Sol Huanlin não gostava de bagunça e desorganização, sendo assim não estava preparado para conhecer Wang Minghao. O jovem não só confundia todos os conceitos da astronomia e da física, como também confundia todos os seus sentidos e sua forma de ver...
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Até mesmo Galileu, que passara o dia inteiro comendo e dormindo na casa do Senhor Yi, enquanto eu e Minghao dávamos duro no quintal, parecia sonolento. O gato era uma "bola" (estava lutando para não dizer essa palavra. Meu gato estava longe de ser circular, mas eu realmente tentei arranjar em meu vocabulário uma boa palavra para isso, e não consegui. Perdão, eu sou um imbecil! ) de preguiça. Talvez estivesse agindo daquela forma por conta de mim.
Eu realmente senti grande agonia limpando aquilo. Normalmente não gosto de criticar os mais velhos, mas há quanto tempo Senhor Yi não limpava aquilo? Era um depósito de lixo? Não fazia o mínimo sentido.
Nós realmente passamos desde o fim da madrugada até o pôr do sol limpando aquele quintal imundo. E adivinha? Nós realmente não tínhamos terminado. Tudo isso por conta de plantas? Sinceramente, era uma tortura. Porém, ainda assim, eu não reclamaria. Estava em clara posição de inferioridade na minha família. Eu sequer sabia se estava na herança de meus pais, mas depois de toda a minha explosão de fúria, se estivesse, provavelmente agora eu estaria deserdado. Era tudo culpa minha. Eu havia nascido errado.
Um sentimento de culpa crescente martelou na minha cabeça por alguns segundos enquanto andava vagarosamente lado-a-lado com Minghao, que agora segurava nas mãos finas meu animal de estimação. Meus pensamentos voltaram a focar na situação presente, quando uma das mãos grandes do novo vizinho segurou a minha semelhante e impediu que eu desse de cara com um poste.
— Está tudo bem? — questionou ele, estranhando a situação. — Você parecia estar preso dentro de um universo próprio.
Eu não soube responder aquilo. Olhei rápido ao redor. Contei duas, três, quatro nuvens próximas ao Sol, que diminuía gradualmente a nossa frente. Tudo parecia laranja e magenta, incluindo a face de Wang, vagamente moldada pelos fios de cabelo que estavam em crescimento e esvoaçavam conforme a direção do vento.
— Eu me sinto sujo. — murmurei, vendo que ele não seguiria o próprio caminho e me deixaria ali. — Preciso de um banho urgente, mas não quero voltar pra casa. — acabei sendo mais sincero do que pretendia. Talvez fosse um instinto de quem não costumava conversar muito com as pessoas. Eu era tão calado, que quando falava saía mais coisa que o necessário.
Ele não disse nada em resposta ao desabafo momentâneo. Por alguns segundos culpei a mim mesmo em relação ao vácuo recebido. Minghao não era nada meu. Ele era apenas um vizinho novo qualquer, não meu amigo, e eu nunca tive isso, então eu provavelmente estava misturando as coisas e caindo em uma fantasia ridícula.
Eu não percebia com muita facilidade, mas estava adentrando outra vez o meu mundo, e só saí dele quando Minghao segurou minha mão e me puxou. Segui ele, ainda que sem entender, a princípio. Ele simplesmente me puxou pra sentar com ele no banco que havia ali perto, debaixo de uma árvore qualquer.
Sentado ali a seu lado, com Galileu deitado em sua perna, tive uma visão privilegiada do resto da cidade. Vivíamos em um lugar de alto relevo, o que me fazia ter medo na maior parte do tempo. Meus pais preferiram um bairro mais afastado para morarmos, pelo fato de que eles acreditavam que afastados das novas ideias erradas que surgiam nos centros de densidade popular. Ali eu poderia ficar alheio de ideias novas, das ideias conservadoras que cresci ouvindo. De certo modo, mesmo temendo que um deslizamento de terra ocorresse, eu senti que aquilo foi o melhor para mim durante longos anos da minha vida, principalmente porque se eu estava longe das pessoas, eu ao menos seria menos machucado. E por mais que eu não soubesse daquilo enquanto o vento batia no meu rosto, aos meus jovens e antigos dezessete anos, seis meses e 20 dias, Minghao Vincent Wang havia chegado para estragar todos aqueles anos preso num mesmo conceito.
