Perfídia — Capítulo 08.
"Eu estou doente e estou me cansando também. Eu posso admitir, não sou à prova de fogo, eu sinto isso me queimando [...]" — The Beach, The Neighbourhood.
Quando Jungsook puxou o freio de mão e sentiu o carro solavancar para frente, percebeu que era a hora de sair. Não queria se machucar, não queria machucar Jimin, mas ele estava no lugar errado e na hora errada. Não era ele, quem ele desejava que estivesse naquele carro, mas se o destino quis daquela forma, ele daria um jeito de mudar as circunstâncias e ter a sua vingança de outra forma.
O homem de cabelos escuros, assistiu atento ao percurso do carro até ele parar com o teto para baixo. Havia uma certa distância de onde ele estava, até onde o carro havia ido parar e isso, o fez suspirar enquanto revirava os olhos. Enfiou as mãos nos bolsos, enquanto andava tranquilamente até o carro que agora, não lembrava em nada o carro que ele havia visto de manhã. Estava completamente destruído, e só de olhar para aquilo, o homem sentia um tédio correr entre as veias do mesmo. As coisas eram superficiais, e totalmente frágeis na opinião dele. Mas, não que aquilo viesse ao caso.
Se abaixou de uma maneira que conseguia visualizar o interior do carro, estava igualmente destruído ao exterior. Segurou com força a porta amassada e a puxou com toda a força que o corpo conseguiu canalizar nas mãos, quando a arrancou, jogou para longe aquele pedaço de metal inútil. Olhou para as próprias mãos e viu que estava levemente vermelhas, com filetes finos de sangue escorrendo pelos próprios dedos, contudo, não era algo que o incomodava já que não eram profundos.
Soltou o ar preso dos pulmões, enquanto direcionava a canhota para a extremidade do pescoço do loiro desacordado, onde se podia encontrar um pulso lento, mas constante. Aquilo era bom, ele iria sobreviver, mas teria que tirá-lo do carro, já que se não acordasse a tempo, poderia morrer em meio a explosão do combustível presente no carro. Umedeceu os próprios lábios, apertando o botão que soltava o cinto do corpo de Jimin. O puxou com dificuldade do carro, não por ele ser pesado ou coisa do gênero, mas porque havia cacos de por todos os lados e qualquer movimento, por mais mínimo que fosse, poderia machucar não só Jimin, mas a si próprio.
Jungsook deu uma última lufada de ar, antes de pegar Jimin nos braços de uma vez, levando-o consigo até um lugar livre de todos os cacos e longe o suficiente do carro. O deixou na grama ao lado do asfalto, tomando a liberdade de olhar os detalhes do rosto do loiro.
— Não sei porque raios voltei para ajudá-lo. Talvez, porque seja apenas um efeito colateral nisso tudo. Talvez, seja porque uma parte de mim, ainda, tem princípios e como tal, não vê razão em machucar outra pessoa, quando o alvo é nitidamente outro. — O moreno passou a mão pela testa do loiro, tirando os cabelos claros da frente dos olhos dele. — Para a sua sorte, não acredito em fins que justificam os meios.
E então, tão rápido como se agachou, se ergueu. Passou as mãos pela jaqueta de couro, a ajustando ao corpo outra vez. Não havia nenhum porquê de continuar ali, já tinha feito muito que era, não deixá-lo para morrer naquele carro que era a própria bomba-relógio. Inspirou outra vez, sentindo o ar preencher os pulmões aos poucos e quando expirou, limpou as juntas da fuligem e do sangue seco que havia se acumulado. Virou o rosto, questionando o horizonte ao não saber direito em qual direção ir.
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Perfídia (Jeon Jungkook)
Fanfiction"Como é ter dois de você?" Jeon Jungkook sempre ouvia essa pergunta em todos os hospitais psiquiátricos e nunca havia formulado uma resposta à altura. Ele, na realidade, não queria e nem gostava da possibilidade de ter outro de si; afinal, ele era...