Patas sobre a neve

Descoberta

~~~~Anne~~~

  Ali em cima da pedra eu congelei, demorou um tempinho até que eu percebesse o que tinha acabado de acontecer. Meu coração batia a mais de mil, as mãos tremiam e lágrimas desciam pelo meu rosto. O lobo... Era ele, o Mike me salvou... Levei a mão trêmula até​ boca, eu precisava sair dali mas estava com muito medo pra me mexer. E se os lobos voltarem? eu tinha que​ ser rápida mas eu não podia deixar o lobo ali, sozinho. Ele sangrava tanto que agora a neve branca estava suja com um vermelho vivo e não se mexia, foi aí que​ comecei a chorar mais ainda, ele não podia ter morrido. Sem pensar muito desci correndo e fui até ele, chegando bem perto dessa vez mas ele continuou sem se mover. Não liguei para o que podia acontecer, me ajoelhei ao seu lado e encostei a mão nele, finalmente o toquei e como seu pelo é macio, me desconcentrou mas rapidamente​ voltei ao que queria sentir de verdade, sua respiração.

Ela estava fraca, ele estava lutando pra viver. Fazia um barulho fino e baixinho pelo focinho como um choro pertubador, eu decidi que não ia deixar ele morrer mesmo que isso me colocasse me perigo. Tentei por ele no colo, ele é muito grande e pesado, aqueles lobos alcançavam quase o meu umbigo, era incrível. Fui me arrastando e carregando ele o máximo que consegui até meus braços não aguentarem mais, minha única opção agora era arrastá-lo pela  patas até em casa, não faltava muito. Isso acabou criando um grande rastro de sangue até a porta da minha varanda, rezei pra que a neve caísse o mais rápido possível pra esconder aquilo. Desculpa, me desculpa. Eu sussurrava baixinho, como se ele pudesse entender.

  Na porta da varanda hesitei por um minuto, eu não conseguia fazer nada com ele lá fora e se o levasse pra dentro minha mãe podia chegar a qualquer momento, corri o risco. Dentro de casa corri atrás de algo que pudesse garantir a minha segurança, achei uns fios que foi o suficiente pra amarrar as patas dele. Peguei uma coberta grossa e fiz de cama para deitar ele em cima e evitar que sujasse mais coisas com o sangue. Ele ainda estava desmaiado o que me preocupou e sem me importar com os risco aproximei a cabeça dele para ouvir seu coração, os batimentos estavam lentos, eu tinha pouco tempo. Ele precisa de um veterinário pensei, e pra minha sorte ou azar, a mãe da Sabina é uma. Eu não podia ligar diretamente pra ela pois teria um surto e tiraria ele de mim, eu precisava da Sabina. Ainda estava brava pela nossa última discussão mas era minha única opção, eu não podia deixar o orgulho falar mais alto agora. Peguei meu celular e tentei disfarçar a voz de choro. Chamou, chamou e eu achei que ela não​ fosse atender até que...

~~~~~Ligação~~~~

Sabina: - Alô?
Anne: - Sabina preciso de ajuda
Sabina: - Achei que estivesse brava comigo...
Anne: É urgente!
Sabina: - Tá, fala
Anne: - Tem algum remédio aí na sua casa do trabalho da sua mãe, ou algo que eu possa fazer...
Sabina: - Pra?...
Anne: - Tem um lobo e ele tá muito...
Sabina: - AH NÃO! De novo essa histo...
Anne: - Por favor me escuta! Tem um lobo muito machucado, achei ele na frente da varanda acho que ele foi atacado, não posso deixar ele morrer...

  Menti na parte de ter achado ele, se eu contasse o que realmente tinha acontecido e onde eu estava, ela surtaria de novo.

Sabina: - Onde ele tá?
Anne: - Na varanda, mas relaxa ele tá apagado. Por favor seja rápida, acho que ele não tem muito tempo.
Sabina: - Tá, vou ver aqui com a minha mãe o que eu posso fazer e já tô indo aí.
Anne: - Obrigada...

~~~~Fim da ligação~~~~~

  Fiquei sentada encarando ele sem reação, ainda estava muito assustada. Mas não durou muito tempo, já que ele acordou e começou a se debater tentando se soltar, me assustando. O seu choro agora estava mais alto e sem forças ele desistiu, apagando e batendo a cabeça forte contra o chão. Ver o desespero dele me deu um aperto no coração mas isso era pro bem dele, sinto muito eu sussurrei baixinho. Alguns minutos depois Sabina chegou com alguns remédios e outras coisas, abri a porta e pedi para ela vim comigo, ela estava meio pra baixo. Quando chegou na varanda vi ela enrijecer ao meu lado, talvez por estar de cara com um grande lobo, talvez por ter​ muito sangue, não sei.