o tempo parece acabar.

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Aya chegou em casa e só assim se atreveu a olhar seu celular, vendo várias ligações perdidas de sua mãe e inúmeras mensagens da mesma. Por sorte, a mais velha não estava em casa agora, mas Aya decidiu que ligar seria a melhor opção.

— Onde você se enfiou, garota? - disse alto no momento em que atendeu o telefone.

— Desculpa... eu dormi.

— Dormiu na escola, Aya? Me ligaram falando que você não foi nas aulas de tarde, por que?

Céus, acabei de falar.

— Como disse, eu dormi. Me desculpa, não queria te preocupar.

— Tudo bem. - Aya a ouviu respirar fundo antes de falar novamente. - Está em casa?

— Uhum.

— Ótimo. Eu vou ficar de plantão hoje de novo, volto de manhã.

— Tudo bem.

— Desculpe por ter gritado com você.

— Não tem problema, desculpa por te preocupar. - repetiu.

— Amanhã te vejo, beijo, se cuide.

Ela desligou sem responder, jogando sua bolsa em qualquer canto e se desfazendo do uniforme pela casa, ficando apenas com a saia e a blusa branca, foi ao banheiro, abrindo o espelho e pegando um frasquinho laranja, tomando dois calmantes de sua mãe. Engoliu sem água, e foi ao seu quarto, se jogando na cama. Pensar que teria que ir pra escola todos os dias, esse ano e o próximo, era quase uma tortura pra garota.

Conectou seu celular na caixinha de som, a qual deixava constantemente ligada, já que estava quase sempre em uso e deixou uma música qualquer que gostasse no momento invadir seus ouvidos.

Um fator da depressão é que o tempo parece acabar.

Segunda, terça, quarta, quinta, sexta, não importa. Seus dias inteiros se misturam pra criar um ciclo infinito e sufocante. Assim que Aya se deitou na cama, já não sabia se passava horas ou apenas se tinha passado alguns poucos minutos. Ela se pega na maioria das vezes tentando se lembrar das coisas que te faziam feliz, mas lentamente, seu cérebro começa a apagar todas as memórias que já lhe trouxeram alegria. E no final, tudo o que ela consegue pensar, é que a vida sempre foi assim, ela sempre esteve encarando o seu teto branco.

Rolava os olhos pra lá e pra cá, encarando o concreto alvo a cima, sentindo as pálpebras pesarem, mas não conseguia distinguir se era de sono ou apenas o efeito do calmante que tomou pouco antes de se jogar na cama.

Não era como se ela tomasse aquilo sempre, só tomava quando sentia seu cérebro virar uma prisão torturante pra si mesma, não gostava de tomar tanto calmante assim. Mas com esse primeiro dia de aula, precisava de um pouco de paz.

Inalou profundamente o ar gelado que o ar condicionado que ficou ligado desde a noite anterior proporcionava, exalando na mesma intensidade. Queria dormir. Então por que não conseguia de novo?

Talvez devesse ter se segurado na escola pra poder dormir confortavelmente em sua cama, mas já era tarde demais pra ficar remoendo algo tão bobo assim. Realmente esperava que os remédios fizessem o devido efeito, precisava de mais tempo com a mente apagada, não aguentava mais ficar imersa em uma imensa vastidão.

Fechou os olhos, sentindo sua mente ficar mais nublada de novo. 

Assim que abriu os olhos novamente, o mundo parecia estar em silêncio. Não tinha ideia de que horas eram, mas ao menos parecia ter dormido por um bom tempo, o que a deixava aliviada. Finalmente não sentia mais aquela dor de cabeça constante que a falta de sono causava, mas momentos assim eram poucos.

𝐒𝐏𝐀𝐑𝐊𝐒, kuroo tetsuroOnde histórias criam vida. Descubra agora