Apresentação

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  Aqui vendo a neve cair me peguei pensando como as coisas mudam de uma hora pra outra. Como sua realidade muda, você descobre um mundo totalmente diferente do que conhecia, você sente algo que​ nunca sentiu antes, você se apaixona... Tudo isso de uma maneira tão rápida como um piscar de olhos.

  Meu nome é Anne Miller. Quando eu tinha 10 anos vi meus pais brigarem tão feio que​ eu só conseguia tremer assustada no meu quarto enquanto tentava acalmar a minha irmã que chorava. O motivo? Sei lá, traição entre outros mil que todos sabiam menos minha mãe. Meu pai era uma boa pessoa apesar de não ter sido pra ela. Ele nos amava... Essa briga fez com que​ eles finalmente se separassem e por isso eu, minha irmã e minha mãe nos mudamos para nossa casa de férias, deixando a casa para o meu pai. Uma cabana com uma floresta ao fundo sem muitos vizinho e um pouco distante, onde a maior parte do tempo estava nublado ou nevando. Minha mãe Sarah Miller, é uma médica muito respeitada, todos adoram ela. Que trabalha muito então nunca está em casa, era sempre eu e minha irmã pra tudo, éramos inseparáveis. Minha irmã Helena Miller, apenas 3 anos mais nova que​ eu, era uma menina muito amigável se dava bem com todo mundo e as vezes era boa de mais para as pessoas. Conversávamos sobre tudo, sobre os meninos da escola, por quem ela tinha um crush, fofocas... Não tínhamos segredos entre nós. A falta que​ ela me faz é tão grande que​ às vezes o peso no meu peito me sufoca.

  Na véspera do seu aniversário de 14 anos, Hel (como eu chamava ela) saiu pra brincar na neve e depois disso nunca mais foi vista. Achamos que​ ela tivesse se perdido ou caído em algum rio gelado e procuramos por muitos lugares da floresta. Um detalhe importante: os lobos. Aquela floresta atrás de casa era cheia de lobos, muitas vezes olhavamos eles passarem distantes atrás das árvore e ouvíamos seus uivos altos. Eles não​ apresentavam perigo até porquê eles nunca se aproximavam​ se tivesse alguém por perto, por isso brincávamos lá fora na neve sem nenhum problema. Em meio ao desespero e várias possibilidades do que poderia ter acontecido, meu pai chegou depressa comandando um grupo de caça pra encontrar Hel e se fosse preciso matar todo lobo que​ aparecesse no caminho. Ouvi muitos desparos aquele dia, mas Hel não voltou pra casa. 

  A partir daí minha vida se tornou um inferno, eu choro todos os dias, tenho crises de ansiedade, não saber o que aconteceu me mata por dentro. Eu me recuso a acreditar que ela está morta, como foi dado pelos investigadores, e mesmo tendo em mente que isso deve ter acontecido, todos os dias espero que ela só tenha se perdido e não saiba como voltar ou talvez eu precise acreditar nisso para não enlouquecer. Agora só o que me resta nessa casa vazia é ficar sentada vendo a neve cair aqui da varanda, junto com aquele lobo que sempre esteve ali me observando.

     ~~~~~~Henry~~~~~~

Lembrar... Preciso me lembrar... "Lembre-se de quem você é". E então minhas patas se transformaram em pernas.

  Bom, quem sou eu? Me chamo Henry, atualmente tenho 19 anos, eu acho. Minha consciência demora um pouco pra voltar, depois de sair do corpo de um animal que vaga com as patas sobre​ a neve. Eu moro em uma casa isolada nos fundos da floresta, junto com meu pai Ryan e minha família, ou melhor minha alcatéia. Quando visto a pele de um humano faço uns bicos na cafeteria e lanchonete próximo daqui. Bicos porque não consigo ter um emprego fixo já que eu viro um animal por uns dias e sumo, o bom é que a senhora dona de lá sempre me aceita de volta e não faz muitas perguntas sobre. Eu tento parecer mais humano possível e aproveitar meus dias como um, não que ser um lobo seja algo ruim, mas você esquece totalmente de quem você é acaba se entregando completamente, virando apenas um animal até a próxima transformação. E tem ela... A linda humana de cabelos longos e pele clara como a neve, seu rosto sempre expressando tristeza e as vezes vermelho por chorar recentemente... Meu Deus como ela é linda, como eu queria dizer isso á ela, eu queria saber o que estava acontecendo e poder ajudar. 

  Podre sonhador, isso nunca poderia acontecer, fomos ensinados desde cedo a não se apegar a nada da vida humana já que não iríamos pertencer a ela por muito tempo. Não poderia fazer isso com ela, muito menos colocá-la em perigo. E se apenas conversasse com ela como um vizinho qualquer? Uma vez já pensei nisso, mas o nervosismo provoca a transformação, então não acredito que consiga trocar três palavras com ela sem que meu coração saia pela boca, ou melhor um uivo saia pela minha boca. Poucas coisas nos lembramos de quando somos animais, rápidas memórias mas quando se trata dela é incrível como consigo lembrar vários detalhes...

Patas sobre a neveOnde histórias criam vida. Descubra agora