Tormenta

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Dias atrás, num passado não tão distante.

[...] Os gritos ecoaram pelos becos da pequena cidade, que desta vez
estava fantasma. Lovina Midnight estava localizada na Califórnia, no Condado de Mono.

Todas as noites, ao nascer da Lua, as casas tinham suas portas fechadas a sete chaves e todos os moradores se escondiam. Alguns entravam debaixo das camas, outros entravam no roupeiro, já eu, sempre achei uma besteira. As lendas locais diziam que ao cair da noite, um espírito ainda ligado a matéria, vagava pela pequena cidadezinha.

Nunca foi confirmado essa teoria, mas um fato começou a assustar o que havia restado dos moradores de Lovina. Assim que a lua se estabelecia em seu ápice e brilho intenso, uma ventania repentina tomava conta da cidade, levantando uma enorme nuvem de poeira, que se estendia até o nascer do sol mas logo, ia embora, e junto a ela, sempre levava alguém.

Minha mãe e meus irmãos, se escondiam no porão, enquanto eu, um ser não identificado, cuja identidade ainda era um enigma, ficava na cozinha, de tocaia caso algo decidisse entrar em nossa tapera (casa de palha)  [... ]

As condições de Lovina Midnight não eram das melhores, toda semana tínhamos de ir até outras cidades, para buscar mantimentos e água.

Eu sinceramente não acreditava nesse mito do espírito raivoso atormentar essa cidade e levar sempre, alguém junto a ele. Mas, preferia não desafiá-lo.

[... ] Meus irmãos mesmo depois de grande, haviam desenvolvido um tipo de ansiedade fortíssima, e quando colocados sob pressão, entravam em colapso. Então quando tinham de se esconder, gostavam de relembrar os antigos momentos, no qual, minha mãe contava histórias de bruxas, lobisomens e vampiros, e o quão entretidos eles ficavam. Conversavam a noite toda sobre o mesmo assunto, e nunca se cansavam, mas, mal sabiam eles que todas as histórias que mamãe contava, não se tratavam apenas de "histórias" eram bem reais, e ela estava apenas os preparando para o mundo cruel e impiedoso que estava a nossa frente. [... ]

A cadeira estava encostada na porta e eu sentado na mesma, quando ouvi a respiração ofegante, passos lentos e silenciosos caminhando ao redor da casa. Me levantei rapidamente e corri até o alçapão, fazendo sinal para que eles ficassem quietos, e logo fechei o mesmo, colocando o tapete por cima.

Caminhei até o armário que se estendia por baixo da pia e me escondi dentro do mesmo. Vi a criatura rondar a casa vagarosamente, por fim, se posicionou na frente da porta. A mesma veio ao chão, e junto a ela, pude ver tamanha grandeza do animal.

Eu sabia que as histórias eram reais, mas ver um lobisomem com meus próprios olhos me parecia muito vago. Seus olhos eram vermelhos e havia outra pessoa junto a ti, pelo que percebi, ela o controlava.

Estava parada, lá fora, também com os olhos vermelhos enquanto controlava aquela nuvem de poeira que se estendia pela cidade. Com apenas um olhar, o tremendo animal que estava a minha frente abaixou a cabeça e começou a cheirar a casa, quando sentiu o perfume de minha mãe.

Seus dentes estavam a mostra, seu rosnado era alto e ele sabia onde eles estavam. Caminhou até a beira do alçapão, e retirou o tapete com as unhas.

Naquele momento, senti meu coração acelerar e minhas veias flamejarem. Era tudo ou nada, se eu não tomasse uma atitude, minha família seria dizimada na minha frente, mas, se eu também tomasse, poderia ser dizimado na frente deles.

[... ] A lógica é simples, se eu morrer, conseguirei salvar mais de uma pessoa, se eles morrerem, só eu saio vivo. [... ]

Saí de dentro do armário e logo, ele se virou me encarando. Soltei uma risada de nervoso e olhei em seus olhos.

— Você não é o único sobrenatural aqui.

Ouvi o barulho de uma flecha ser lançada em minha direção, e sem sequer olhar, fiz a mesma se transformar em poeira.

[... ] Meus poderes eram incertos, eu me considerava um bruxo, mas tinha capacidades telepáticas, como controlar mentes, ler mentes, levitar objetos, me comunicar com o outro lado.  [... ]

A mulher que estava controlando aquele monstro, havia atirado em mim, e quando me viu destruir a mesma daquele jeito, caminhou até a porta da casa.

— Mais um passo e você vai acabar igual aquela flecha.

Falei sem olhá-la nos olhos.

— Não é o que você está pensando, nós não somos os vilões, estamos aqui justamente para acabar com os sumiços e tentar entender o que está acontecendo.

O lobo desta vez permanecia parado, e logo, se transformou em um rapaz.

— Como posso saber que estão dizendo a verdade?

Respirei fundo.

— Logan, vem.

Disse ela chamando o rapaz para mais perto de você, ela jogou o arco e as flechas próximos a mim e ele, a arma que estava escondida em sua calça.

— Por que invadiram minha casa?

Disse alto, e bravo.

— Nós fomos contatados, antes de ontem, a noite, alguém nos ligou pedindo socorro, explicando o que vinha acontecendo e pedindo para que acabássemos com esse tormento. Quando chegamos, tínhamos outro plano em mente, ficamos em uma casa, como se fossemos pessoas normais, na esperança de realmente entender o que estava acontecendo, mas, não conseguimos descobrir nada, a nuvem de poeira estava muito forte. Hoje já decidimos entrar no jogo deles, invadir casas para fingirmos sermos os vilões, assim, eles se sentiriam ameaçados e viriam a tona.

Disse ela, prendendo seu rabo de cavalo.

— Por que você diz: eles?

A encarei, com os olhos semi-cerrados.

— Tudo que vem acontecendo, é trabalho para duas pessoas ou mais. Se forem humanos, são mais de dois, se não, podem ser dois.

Disse ela respirando fundo, e caminhando até a poeira que, minutos antes, era a flecha. Ela tocou a mesma com seus dedos e logo, a flecha se formou novamente.

Colocou juntamente as outras, próxima ao seu arco e sorriu.

— Sou Selene, muito prazer, Lucius

Disse ela sorrindo e me cumprimentando.

— Prazer, já que sabe meu nome, não preciso dizer, e você é o Logan, certo?

Soltei um sorriso, passando a mão em seu cabelo, como se estivesse brincando com um cachorro.

— Toca no meu cabelo outra vez e você vai ficar sem a mão.

Disse ele rindo e me cumprimentando.

⚜ 𝙰𝚕𝚎𝚖 𝚍𝚊𝚜 𝚖𝚘𝚗𝚝𝚊𝚗𝚑𝚊𝚜 ⚜Onde histórias criam vida. Descubra agora