Sonho

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        — Vocês o que?? - se exaltava Nana ao ouvir a notícia.

        — Nós vamos sair ué. Conversamos ontem por um bom tempo durante a noite. Temos mais em comum do que eu imaginava.

        Nana me dirigia um olhar misto de orgulho e euforia, isso tudo do jeito louco dela.

        — Meu garoto!

        — Para, é só um cara.

        — Um gatinho se quer saber. Que desperdício.

        — Desperdício pra você né.

        Nana soltou um grito e me agarrou pelo pescoço, o que me fez ir ao chão gritando também.

        — MEU THOMAS TEM UM ENCONTRO!! AAAAA!!

        Depois de toda aquela euforia, ela foi pra casa, deixando meu quarto silencioso novamente. Era sábado de manhã e eu sairia com Enry durante a noite. E eu não fazia ideia do que vestir. Até parecia aquelas garotas que demoram mil e uma horas pra se arrumar só pra causarem uma boa impressão. Foi então que minha mãe entrou no quarto.

        — Boa sorte hoje com esse garoto.

        Eu apenas esbugalhei os olhos e olhei pra ela com cara de susto.

        — Devia pedir pra Nana falar mais baixo às vezes, Thomas. - disse ela entre um sorriso.

        Minha mãe sabia da minha orientação sexual, mas ela saber que vou encontrar outro cara pra sair é um tanto quanto constrangedor. Eu me lembro como se fosse ontem do dia que contei pra minha mãe sobre mim, jamais esquecerei sua reação. Eu esperava alguns choros e tristeza, mas o que ela fez? Riu da minha cara. "Eu sempre soube disso, querido, sou sua mãe", ela disse. Meus pais são separados desde sempre e moro com minha mãe e meu irmão mais novo. E digo com orgulho: minha mãe é a melhor mãe do mundo.

        — Não vai me mostrar seu pretendente?

        — Mãe!!

        — Ué, ele vai virar meu genro?

        — Mãe!!

        — Filho!!

        — Sai!!

        — Tá!!

        — Te amo!!

        — Eu também!!

        E nossa relação era assim. Não éramos somente mãe e filho, éramos grande amigos. Desisti de arrumar a roupa perfeita, iria pensar em algo na hora. Resolvi deitar um pouco, passei grande parte da noite conversando com Enry e Nana me acordou cedo batendo na porta, eu estava exausto. Capotei na cama.

        E eu dormi.

        E eu sonhei.

        Eu olhava diretamente pra ele, nos olhos dele, e ele olhava diretamente nos meus. Pouco a pouco o cenário ao nosso redor foi ficando mais claro e perceptível, estávamos em uma restaurante, eu não sei, pessoas comiam em mesas ao nosso redor. Literalmente. todas as mesas estavam dispostas em um círculo ao redor da nossa mesa, e sentado do lado oposto estava ele, Enry.

        Nós não dirigíamos uma palavra um ao outro, apenas ficávamos em silêncio e aproveitávamos aquele momento. Ele estava mais lindo do que da última vez e seu sorriso, dessa vez apenas labial era a coisa mais apaixonante que eu já havia visto na vida. Foi ele quem quebrou o silêncio.

        — Por quê está fazendo isso?

        — O que? - eu perguntava.

        — Sonhando comigo. Acabamos de nos conhecer.

        Claro, aquilo era um sonho consciente, onde eu sabia exatamente que nada era real, e até podia controlar algumas coisas, isso acontece comigo às vezes.

        — Eu não sei. Não controlo as coisas que sonho.

        — Sonhos são um misto das suas ansiedades e suas preocupações. Nada em um sonho é inédito a você, tudo já estava aí em algum lugar, o sonho só lhe mostra isso.

        — O que está supondo?

        — Que eu já estou na sua mente. Já adentrei em você, você já está começando a gostar de mim antes mesmo do primeiro encontro.

        — Não seja ridículo. - retrucava levando uma taça de vinho à boca.

        — Você pode mentir pra você, mas não para seu subconsciente, eu sei de tudo que se passa aí dentro.

        Dizendo isso, ele aponta pra minha cabeça e continua a me olhar de forma forte, mas cada vez mais apaixonante. Talvez ele tivesse razão, talvez eu já estava começando a gostar dele sem nem sequer conhecê-lo direito.

        — Você está atrasado. - ele disse do nada.

        — O que?

        Então acordei assustado com minha mãe me balançando.

        — Thomas, você está atrasado!! Já são mais de cinco da tarde!

        — Como???

        Olhei rapidamente para o relógio do lado da minha cama, e era verdade. Já eram 17:28 e eu havia combinado de encontrar Enry às 18:30 em um lugar não muito perto de casa. Eu havia dormido o dia inteiro, como isso era possível? Pelo menos teria energia de sobra durante a noite pra aproveitar bastante com Enry.

        Levantei-me correndo, dei um beijo na minha mãe, peguei minha toalha e saí correndo para o banheiro, eu não poderia me atrasar no meu primeiro encontro com ele. Após dez minutos, eu já estava no quarto novamente com a toalha amarrada na cintura tentando escolher uma roupa. Acabei pegando um jeans preto, uma camiseta clara e um blazer cardigan cinza com as pontas das mangas listradas. Talvez formal demais, mas depende de onde estávamos indo, coisa que ele não falou.

Saí de casa às 18:00, minha mãe topou me levar de carro até um local próximo, eu não queria que ela encontrasse com o Enry ainda, gastaríamos uns vinte minutos e eu teria dez minutos de sobra esperando Enry. Combinamos de nos encontrar em uma praça e pedi para minha mãe estacionar a umas três quadras de distância e eu desci do carro.

        — Boa sorte filho!

        — Valeu mãe.

        — Use camisinha!

        — Vera!!

        — Estou brincando querido, mas leva ele em casa, tchau.

        Ela então engatou o carro e virou a esquina. Esperei ela sumir de vista e me dirigi à praça. Me sentei em um banco e fiquei esperando Enry aparecer. Olhei no relógio, já eram 18:25, eu tinha cinco minutos. Peguei meu telefone e olhei o chat do Enry, ele estava online e logo após começou a digitar.

        "Estou atrás de você"

Morfeu (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora