado e destruído, e eu e minha mãe ficaríamos na rua!

Passo a mão no rosto, segurando a vontade de chorar, como posso lutar tanto e as coisas só piorarem, estava cansada, sentia que estava no limite e totalmente frustrada, teríamos que nos mudar de  qualquer jeito, a melhor opção era talvez para um terreno alugado, mas não tínhamos dinheiro para isso, não tínhamos dinheiro nem para comer, mas teria que dar um jeito, não podia ficar sem teto.

No meio do meu desespero quase como um milagre meu celular notifica algo, pego ele as pressas sabendo que provavelmente era um trabalho, meu celular nunca recebia notificação além disso, olho a oferta de trabalho em uma boate no centro, que pagava 100 dólares por hora, leio direito sobre o trabalho, era uma coisa temporária, mas pegava depois das 22 horas e largava as 3 da manhã, precisava mandar um currículo com foto, pego o meu que vivia pronto no Word e envio na hora, para minha surpresa recebo logo a confirmação que devo está lá as 23 horas.

Sorrio finalmente algo deu certo !

Contrato com incubo ( Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora