Tipos.

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Você me levou até em casa e começou a falar do tempo. Do tempo. Algo absurdamente sem nexo e absurdamente chato. 

– Então... Da onde vem esse seu nome?

– Nossa, finalmente você parou de falar de como o céu está estrelado.

– Se fosse por você a gente tava quieta até agora e ainda nem estamos na metade do caminho.

– Avisei que era longe.

– Me conta do teu nome.

– Que pergunta interessante! - você revirou os olhos. - Não teria outro jeito pra começar uma conversa? É um nome normal, na verdade não muito normal por aqui.

– Você realmente não é tão legal assim como o povo fala.

– Sou menos pior. E o teu? É difícil também. Na verdade, é feio. 

– Na verdade eu meio que não sei, era pra ser Lana e de Lana virou Lauren.

– Lana é legal. Como Lana Del Rey.

Você deu de ombros, parou no banquinho do parquinho e me chamou pra sentar com você, deu dois tapinhas no lado esquerdo do banco. 

– Você sabe que eu não mordo, certo?

Revirar os olhos pra você em meia hora já era vício, fiz isso no mínimo umas 5 vezes.

– Você tem nome de cachorra e é estranha, portanto, eu não sei.

– Ai cara, mudando de assunto. Então... Você tem tipo, um namorado ou namorada?

– Não te interessa.

– Grossa.

– Você tem tipo, várias né. 

– Não, Camila. Eu não sou de namorar e tal. Mas namoraria você.

– Eca. 

Levantei do banco, você me olhava de um jeito tão "te conheço faz mil anos" que aquilo me remoía por dentro. Era insuportável a ideia de alguém que eu conheço faz minutinhos, me olhando como se eu fosse transparente. Sabe? Sem a armadura de menina durona e madura. 

– Onde você vai?

– Pra casa, ué.

– Vamos comer alguma coisa.

– Você paga?

– Pago.

– Então não. 

Você me olhou com surpresa e eu dei risada. Era sempre a mesma reação, tá legal, deixa eu te explicar algo que eu não te expliquei aquele dia: eu me sinto diferente, sendo diferente. Eu odiava a ideia de que você já teria chamado mil outras garotas pra comer, e elas provavelmente teriam aceitado seu cartão de cheque pagando a dieta light delas. 

– Como assim?

– Eu como muito. 

– Mas não parece.

– Obrigada, pena que não posso dizer o mesmo.

– Tá me chamando de gorda?

– Tô. 

– Fala sério, você tem uma péssima visão. 

– Ou talvez boa demais.

– Vamos comer, você paga. 

Você me contou umas dez piadas sem graças no caminho inteiro, não conseguiu me fazer rir uma vez sequer. Me chamou de mau humorada, e só faltou cuspir seus pulmões com a piada que eu te contei. Uma péssima piada, por sinal. Sou péssima piadista, mentirosa e o meu maior dom é ser absurdamente sem graça. Você tinha que rir? Sério? Tinha que estragar os meus planos de ser diferente? É, você tinha.

A gente parou naquela lanchonete esquecida, e eu pedi de sorvete até bolo de chocolate. 

– Tá tentando me conquistar?

– Estou tentando te afastar. 

– Não está conseguindo, linda.

– Me chamou do que?

A garçonete saiu o mais depressa que pode, você me olhava com a cara mais engraçada do mundo. Eu abaixei a cabeça e coloquei as mãos no rosto, me recusava a deixar você me ver rindo de você.

– Te chamei de linda.

– Eu não te dei essas intimidades. 

– Você provavelmente vai me dar muita intimidade. 

– Eu provavelmente vou chutar a sua intimidade.

– Gosto de você. 

– Eu não gosto de você.

– É por isso. 

Você sorriu de lado, eu mordi o lábio.

– Então... Qual seu tipo?

– Eu não tenho um tipo.

– Talvez eu faça seu tipo. 

– Se eu tivesse um tipo, eu provavelmente também teria um anti-tipo, você estaria lá.

– Você não faz meu tipo. 

– Que bom.

– Mas vai fazer, você é o tipo que ninguém quer e acaba querendo.

– Eu não sou um tipo.

– É meu tipo.

– Você é bipolar?

– Disse que iria fazer, não disse?

– Eu fiz seu tipo em um minuto?

– Você é rápida.

– E você estúpida.

Tava na cara que nós eramos absurdamente opostas, você era coroa e eu era cara. Você queria o mundo inteiro, Lauren. E eu só queria uma parte. Você estava me deixando sem palavras e a minha armadura de quem não liga pra nada estava caindo mais rápido do que eu esperava. Ou melhor, eu nunca esperei deixa-lá cair por você. Quem você pensava que era? Quem você pensa que é? Eu nem te conhecia, e você já queria bagunçar todo meu interior arrumado. Afinal, você era uma bagunça por dentro e por fora. E eu achei sua bagunça interessante, até. Mas olha bem, se arrependimento matasse... Eu continuaria viva. Porque deixar você me bagunçar foi meu pior erro, mas agora eu tenho um tipo. As babacas, cachorras, cafajestes, as que mentem e as que sentem um pouquinho e fazem a gente sentir um poucão. Eu tenho um tipo que agora é tipo você. 

Que merda. 

Aí vai o 3 motivo pelo qual eu e você não demos certo: Sua bagunça.

15 Reasons (camren)Where stories live. Discover now