Capítulo 4 - Atualidade Sombria

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Acordo em um sobressalto com os gritos de Lissara.

Meu coração martelando nos ouvidos e respiração ofegante pelo susto.

Não pego minha faca que fica em baixo do colchão como de costume, pois eu sei que é mais um dos pesadelos dela.

Ao invés disso abraço seu corpo frágil e magro que se debatia.

- Calma, meu amor... Eu estou aqui. Acorde, Lissara.

Ela abre os olhos lentamente e ainda atordoada.

Seu olhos estão vermelhos e molhados.

Incrível como eu possuo o efeito oposto que ela tem sobre mim. Ao dormir com ela, nunca mais tive pesadelos, porém ela... Desde que perdeu a memória vem tendo pesadelos quase toda noite.

- Eu tive um pesadelo... - Ela diz suavemente e ofegante.

- Eu sei, meu amor... Mas foi só um pesadelo. - Beijo sua testa e a abraço mais apertado.

Ela geralmente retribui meu aperto, mas dessa vez ela não o fez. O que me deixou preocupado.

Desde que o médico me alertou sobre a perda de memória dela poder não ser permanente eu sempre fico alerta caso ela lembre de algo.

- O que foi, amor?

- Eu sonhei com uma mulher... Ela parecia ser minha amiga.

Puta merda... Paro de respirar e fico tenso.

Por favor que ela não tenha sonhado com a vagabunda da Valéria...

- Como ela era? - Pergunto com a voz cautelosa e fria como gelo. Pigarreio para tentar me controlar e Lissara não perceber que estou tenso para um caralho.

- Ela.. Era negra e tinha cabelos lisos... Estava rastejando pelo chão, parecia muito machucada... Eu gritei pra ela fugir, mas ela não... Ela não conseguia e então... - Ela solta um soluço.

- E então...? - Eu pergunto para manter a farsa, mas na verdade eu lembro muito bem o que aconteceu naquele dia. E eu me arrependo fodidamente de ter feito aquilo.

Não... Eu não me arrependo de matar a Valéria, me arrependo de tê-lo feito na frente da Lissara... Isso fodeu tudo. Fodeu a cabeça dela, fodeu seus sentimentos por mim. Foi um erro.

- E-eu... Vi uma faca tingindo a cabeça dela e seu corpo parando de reagir...  - Agora ela retribui meu abraço e esconde sua cabeça em meu peito chorando.

- Foi só isso? Não teve mais nada?

- Não...

- Não viu quem a matou? - Pergunto sentindo minhas palmas da mão suarem e não consigo conter o nervosismo e ansiedade em ouvir sua resposta.

- Não... A pessoa que fez isso não... Não estava em meu campo de visão.

Relaxo imediatamente. Quase deixo escapar um suspiro.

- Meu amor, foi só um pesadelo. Está tudo bem agora.

- Mas meu amor... Parecia tão real... Quase como... Uma lembrança!

- Claro que não, amor... Isso não é possível, eu me lembraria se você tivesse uma amiga, lembra que te disse que sou seu amigo desde que você tinha 7 anos de idade?

- Sim... Mas... - Ela parece confusa. Mas então relaxa visivelmente. - Você tem razão... Eu só quero que esses pesadelos, parem!

- Vamos dar um jeito nisso juntos, tudo bem? Eu estou aqui com você.

- Eu não sei o que seria de mim sem você, meu amor... Não acho que conseguiria continuar vivendo.

A sensação de ouvir suas palavras é tão deliciosamente arrebatadora que fecho os olhos repetindo esse momento várias e várias vezes para que a sensação não termine.

Amor Sombrio IIOnde histórias criam vida. Descubra agora