Capítulo 5 - Ciúme Sombrio

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Hoje eu estou puto.

É um dos dias da consulta da Lissara. É ter que sair com ela me deixa muito, mas muito tenso.

Mensalmente Lissara tem que ir ao médico verificar a questão da memória dela.

Ela acha que é parte do tratamento para recuperar a memória, mas na verdade, faz parte do tratamento de não recuperação da memória e monitorização.

Preciso saber caso ela dê o menor sinal de se lembrar de algo comprometedor.

Ultimamente ela anda tendo pesadelos com alguns assassinatos que fiz ela presenciar, mas ela não vê o assassino em seus sonhos. Tenho convencê-la de que são apenas sonhos, mas por serem sempre tão repetitivos, está ficando cada vez mais difícil.

Mas a pior parte é de fato sair com ela. Eu já tinha convencido a Lissara de que ficarmos afastados da cidade era o mais seguro para nós - inventei uma história perigosa sobre a cidade, claro - e ter que ir até a cidade com ela me deixava inseguro e com sentimentos ruins... Talvez pressentimento, não sei.

Mas a Lissara não demonstrava se quer um indício de questionar qualquer coisa que eu dissesse. Sua confiança em mim era cega e isso facilitava muito as coisas. Perder a memória foi a melhor coisa que poderia ter acontecido com ela para nós dois.

Lissara desce as escadas sonolenta em busca do seu café da manhã que eu geralmente sempre deixo pronto e aguardo ela acordar pra comer comigo.

Seu sorriso quando me vê aquece meu coração.

- Bom dia, amor. - Ela diz com uma voz manhosa.

- Bom dia, minha pata selvagem... - Digo mordendo o lábio para conter o sorriso.

Lissara cai na gargalhada.

- De onde veio esse apelido mesmo?

- Eu costumava te chamar assim... - digo simplesmente, omitindo que esse pensamento me surgiu quando a vi andando até meus cadáveres pendurados nas árvores.

- Não é muito fofo! - Ela faz beicinho.

- É claro que é... Eu gosto de patos.

- Meu Deus... Quem gosta de patos?

- Você é preconceituosa! Patos sãos legais...

Ela concorda ironicamente com a cabeça e tenta imitar um barulho de Pato que sai mais parecido com um alce sendo esganado.

Não consegui conter o riso.

Após comer, lembrei que teríamos que ir ao hospital de novo e isso piorou meu humor novamente.

Quando entramos no carro, tive vontade de prender no banco, pois ainda tenho medo que ela fuja de mim.

Ela por outro lado, parece animada. Acho que ela não gosta de ficar em casa o tempo todo... Isso pode ser um problema lá na frente.

- Por que sempre que vamos ao médico você fica parecendo que cheirou uma bunda azeda?

Arqueio as sobrancelha.

Ela anda bem perceptiva e observadora nesses últimos meses...

- Eu não gosto de sair... Você sabe...

- A cidade é perigosa. - Ela diz tentando imitar sua voz, mas com seu Tibre fino e delicado, falha miseravelmente.

Mal sabe ela que o maior perigo sou eu... E ela dorme todo dia ao meu lado, em meus braços.

Depois deixo o assunto morrer e Lissara parece mais ansiosa quando chegamos no hospital.

Guio ela como um cão de guarda até a sala do doutor. O efeito que causo estando ao seu lado me deixa satisfeito, pois ninguém ousa olhar em nossa direção.

Amor Sombrio IIOnde histórias criam vida. Descubra agora