6 - Medo

19 6 9
                                    

Ela: Eu não sabia a quanto tempo ele estava ali, mas quando eu abri os olhos o vi...
- Keylan?
- Oi. - O seu olhar estava triste.
- Você vai ficar?
- Se você me convidar...
- Entra.
Ele entrou, então eu voltei a dormi.

Ele: Eu podia ouvir mais de um coração batendo...eu não sentia medo, nem raiva...apenas amor, felicidade e paz. Era incrível.

Ela: Eu acordei com ele do meu lado, sua mão estava pousada sobre a minha barriga.
- A Kênia esta nos esperando.
- Tudo bem.
Ao sair de casa encontramos a Kênia em uma cafeteira no parque.
- Primeiramente, é necessário que vocês entendam que o que aconteceu com vocês não é comum.
- Que parte?
- Todas elas.
- E o bebê?
- Bom, eu pesquisei e...
- E o quê...?
- Eu não encontrei quase nada. Não é comum humanas engravidarem de noturnos.
- E o que mais?
- Há muitos riscos.
- Que tipo de riscos?
- O bebê pode nascer muito antes ou muito depois, pode não nascer e...
- E o quê, Kênia, fala...
- Você pode morrer no processo, Lou.
- O quê?
- Como eu já disse, não é comum , então não há muito o que pesquisar.
- Você vai tirar essa coisa...
- Não.
- Isso pode custar a sua vida.
- Eu não ligo.
Eu dei as costas e sai correndo e voltei para casa.

Ele: Eu não sabia o que fazer.
- Droga!!! Eu não posso perder ela!!!
- Desculpa, Keylan...isso tudo é culpa...
- Sua!!! Eu não queria e você... Mas agora eu quero, e eu não sei o que faria se a perdesse. Kênia, por favor...
- Eu vou continuar pesquisando. Eu vou encontrar alguma coisa...eu juro...fica calmo, Keylan.

Ela: Voltei para casa correndo e fui direto para o meu quarto, chorei muito abraçada ao meu porquinho azul.
- Desculpa.
- Você não devia ter dito aquilo. Eu estou tão assustada quanto você.
- Eu sinto muito.
- Tudo bem.
- Eu te ouvi.
- Como é?
- Ontem. "Vamos ficar bem, bebê. Não se preocupe. "
- Eu estava na casa do meu pai e o bebê chutou forte. Eu disse isso para acalmar ele.
- Ele? É um menino?
- Eu não sei. Não deu para ver.
- Como assim?
- Eu fui na clínica do tio da Fabi. Ele bateu a ultra, mas ele não conseguiu ver nada. E nas minhas contas eu estou com quatro meses, mas nas contas dele eu estou com seis.
- Gravidez acelerada.
Ele passa as mãos no rosto e nos cabelos.
- Calma, posso te mostrar uma coisa?
- Claro.
- Me da sua mão...feche os olhos...

Ele: No começo eu não senti nada, mas depois... Depois eu senti os corações batendo, forte e rápido. Eu me senti aquecer. Me senti tão feliz...
- Nossa, que lindo...
- Viu, é por isso que eu vou lutar por ele.
Eu a beijei.

Ela: Desde que fizemos as pazes com o meu pai passamos todos os finais de semana com ele.
- Oi, pai.
- Bom dia, filha... nossa!
- Porque o espanto? A minha gravidez não é novidade e nem segredo para ninguém.
- Eu sei. Só não esperava que sua barriga estivesse tão grande.
Era mesmo de se espantar, a minha barriga de quatro meses estava com tamanho de seis.
- E então, filha, quando vamos conhece-lo?
- Pai...

Ele: Eu tinha acabado de chegar na casa dela.
- O que houve?
- O meu pai quer te conhecer.
- O quê?
- É.
- Não acho que isso seja uma boa idéia.
- Por que não?
- Eu não sei se você percebeu, mas a única pessoa da minha família que você conhece é a Kênia...
- E tem mais? Quer dizer, vocês tem laços afetivo...
- E sanguíneos. Somos filhos biológicos dos nossos pais.
- Mas, como é possível?
- Não sabemos.
- E quem falta...?
- Meu pai e mais um irmão, o Kemuel.
- E qual o dom do Kemuel?
- Ele é muito inteligente, rápido, forte e...e bonito.
- E o seu pai?
- Ele é um dos antigos. Os dons dele são diferentes...Para ele e para o meu pai os norm's são apenas fontes de alimento para nós. No dia que vocês foram lá em casa nós tivemos que chamar algumas jovens para "limpar" a casa. Só para encobrir o seu cheiro.
- Meu Deus...
- Mas pode ficar tranquila, eles não desconfiam de nada. Eu e a Kênia tomamos cuidado.

Ela: Eu fiquei com medo do que ele me disse. Apesar dele dizer que eles não saiam sobre nós, minha família era a coisa mais importante para mim... Certo dia durante uma caminhada...
- Surpresa!!!
- Que susto, Keylan.
- Desculpa. Vim te trazer um presente.
- Sério?
- Espero que goste.
Eu abri o embrulho colorido e vi uma manta branca linda bordada com fios dourados...
- Nossa, Keylan, ela é linda. Obrigada.
Falei com os olhos cheios de lágrimas.
- De nada, minha princesa.
- Sabia que encontraria vocês aqui.
Eu gritei.
- Hoje vocês tiraram a noite para me dar susto.
- Desculpa, cunhada. Eu preciso falar com vocês urgente.
- Descobriu mais alguma coisa?
- Na verdade sim...
- Então fala logo...
- Existe uma antiga lenda que fala sobre um ritual entre espécies diferentes.
- E o que diz essa lenda?
- Fala de um casal que para viverem eternamente unidos, fizeram um tipo de ritual com troca de sangue entre os dois.
- Mas vocês disse "espécies diferentes".
- Uma deles era eterno.
- Eterno?
- Outro termo para noturno.
- Com esse ritual eles ligaram a alma de um ao outro.
- Resuma, Kênia. O que isso tem haver com a gente?
- Nós trocamos sangue.
- A ligação permite que tudo o que um sentir o outro também sente.
- Tudo?
- Tudo.
- Isso explica muita coisa.
- E o bebê ?
- Pelo jeito ele é um eterno.
- Na verdade, ele pode não ser.
- Como?
- Eu sei que a gravidez está meio acelerada, mas da união desse casal da lenda surgiu um híbrido, meio humano, meio eterno. Pode ser que ele nasça humano como você, cunhada ou eterno como você, Keylan...ou híbrido, mas isso é muito raro.
- Ele pode...
- Vocês falam ele, ele, ele...como vocês sabem que é um menino?
- Não sabemos. - respondemos juntas, e começamos a rir feito duas loucas.

Ele: Em casa, os nossos dias se resumiam em ficar no escritório de casa ou na biblioteca do meu pai...
- O que você tanto pesquisam, Keylan?
- Não é da sua conta, Kemuel.
- Vocês andam muito estranhos.
- Me deixe em paz, Kemuel.
- Só lembre-se que o festival da lua está chegando. E o papai quer todos juntos.
- Eu tinha me esquecido. Tudo bem.

EM NOITES DE LUAR Onde histórias criam vida. Descubra agora