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Quando cheguei ao bordel de Pansy, ele estava silencioso, e as pessoas dormiam. Era cedo ainda para aqueles que passavam as noites acordados, entre música e risos, e outras atividades que faziam minhas bochechas arderem ao pensar nelas. Quando espiei por trás do vão da escada, surpreendi-me ao ver Pansy conversando com ninguém menos que Marino Romanowski. Minhas orelhas pareceram subir como as de Mordred aos meus pés e nós ficamos parados, ouvindo a pequena discussão.

"... Já lhe disso que isso é inadmissível, Sr. Romanowski. E nenhum dinheiro fará com que eu mude de opinião." Pansy falou secamente, em seu tom mais inflexível. Marino não pareceu abalado pela negativa.

"Você quem sabe, senhorita Parkinson... eu não quero que isso soe como uma ameaça, mas eu poderia comprar seu bordel se eu assim decidisse, e então eu o teria, quisesse você ou não." Marino falou suavemente. Ele estava sentado com as pernas cruzadas em um dos sofás confortáveis do bordel, os braços cruzados graciosamente sobre o peito largo.

Pansy permanecia em pé. Ela nunca conseguia sentar quando estava incomodada, desconfortável ou irritada. Olhava para Marino com o semblante rígido, mas sua expressão não demonstrava uma ruga sequer de medo. Eu a admirava demais por sua força e atitude perante as pessoas e o mundo.

"Ele tem apenas quatorze anos, Sr. Romanowski, e possui feridas, não físicas, mas emocionais, que o senhor não compreenderia. Não permito que o tome como seu. Não agora, não tão cedo." Pansy disse, e então eu soube que eles conversavam sobre Andrej.

Marino Romanowski era novo na cidade, pelo que eu ouvira na festa, na noite anterior. Chegara à cidade junto com Cho Chang, apesar de não terem qualquer parentesco. Talvez apenas amizade. Ou algo mais. Imaginei que Marino deva ter-se cansado da festa e vindo então ao bordel. Eu sabia de vários homens que ofereciam vultuosas somas de dinheiro para ter Andrej, mas Pansy sempre se negava a aceitar qualquer que fosse a quantia oferecida.

"Se você não queria que ele se envolvesse nesse 'mundo', Srta. Parkinson, deveria tê-lo deixado longe dos olhos dos outros." Marino levantou-se. "Quero-o pronto para uso essa noite. Não aceito desculpas. Ele cedo ou tarde começará a receber pessoas em sua cama, então que seja cedo, e comigo."

Pansy torceu os lábios, mas não falou nada enquanto Marino levantava-se e dirigia-se à saída do bordel pela porta principal. Ele saiu com a capa farfalhando às suas costas e os sapatos caros estalando no piso de mármore perolado do salão. Assim que a porta dupla de carvalho fechou-se às costas do homem, eu saí de meu 'esconderijo'. Toquei o braço de Pansy, sentindo-a rígida de tensão.

Ela se sobressaltou e olhou-me para mim surpresa por um momento.

"Draco!" Ela levou a mão ao peito. "Você é silencioso como um gatinho arteiro. Não o escutei chegar." Pansy sentou-se no sofá, suspirando, e passou a mão pelos longos cabelos negros, que estavam soltos agora, o que lhe dava um ar mais jovial.

"O que Marino queria?" Perguntei, sentando-me sobre uma de minhas pernas ao lado dela. Pansy balançou a cabeça.

"Ele apareceu aqui tarde da noite. Quase todas as garotas e rapazes já estavam ocupados, mas ele adquiriu um interesse bastante peculiar por Andrej, ao vê-lo cantar e dançar. Veio falar comigo, mas eu lhe disse que Andrej não faz mais do que apresentações no palco. Mas ele o quer, Draco. Não sei como dissuadi-lo. Ele é novo na cidade, mas é um homem poderoso. Não posso negar seus desejos se estes forem mais fortes que os meus." Pansy pareceu-me, pela primeira vez, exausta.

"O que Andrej acha disso tudo?" Perguntei. "Onde ele está?"

"Está dormindo. Mandei-o se retirar assim que percebi o interesse demasiado de Romanowski." Ela acariciou distraidamente meus cabelos. "Sei que Andrej, assim como você, passou por maus bocados. Não gostaria de expô-lo. Por mim, ele nunca se prostituiria nessa casa. Ele tem estudado, Draco. Ele diz que, algum dia, irá estudar em uma universidade, será culto, e então voltará, para cuidar de mim e dos meus pupilos. Que vai ser rico e nos protegerá." Pansy riu, triste, da ingenuidade de Andrej, e até eu abri um pequeno sorriso.

Era uma vez em Veneza (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora