11 | Flutuar (Segunda-feira)

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Wanna tinha pensado bem sobre Ondy. Tinha pensado em se abrir e deixar seu pulmão esvaziar. Dependeria do que ele pensaria.

A vida para Ondy não poderia significar muito. Tudo o que ele está sendo tem a ver com sua única amiga.

Wanna.

Eles estavam andando pelo caminho lamacento até o lago. Wanna tinha dito que o ensinaria a nadar depois da escola. Os dois inventaram desculpas de "vou dormir na casa de um amigo (a) para fazer os deveres".

— Eu tenho aprendido a nadar até hoje — Wanna avisou.

— Eu só sei flutuar — ele respondeu.

— Você quis dizer boiar.

— Espero não flutuar mais — insistiu Ondy.

— Eu tive um sonho engraçado domingo. — Ela começou, a sua voz estava confiante, mas as mãos tremiam um pouco quando tirou a camisa.

Ela tinha ido de biquíni por baixo, mas Ondy, como tinha descoberto a ideia dela já no final da aula, ficou um pouco tímido por não ter roupa de banho. Foi sorte ter trazido o calção da Educação Física.

Ela caiu na água s endo acompanhada por ele.

— Eu estava com meu melhor amigo — voltou a contar —, e ele ficava branco... e ia morrendo aos poucos.

Ondy analisou bem o rosto molhado de Wanna. Ela parecia estar nervosa.

— Tinha sido depois da nossa discussão, quando eu disse que o amava e por isso não iria dar nenhuma comida a ele. Eu disse "vá se ferrar e leve sua namorada junto".

Ela ficou quieta, vendo o rapaz assimilar suas palavras.

— Ele disse "e se eu decidir ir embora, Wanna baby?". Sua voz estava doce como sempre. Respondi "espero que o seu embora signifique a morte".

Ondy pôde sentir a dor que a voz de Wanna despejava.

— Suicídio. Essa foi a resposta dele.

Lágrimas ou gotas da água do lago desceram por suas bochechas magras.

Ondy estava agora fazendo o que dissera antes. Flutuando.

— Se afogou — sussurrou ela.

A voz parecia distante.

— A minha melhor amiga não existe. — A resposta dele foi essa.

Um ponto de interrogação apareceu no semblante dela.

— Ela era uma amiga imaginária. Não consiga vê-la mais. É como se minha imaginação estivesse limitada.

Os dois flutuaram para longe. Sentiram-se perdidos em seus próprios devaneios.

A noite está mais escura do que o habitual. A tristeza parece maior que a causa. A agonia de inexistência bate na porta de qualquer um. Só querem uma hora dizer "já chega, eu desisto".

Só querem uma hora esquecer aquilo que é árduo guardar.

Só querem amar um pouco e viver normalmente.

— Vai ficar tudo bem? — Wayne pergunta.

— Não irei me matar, doce de leite.

— Não sou fruto de sua imaginação — e finalizou: — E se for, espero que ela não se limite nunca mais.



Fim.

História dedicada a D.

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