Capítulo Dois

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Abro os olhos, a claridade do meu quarto me faz contrair todo o meu rosto, minha cabeça começa a latejar, coloco a mão nas temporadas numa tentativa frustrada de fazer a dor diminuir.
- Você deve estar com uma tremenda dor de cabeça. - Ouço a voz, meus olhos procuram na direção, mas demora a focar em Ester parada na porta, ela deve ter visto a confusão através do meu rosto, porque ela sorri e anda em minha direção, coloca uma xícara do que parece ser café no criado mudo. E então ela continua falando - Eu liguei para você, como você não me atendia, e você nunca deixa de atender as minhas ligações, então, eu vim para cá - Eu pego o meu celular entre os lenços da cama, a dor lateja, mas dessa vez mais forte, eu me deito de novo e fecho os olhos, Ester continua falando - E vi você jogado, de cara eu já vi que você estava bêbado. 

- Eu não estou bêbado - Eu me sento da cama, mas minha cabeça começa a girar - Talvez eu esteja de ressaca.
Ela faz que sim com a cabeça, vai até a cozinha e volta com dois comprimidos, eu coloco na boca e engulo junto com o café, o primeiro gole me dá vontade de colocar para fora, minha barriga está enjoada, minha cabeça está girando, eu estou com dor, mas mesmo assim a lembrança de Luiz vem a minha mente como uma flecha me acertando em cheio.
- De todos esses anos, eu acho que nunca te vi com ressaca. - Ester fala enquanto se senta ao meu lado da cama.
- Eu nunca fiquei de ressaca - Confesso e me deito de novo - E acho que nunca mais vou ficar, é horrível.
Ela se deita ao meu lado rindo, o cheiro do seu perfume enche todo o meu quarto, é bom ter ela aqui.
- Quem é ela? - Pergunta Ester depois de um tempo, eu abro os olhos e a vejo encarado o meu rosto. - Ah, vamos lá Eduardo, para você voltar para casa neste estado, tem que ter mulher envolvida.
Por que não "ele"- Penso - Por que tem que ser 'ela' e não 'ele'? Malditos pronomes.
Ela bate em meu ombro quando percebe a minha hesitação.
- Vai tomar um banho gelado - Diz ela levantando da cama pegando alguma coisa que estava sobre a cadeira e me estende uma peça de roupa junto com a minha toalha - Você se sentirá melhor, enquanto isso eu preparo alguma coisa para a gente comer.
- Te amo - Eu falo e me levanto, abro a porta do banheiro e fecho, me olho no espelho, meu cabelo todo bagunçado, a minha camisa branca está suja, eu estou todo largado, meus olhos se fixam no reflexo da minha boca no espelho, eu fecho os olhos e vejo toda a cena acontecendo de novo, meus lábios nos dele, minha mão tocando os seus cabelos, o hálito quente dele... Eu abro os olhos e sorrio.
Por fora eu estou em um tremendo caos, mas por dentro eu só apenas calmaria.
Abro o chuveiro e depois de alguns longos minutos ouço ao fundo Ester falar, a água percorre todo o meu corpo, a dor na cabeça tinha diminuído, o enjoou quase não é mais sentida, aos poucos eu estou tomando o controle da situação de novo, por baixo do barulho do chuveiro ouço Ester me chamando, desligo a água e por fim consigo ouvir a voz dela perfeitamente.
- Tem um Luiz no telefone, ele disse que ligou para saber como você está. - Ester acaba de falar, eu me enrolo na toalha, abro a porta e a cara dela de espanto é hilária. Ela me entrega o celular e quase de imediato eu coloco na orelha, o som da respiração dele me prende, eu não falo nada só fico ouvindo.
- Normalmente quando se atende uma ligação à pessoa fala oi - Ele diz ao fundo, sua voz me desperta, entrando em todas as lacunas da minha cabeça.
- Oi - Falo e sorrio, Ester está me encarando, eu faço um sinal com o dedo e entro de novo no banheiro. - Como você está?
- Ah, eu estou bem - Ele fala e ao fundo o ouço sorrir - Mas pelo o que Ester me contou, você não está muito bem.
Eu abro a porta e vejo Ester sentada no sofá, eu a olho com a expressão mais seria que eu consigo.
- Ester andou falando demais - Eu digo no telefone, mas é mais para Ester do que para Luiz, ela me encara levanta as duas mãos em forma de penitência e sai sorrindo para cozinha na medida em que a panela de pressão começa a apitar.
- Ela é simpática - Luiz diz enquanto eu visto as minhas roupas, me olho no espelho o meu cabelo está grudado na testa, mas eu simplesmente passo a mão deixando como está e então saio do banheiro.
- Ah, sobre ontem... - Eu falo com a voz baixa me certificando que Ester não está ouvindo.
- O que você vai fazer mais tarde? - Ele pergunta me cortando e como sempre não deixa com que eu pense a respeito. - Vai ter um luau com a galera numa praça, aqui perto de casa, e pensei se você gostaria de ir também.
Eu olho para os lados e vejo Ester sentada à mesa mexendo no celular de cabeça baixa.
- Então? - Ouço a voz do Luiz ao fundo, eu pigarreio e me sento à mesa ao lado de Ester.
- Seria ótimo - Digo
- Ta bom - Ele fala e a sua voz com uma mistura de sorriso entra no meu ouvido através do celular e meio que faz morada dentro de mim. - Se cuida, Eduardo.
Eu desligo o celular e coloco sobre a mesa, Ester me olha, nossos olhos se sustentam por um tempo, mas logo ela se levanta e pega dois prato.
- Obrigado - Falo, e dou um beijo em sua testa, ela dá alguns tapinhas no meu ombro e começa a comer, seguimos comendo e conversando sobre tudo e ao mesmo tempo nada, minha cabeça às vezes vagava para noite passada e permanecia lá por um tempo, então depois meus olhos focavam em Ester, e continuávamos conversando. Acabamos de comer, eu retiro o prato e levo para a pia, começo lavar a louça, e então ouço os seus passos vindo minha direção com os seus cabelos presos em um coque mal feito, ela se apóia no balcão da cozinha, seus olhos exigem respostas, mas ela sabe que tudo será no meu tempo, e ela respeita, ela me conhece mais do que eu mesmo.
- Eu gostei do Luiz. - Ela fala, enquanto pega um copo, enche com água e bebe de forma lenta.
- Por falar nele - Eu falo enxugando minha mão no pano de prato - Vai ter um luau hoje à noite, o Luiz me ligou me chamando para ir, vamos comigo?
- Quem... - Ela para a frase antes mesmo de começar, seus lábios se abrem em um sorriso - Claro - Ela fala por fim - Posso me arrumar aqui?
- Mi casa su casa - Eu falo puxando ela pela mão caminhando em direção a sala, ligo o som, uma música com uma batida começa a tocar, eu a trago para mais perto e começamos a dançar.
As horas vão se passando, quando eu dou conta eu e Ester já estamos devidamente vestidos, e indo em direção ao carro, eu pego a chave do bolso e jogo no ar em sua direção.
- Serio? - Ela pergunta com os olhos brilhando.
- Não me faça me arrepender por isso - Eu falo abrindo a porta do carona - Respeite a velocidade máxima.
Ela sorri e as presas vai ligando o carro, ela sai do estacionamento do prédio e segue pela rodovia para o local onde Luiz tinha marcado o luau.
- Como você conheceu esse tal de Luiz? - Pergunta ela, meus olhos passeiam pela paisagem do lado de fora do carro, eu abaixo a cabeça e me permito sorrir antes de virar para ela.
- Ele trabalha próximo ao escritório - Falo, os olhos dela procuram pelos meus olhos no escuro do carro. - Olha para frente. - Digo apontando para a rua. Ela apenas revira os olhos e vira o rosto, ela espera alguns minutos e depois se vira de novo para mim, seus olhos me encaram.
- Ele sabe que estou indo? - Ela acelera depois que um sinal que estava vermelho muda para verde.
Faço que sim com a cabeça, mas rapidamente pego o celular, busco o nome do Luiz nos contatos, e abro a conversa.
"A Ester está indo comigo, espero que não seja problema."
Antes mesmo de pensar em bloquear novamente o celular, aparece à palavra digitando, eu espero alguns segundos para a reposta dele.
"Claro que não, sem problemas."
Depois de um tempo eu começo a guiar Ester, falando em qual rua ela deve entrar para chegar ao parque, ao longe eu vejo um grupo sentado no chão, respiro fundo, e mantenho o controle sobre todo o meu corpo.
- Aqui, estaciona aqui - Falo apontando para uma vaga, Ester para o carro abre a porta e sai. - Você sabe que não está na vaga ne. - Grito assim que ela fecha a porta.
- Isso é com você. - Ela fala se afastando um pouco do carro, mexo os dedos das mãos antes de sair do carro.
- Não vá me dizer que você não sabe colocar o carro na vaga.
- Ta bom, eu não vou te dizer. - Eu viro as costas, entro no carro, coloco na vaga, quando eu saio vejo Luiz do lado de Ester, ele está com os braços cruzados sobre o peito e ambos estavam olhando para mim.
- Vejo que já se conheceram - Falo indo em direção aos dois. Luiz parece inquieto, suas mãos vão aos óculos umas três vezes, ele troca o peso dos pés incontáveis vezes enquanto eu me aproximo.
- Sim - Fala os dois ao mesmo tempo, eu e Luiz apenas trocamos olhares de comprimentos antes de irmos em direção ao pessoal, nós nos sentamos no chão, Charles toca alguma música no violão que todos conhecem, menos eu. Depois de um tempo Luiz levanta e traz três copos, ele estica um para Ester que pega e logo começa a beber, ele estica o meu copo eu pego e ele senta ao meu lado, nossos braços se encostam, e fica assim, porque parece que nenhum dos dois estava disposto a movimentar nenhum músculo.
- Não é Vodca - Diz ele baixinho no meu ouvido - Pode beber.
Eu olho para seu rosto, ele abre um sorriso e toma um gole generoso da bebida do copo.
Luiz está aqui, do meu lado. Nossos corpos estão próximos Eu consigo sentir cada movimento que ele faz com o corpo, a roda tinha espaço, mas mesmo assim eu prefiro estar dessa forma, e algo dentro de mim diz que ele também quer ficar assim.
Ao fundo Charles continua tocando uma série de música que faz com que todos dancem com os corpos e cantem a letra, pelo que eu via eram as mesmas pessoas da festa passada, com exceção de Ester. Todos estão cantando, sorrindo, bebendo é como se todos estivessem livres, essa palavra que se encaixa aqui, liberdade, como se todo o barulho da cidade a nossa volta não fizesse diferença, como se aquele momento em específico estivesse acontecendo em um universo paralelo, ninguém aparentava estar reparando nas pessoas que passam pela praça, e nesse misto de confusão, é como se existisse apenas a gente!
As horas vão se passando, as músicas começam a ficar menos conhecida pela minha parte, Ester está mais enturmada com o resto das pessoas, eu e Luiz em alguns momentos nos esbarramos, às vezes as mãos, os ombros, ou os joelhos, e toda a vez que minha pele entra em contado com a dele o meu corpo sente um calafrio, e esse essa sensação é boa demais.
Luiz aproxima o rosto, e com os lábios roçando a minha orelha a voz dele se faz ser ouvida.
- Tem um lugar que eu quero te mostrar - Eu faço que sim com a cabeça e ele se levanta, eu me levanto em seguida, faço um sinal para Ester e vou atrás de Luiz que está a alguns passos a minha frente. Seguimos mudos por um tempo, ele por hora e outra olha para mim, e torna o rosto para frente, depois de alguns metros ele entra em um prédio comercial, e eu continuo seguindo os seus passos pelos corredores da loja até chegar ao final do estabelecimento, a placa na porta indicando que a entrada é permitida apenas para funcionário não detém Luiz, ele abre e começa a subir os degraus. Ele não fala nada, eu não falo nada, ficamos em silêncio por toda a subida, e é nesse silêncio que eu reparo que Luiz está vestindo uma regata que deixa à mostra uma tatuagem na parte das costas e no ombro direito, tento identificar o que possa ser aquele desenho, mas o ritmo da subida me atrapalha, desisto de tentar descobrir quando minhas pernas começam a doer e começo a prestar ainda mais atenção na subida, quando ele finalmente abre uma porta, eu passo logo depois dele e só então que eu percebo que tínhamos subido até a sacada, ele continua andando até chegar bem perto do parapeito, ele abre os braços fecha os olhos, respirando lentamente. Ele inspira e expira umas duas vezes seguidas e depois de certo tempo ele abre os olhos, seus olhos verdes refletindo a luz urbana passeia pelo meu rosto, e eu posso sentir a linha imaginária que os olhos dele traça até mim.
- Dá para ver a cidade toda daqui - Ele fala suas primeiras palavras depois de muitos minutos.
Eu olho em volta e compreendo a magnitude daquele lugar.
- Sim, é incrível - Eu falo, retornando a minha atenção para o seu rosto, ele desvia os olhos para frente de novo.
- Eu venho aqui quando preciso pensar - Ele fala, apoiando os braços no parapeito e deixando a cabeça pender sobre o peito, o vento mexe os seus cabelos, mas ele parece não se importar, ele apenas abre um sorriso e torna a falar - Longe da bagunça que é aquilo lá embaixo, sabe, eu subo aqui, e percebo que sou alguém.
- Como assim? - Pergunto.
- Longe de tudo, do estresse, do transtorno, do trabalho - Ele me olha de novo, sua expressão está seria. - Longe do preconceito.
É tarde demais, o meu corpo começa a tremer, eu abro a boca, mas ele continua falando.
- É aqui em cima que eu consigo por a cabeça no lugar, é aqui em cima que eu consigo entender o que aconteceu ontem.
- Sobre isso - Eu falo cortando ele, eu engulo em seco antes de continuar - Sobre ontem que eu queria falar com você.
Eu paro de falar, ele desvia os seus olhos do meu rosto, se sentando no chão de costas para o parapeito, eu ainda fico em pé olhando para a rua e os carros lá embaixo, ele permanece em silêncio, volto a minha atenção para ele, sua cabeça está inclinada encostando na parede com os olhos fechados.
- Desculpa - Falo, ele abre os olhos, seus olhos sob o vidro dos óculos me encara.
- Você realmente precisa parar de pedir tantas desculpas, Eduardo - Fala ele em tom baixo, mas alto o suficiente para que eu pudesse ouvir.
- Não - Falo, agachando ao seu lado - Eu preciso pedir desculpas por ontem...
Eu não consigo completar a frase, os lábios dele tocam a minha boca, demoro a perceber que estávamos nos beijando, que ele tinha me beijado, eu retribuo o beijo, ele se afasta depois de um tempo, quando eu inspiro uma quantidade de ar o suficiente para fazer com que tudo dentro de mim volte ao normal, ele volta a falar.
- Não peça desculpas por algo que eu também quis fazer - Diz ele, encostando a testa na minha, nossas mãos estão próximas, eu me sento ao seu lado, ele se vira para frente e sorrir, um sorriso sincero. Ele retira os óculos do rosto e volta a sua atenção para mim, nada sai dos meus lábios, estou surpreso demais para falar alguma coisa, passeio com os olhos pelo seu rosto em busca de alguma palavra, mas não encontro nada.
- Sabe - Ele começa a falar olhando de novo para o céu estrelado acima das nossas cabeças - Eu quis te beijar ontem, como quis te beijar agora, como estou querendo te beijar de novo. - Ele vira seus olhos para mim, um sorriso de canto de boca se abre em seus lábios. - Não precisa ficar grilado com isso, você não fez nada que eu não quisesse ter feito, eu fiquei surpreso por ter sido você a tomar a iniciativa ontem, e não eu!
Sinto quando a mão dele para sobre coloca a minha, e o mínimo movimento dele já faz a minha frequência cardíaca subir.
- Eu nunca fiz isso. - Falo sem nem pensar nas palavras - Sabe, beijar um rapaz, eu nunca fiz isso.
Eu pigarreio uma ou duas vezes, fecho os olhos e continuo falando.
- Não que eu já não tivesse tido vontade, mas nunca cheguei ao ponto de beijar. Mas com você foi algo diferente, não sei se foi à bebida que me deu coragem. - Eu sorrio, e ouço ele sorrindo ao meu lado, sinto quando sua cabeça encosta no meu ombro e eu continuo falando. - Fiquei com medo de ter assustado você, sabe, tinha amigos seus lá, e eu simplesmente te beijei, na frente de todo mundo.
- Não tem problema - Ele fala, ainda com a cabeça sobre o meu ombro, nossos corpos estão colados ao ponto que podia sentir a respiração dele subir e descer. - Eles sabem.
Eu viro a cabeça olhando para o seu rosto, o contorno do seu sorriso abre em seu rosto, e o puxo pela nuca e roubo um beijo dele, ele segura o meu rosto, não deixando com que eu recue, nossas bocas se abrem e nos beijamos de novo, dessa vez foi diferente, dessa vez foi mais íntimo do que um beijo possa ser.
- Para falar a verdade - Ele fala depois que nossos lábios se separam - Aquele grupo da festa, a maioria deles são assim como eu, a maioria gosta de pessoas que a sociedade diz que não pode, por isso aquela festa, por isso esse luau hoje, nesse grupo podemos ser quem quisermos ser, podemos ser livres, podemos flutuar.
- Vocês criaram um grupo para poder ser livres? - Pergunto, acompanhando ele quando ele levanta.
- Muitos de nós sofreram coisas horríveis por apenas beijar outra pessoa, alguns já ouviram palavras de ódios, outros foram agredidos, a sociedade não sabe lidar com pessoas como eu. - Ele fala de frente para a cidade abaixo de nós - O grupo foi ideia do Charles, um grupo de pessoas reunidas em determinados lugar, para dançar, beber e ficar, sem ser descriminado, sem ser apontado, sem sofrer preconceito, apenas um grupo de jovens, querendo ser livres.
Ele deixa a cabeça pender sobre o peito de novo.
- Você já sofreu coisa semelhante? - Pergunto virando o corpo para ele. Luiz pensa sobre a pergunta e se vira, mostrando a tatuagem em suas costas.
- Isso foi há cinco anos, eu levei uma facada enquanto voltada para casa, apareceu um homem, gritou que eu era bicha e sem mais e sem menos ele me cortou - Eu passo a mão sobre a tatuagem, onde dá para sentir o relevo de onde foi à facada, ele se vira para mim. - Levei sete pontos, depois que cicatrizou eu fui a um estúdio e tatuei o trecho dessa música.
A tatuagem dele é basicamente uma águia, nas garras ela segurava a bandeira LGBT e logo abaixo tinha a letra da música do Lulu Santos.
"Consideremos justa toda forma de amor"
E na meia luz que vem da rua eu encontro a sua mão, nossos dedos de cruzam, e antes de qualquer coisa eu o puxo para um abraço, sinto todo o corpo dele relaxar enquanto ele me abraça pela cintura.
- Desculpa te arrastar para isso tudo. - Ouço ele falar em um sussurro ao pé do meu ouvido.
- Não peça desculpas por algo que eu queira fazer. - Falo e ele sorri, sinto quando o meu celular vibra no bolso e mesmo em relutância eu atendo a chamada depois de ver o nome de Ester na tela.
- Temos que descer - Falo desligando o celular, os olhos dele me encara, ele confirma com a cabeça. Começo a andar em direção à porta quando sinto o meu corpo ser puxando, nossos lábios se encontram mais uma vez, e cada beijo dele eu me sento mais inteiro do que um dia fui. Abro os olhos e encontro o mar verde dos olhos dele me olhando.
- Seus olhos são incríveis. - Falo, ele faz uma cara de quem não entende, eu sorrio e continuo - Sabe, eu não consigo não olhar para eles.
- Eduardo... - Ele fala, mas eu o calo mais uma vez com um beijo, a pele dele na minha, o modo como ele me puxa para próximo dele me faz querer ter mais dele e como um oceano ele me submerge.
- Temos que ir. - Falo novamente, depois que nossos lábios se separam, meus olhos ainda fechados repetindo toda a cena, ouço a respiração dele, seguido por um suspiro e um sorriso.
Descemos as escadas em silêncio, foi como se tudo o que aconteceu lá em cima tenha sido tão privado e particular que as mais simples palavras pudessem fazer tudo aquilo desmoronar.
Depois de um tempo de caminhada de encontros de ombros, risadas abafadas e olhares trocados, encontramos todos ainda na praça, não estavam todos sentados como antes, eles estavam de pé, todos separados em pequenos grupos, mas tão unidos como jamais percebi, dava para ver o quanto estavam felizes, é perceptível o quanto eles se sentem livres, o quanto nós estamos livres!
- Talvez isso seja um sopro de esperança - Falo, para mim, mas vejo os olhos dele procurando sentindo na frase. - Talvez esse grupo seja um sopro de esperança nesse mundo que insiste em nos sufocar.
- Nos sufocar? - Ele pergunta, eu paro e o encaro, eu podia ficar assim, encarando ele por um tempo e não me cansaria, ele é cativante.
- Aí esta você - Grita Ester ao longe, eu a vejo se aproximando me viro para Luiz e completo o meu pensamento.
- Eu faço tanta parte disso quanto você faz.
Ele sorri, e eu dou uma piscada antes de ir ao encontro de Ester.

A Felicidade tem os Seus OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora