Desço do carro às pressas, pego a pasta e a caneca de café, já que não tive tempo de tomar em casa. Bato a porta e ao longe ouço o som do vidro da janela subindo quando pressiono o botão da chave, continuo andando em direção ao prédio, alguns passos depois eu olho para trás para me certificar que nada havia caído no chão, retorno minha atenção para frente no exato momento que o meu corpo vai de encontro com outra pessoa, nossos corpos se trombam e no impacto minha pasta cai no chão, junto com a chave que ainda estava na minha mão.
- Desculpa, me desculpa - Ouço a voz a minha frente, levanto os olhos e o encaro, ele sustenta o meu olhar por um tempo, tempo suficiente para que eu pudesse ver o contorno que o seu maxilar dá ao seu rosto, a forma como ele sorri ao falar mesmo parecendo estar nervoso, daquela forma quando a pessoa abaixa a cabeça e torna a levantar logo em sequencia. Ele volta a falar - Eu estava distraído, não vi você vindo, olha só a bagunça que eu fiz.
Eu olho em seus olhos novamente, verdes, aquele tipo de cor que atrai a atenção de qualquer pessoa. Sorrio e ele retribui o sorriso.
- Não tem problema, sério - Falo enquanto pego a chave do chão, levantando em seguida para ficar de frente para ele.
- Você está com presa? - Ele olha para o café, que agora está esparramado no chão - Eu te pago outro café.
Eu sorrio quando lembro que estou sim com pressa, eu não preciso checar as horas no pulso para saber que já tinha que ter batido o ponto, e que um atraso não é uma forma legal de começar uma sexta feira.
Olho para o liquido no chão e então volto os meus olhos de novo para ele.
- Outro dia você me paga - Falo estendendo a minha mão para ele apertar.
- Amanhã - Ele diz ao segurar a minha mão - Mesmo local, uma hora mais cedo. Pode ser?
Observo todo o rosto dele em busca de uma resposta, pondero em dizer que não, mas por fim faço que sim com a cabeça, não custa nada.
- Amanhã então - Ele começa andar, mas para ainda de costas para mim, como se estivesse pensando em algo, e então ele se vira, o sol bate em seu rosto fazendo com que ele feche um de seus olhos e tentando com a mão bloquear a claridade vinda do sol, ele abre um largo sorriso quando percebe que eu continuava olhando em sua direção.
- Eu já ia esquecendo, eu sou o Luiz. – Ele fala, estávamos a uma distância considerável, mas eu podia sentir o nervosismo saindo da sua voz.
- Eu sou o Eduardo – Eu termino de falar, nós nos olhamos por mais um tempo.
- Foi um prazer Eduardo, tenha um bom dia e até amanhã.
- Até amanhã - São as únicas palavras que saem da minha boca, ele se vira e segue o seu caminho, fico ali parado observando enquanto ele vai se afastando, ele se vira, olha em direção mais uma vez e sorri acenando com uma das mãos, enquanto a outra continua no bolso da bermuda.
Não sei o que pensar em relação ao que aconteceu, só sei que a lembrança da voz dele vem de encontro a minha mente o dia todo, não sei quem é ele, só sei que amanhã eu faço questão de ir ao seu encontro, mesmo sendo final de semana, mesmo tendo que acordar cedo e pegar um trânsito de quase uma hora, só sei que amanhã.
Eu estarei aqui;
Ele estará aqui;
Nós estaremos aqui.
...
Acordo cedo no dia seguinte visto uma camisa polo qualquer do guarda roupa e vou em direção ao carro, coloco os óculos de sol no rosto, dou a partida e o som do motor despertando de seu descanso enche todo o interior, com a rádio ligada saio da garagem balbuciando as músicas que saem pelo alto-falante o caminho todo. Por mais que o trânsito em dias normais seja estressante, hoje é tranquilo dirigir. Ligo a seta quando vejo uma vaga perto de onde estacionei ontem. Relaxo os ombros e solto uma quantidade de ar que nem percebi que estava segurando.
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A Felicidade tem os Seus Olhos
RomanceA Felicidade tem os seus olhos vai contar a história de Eduardo, um jovem advogado que mora longe da família, com uma vida estável e longe de qualquer reviravoltas, porém, em um dia atípico ele acaba trombando o corpo com uma pessoa, e na calçada co...