Mágico

54 6 2
                                    


Eu estava exausto e ainda bem que aquele pensamento errado que Nana havia me inserido já se esvaecera. Eu não queria ficar pensando muito nisso. Fui até meu quarto e deite-me na minha cama. Peguei meu celular abri o chat com Enry.

"Visto por último hoje às 18:28"

Era o momento que nos encontramos na praça, ele não havia entrado depois que chegamos. Considerando que ele estava dormindo no meu ombro no carro, deve ter chegado em casa e apagado, Resolvi fazer o mesmo, troquei minha roupa e coloquei uma mais leve, não era muito adepto à pijamas, mas dormir de jeans, ninguém merece. Coloquei o celular no criado mudo que ficava ao lado da minha cama de casal e apaguei a luz do abajur.

E eu dormi.

E eu sonhei.

Eu estava na minha casa, na cozinha, Enry também estava lá, mas ele estava com o rosto vermelho, vermelho de raiva, ele gritava comigo, eu gritava com ele, logo percebi que estávamos tendo uma discussão.

— Foi exatamente por causa dessa reação que não te contei nada!! - Enry gritava comigo, nunca havia visto aquele tom de voz nele.

— Minha reação?! Olha a merda que você tá fazendo! Ele tem o que, uns 35 anos?? Isso é doentio!!

— Não é da sua conta o que eu faço ou deixo de fazer!! - suas veias se destacavam no seu pescoço.

— Sim, é! Você é meu namorado! E eu te amo Enry, eu te amo como nunca amei ninguém! E você fica com esse cara??

— Seu namorado?? O que, você fez o pedido? Pq eu não me lembro de dizer "sim"!

— Então faz o seguinte, pede pra esse seu "novo amigo" me fazer desaparecer, ele não é bom nisso?

— Novo amigo? Se enxerga Thomas, você é o novo amigo!

Senti aquelas palavras me acertarem em cheio, ao contrário da última vez, esse não era um sonho consciente, era um do tipo real. A dor primeiro apareceu do lado esquerdo do peito, mas depois se espalhou pelo meu tórax inteiro. Eu era "o outro"? Então Enry estava com esse mágico o tempo todo e eu era apenas uma diversão mais jovem pra ele? Eu não conseguia acreditar nisso.

Abrandei a voz e tentei recomeçar, com calma.

— Enry, olha... - não sabia por onde começar - eu acreditei em você, com todas as minhas forças. Me alertaram sobre você, do que você poderia estar fazendo comigo, e eu não acreditei. Por favor, não me faça dar razão pra essas pessoas.

Enry estava mais brando, suas veias abaixaram e seu rosto começava a tomar a coloração normal.

— Eu não posso. Eu fiz minha escolha. Você não deveria ter descoberto as coisas assim no início, nos conhecemos tem o que? Dois meses?

Abaixei a cabeça, queria chorar, mas não faria isso ali, na frente dele. Ele tentou passar por mim, eu o segurei pelo braço, o puxei pra perto e tentei beijá-lo. Senti seu punho fechado sobre meu nariz e aquele líquido quente escorrendo logo após. Enry havia me batido. Enry havia me batido! Quem era aquele garoto? Eu não sabia, mas aquele não era o Enry com quem dividi tantos momentos. Coloquei a mão no rosto e levantei a cabeça pra cima pra impedir o sangue de escorrer e pude ouvir o barulho da porta batendo, Enry havia saído.

Acordei assustado, eu estava suando. Peguei meu telefone do criado mudo, eram duas da manhã. Foi tudo um sonho. Sonho? Aquilo era um pesadelo, um dos piores. abri o chat de Enry, ele não havia entrado desde o dia anterior, mas eu precisava falar com ele. Eu necessitava disso, eu sentia um vazio grande, vazio que eu sabia que ele poderia preencher. Abri sua foto do perfil, ele havia trocado ontem durante a tarde, essa estava ainda melhor que a anterior.

Bloqueei o telefone e o coloquei sobre o pequeno armário novamente, eu precisava tentar dormir. Mas eu não queria cair naquele pesadelo novamente. Apesar disso, o sono me perturbava, batia na minha porta. Não aguentei e cedi. Não me lembro de ter sonhado com nada.

O Domingo se estendia chato como qualquer outro. Não havia nada na TV, não tinha lugar nenhum pra ir, e o calor estava infernal. Já era meio dia e Enry ainda ainda não havia entrado no WhatsApp ainda e achei isso muito estranho. Nana não havia vindo aqui em casa ainda, o que a princípio pensei que era por causa do que ela disse ontem, mas então me lembrei que era iria pra casa da Amanda ter um dia de garotas, frescura.

Mais duas horas se passaram, eu já estava almoçado e nada do Enry. Preocupado, resolvi ligar pra ele.

"Este telefone está programado apenas para caixa de mensagem, deixe sua mensagem após o sinal..."

Desliguei antes de completar, ninguém escuta os recados mesmo, deixar um pra ele é meio inútil. Pensei em dormir, mas não estava cansado, pensei em ver TV mas nada de interessante estava passando, pensei em jogar videogame, mas apesar de ter uma prateleira de jogos, nenhum parecia interessante no momento. Apenas me deitei e olhei pro teto por alguns minutos e me assustei quando o telefone tocou.

Corri e o peguei, pensei ser Enry mas era um número desconhecido. Eu não tinha essas frescuras de não atender a essas chamadas, se alguém está me ligando, deve ter um motivo, e se está ligando com o número restrito, então o motivo é maior ainda. E minha curiosidade era grande demais pra não descobrir qual era esse motivo.

— Alô? - atendi.

— Thomas? - dizia a voz do outro lado da linha, eu a conhecia de algum lugar.

— Sim, quem fala?

— Mas já se esqueceu de mim? Nos conhecemos ontem.

— Er... desculpa.

— Tá tudo bem. Bom, pra refrescar sua memória: eu quase te matei dentro de uma bolha.

O mágico!

— Mágico??

— Eu tenho um nome, tá legal? Me chame de André.

— André?

— Sim. Tava esperando o que? Um nome super mirabolante? Pode me chamar de o Magnífico Senhor André se quiser. - teria soado grosso se ele não tivesse soltado algumas risadas depois de falar.

— Só André está bom. - também ri. - Mas como você conseguiu meu número?

— Cara, eu sou mágico. Eu te fiz voar dentro de uma bolha, eu descubro. Mas não é disso que quero falar. Quero falar do seu amigo, Enry.

Me sentei na cama preocupado.

— Aconteceu alguma coisa? Você sabe de algo?

— Não, calma, só quero saber se você o fez.

— Se o beijei?

— Sim.

— Você não viu? Foi lá na arquibancada, no meio de todo mundo.

— Eu saí do picadeiro logo depois de você, não vi acontecer.

— Mas você não é mágico? Pensei que iria descobrir.

— Touché.

— Mas por que isso é tão importante pra você? Você conhece o Enry?

— Thomas, eu tenho que ir agora.

Não tive tempo de retrucar, apenas ouvi os bipes no telefone. O que diabos acabou de acontecer?

Já eram oito da noite, eu estava tentando ligar para Enry de hora em hora, mas sem sucesso. Alguma coisa havia acontecido, eu tinha esse pressentimento. Dez, onze horas, meia noite. Eu ainda estava acordado. Não tinha escolha, peguei alguns calmantes da minha mãe e tomei, logo dois de uma vez. Meu sono veio rápido como uma bala.

E eu dormi.

Mas não me lembro de ter sonhado.

O despertador tocava forte no meu ouvido, eu fazia questão de colocá-lo bem perto para não me dar o luxo de me atrasar. 06:00. Era segunda feira, dia de escola, Enry disse que iria então eu o veria lá.

Era hora de descobrir o que havia acontecido com o garoto que de repente aprendi a amar.

Morfeu (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora