Caminhos de pétalas

Capítulo 3

                                                                                .Jiraiya.

Assim que escutei o incessante barulho da água do chuveiro ser desligado subitamente, pude sentir a ansiedade consumindo minhas entranhas. Com certeza no interior daquele banheiro no andar inferior da residência, a Senju estava vestindo a roupa que escolhi para nosso jantar especial. Eu, deixando meu lado tarado falar mais alto, me dei o luxo de, além do vestido e das sandálias, escolher uma lingerie que combinasse perfeitamente com os vestidos e com a belíssima silhueta da Senju. Perdi alguns bons minutos estudando cada costura e cada renda das roupas íntimas de minha amada, das quais sabia de cor o tamanho exato, tanto das calcinhas quanto também dos sutiãs. Eu já estava psicologicamente preparado para levar um dolorido soco daqueles punhos tão cruéis por ter sido invasivo assim, futricando a gaveta de roupas íntimas de minha hime.

Quando escutei o leve ranger da maçaneta ao ser girada e dos saltos ecoarem pelo piso de madeira no andar de baixo, toda a pose do Jiraiya confiante e cheio de si se fora, dando lugar ao desespero. Comecei a fazer uma listagem mental sobre as coisas para o jantar, verificando pela enésima vez se estava tudo em ordem, se os talheres estavam bem polidos, se os pratos estavam limpos, se a música estava não muito alta e nem muito baixa e se o macarrão ainda estava quente no interior da panela. Minhas mãos começaram a suar frio e uma onda de adrenalina pareceu percorrer todo meu corpo, indo da pontinha dos dedos de meus pés até o último fio de minha cabeleira esbranquiçada. Me vali de uma colher prateada sobre a mesa e fitei meu reflexo convexo na parte de trás do talher. Merda, devia ter ido no cabeleireiro e cortado essa juba de uma vez, mesmo prendendo com mais firmeza num rabo de cavalo, ainda estava completamente bagunçado! E essa gola de meu blazer está um pouco amarrotada, por Kami! Não é pra ficar amarrotado, Jiraiya! Você quer parecer um cavalheiro ou um mané? Ainda estudando meu reflexo na superfície polida da colher pude notar a minha odiosa verruguinha no canto do nariz que eu tinha desde minha adolescência e nunca havia me importado com ela ante. Porém, ali sobre o terraço da casa de Tsu, aquela verruga parecia horrenda e nojenta. Espero que Tsu não me ache parecido com aquelas bruxas das histórias infantis!

Uma enxurrada de situações desastrosas começaram a invadir minha cabeça naquele instante enquanto minhas mãos ainda suavam frias e eu as apertava com a manga do blazer. Será que o macarrão realmente estava bom ou foi apenas meu iludido paladar que apreciou aquela refeição? E esse blazer, seria formal demais ou ridículo demais? O que eu deveria conversar com ela enquanto jantamos? Deveria falar de trivialidades ou ter um assunto mais profissional? E esse vinho hein? Será que ela vai gostar ou deveria ter ficado na zona de conforto e ter comprado nosso bom e velho saquê diário? Por sorte, aquela enxurrada de dúvidas e situações problemáticas foram cessadas por conta da fina voz estridente de meu sapinho mensageiro que, como um bom sapo ninja, notou os anseios de seu mestre e, antes de se retirar indo em direção a Tsundade, lhe entregar o último pergaminho, me afirmou em tom animado:

_ Não se preocupe tanto mestre Jiraiya, apenas seja você mesmo que tudo vai dar certo!_ exclamou a vozinha miúda que logo em seguida saltitou escada abaixo em meio aos degraus cobertos por algumas pétalas de rosas.

A fala daquele sapo me fez sentir um pouco mais confiante. Por Kami, como era simples! Mesmo eu não usando minhas habituais roupas ninja e meu cabelo estando um pouco mais penteado que o normal, bastava eu continuar a ser o velho Jiraiya que Tsunade conhecia há muitos anos! Bastava eu confiar em mim mesmo, oras!

_ Esse macarrão está bom, a música está boa, as velas acesas estão boas..._ comecei a repetir pra mim mesmo, como se fosse uma espécie de mantra, tão absorto naquilo que nem escutei os passos atrás de mim e um chakra familiar preencher o espaço da varanda.