Era uma vez em Veneza (Concluído)

14

A maneira como Harry sugou meus lábios fez com que eu não conseguisse pensar direito. Meu corpo entrou ebulição, como se até aquele instante estivesse perto, muito perto disso, apenas esperando o momento em que poderia ferver como água jogada contra uma chapa quente. Eu gemi enquanto sentia seu corpo pressionado contra o meu, e sua língua ondulando contra minha, instigando-me e causando-me um prazer que beirava o absurdo.

Harry deslizou uma das pernas por entre as minhas e eu ofeguei pela intensificação do prazer e gemi o nome dele, meio assustado, meio entregue. Não. Completamente entregue. E demorei a perceber que, logo após isso, ele se afastou. Continuei com os olhos fechados, ofegante, com meu peito subindo e descendo acelerado, mas abri as pálpebras trêmulas ao sentir seu olhar sobre mim.

"Era isso que você estava querendo nas últimas semanas?" Ele perguntou, rouco, mas com um toque de irritação em sua voz que me deixou apreensivo. Seus olhos eram abrasivos, mas não menos hipnotizantes.

"Não," Falei torcendo para que minha voz não saísse tão fraca. "é o que eu venho querendo pelos últimos anos." Tentei soltar os pulsos para poder tocá-lo, mas o aperto de Harry continuava tão firme quanto antes.

"Mas só há pouco vem tentando me seduzir." Ele replicou, e meus lábios se partiram de surpresa. "Você achou mesmo que eu não iria perceber?"

Desviei o olhar, corado e irritado, com a certeza de que ele havia me beijado para tirar sarro das minhas tentativas. Ele havia percebido e deveria me achar uma criança estúpida e ridícula por tentar seduzi-lo com truques baratos. Senti meus olhos arderem de vergonha e humilhação.

"Pansy disse-"

"Ah, mas é claro que Pansy teria um dedo nessa história," Harry falou enraivecido e se ergueu. Sentei-me ao vê-lo se afastar, passando a mão pelos cabelos molhados e jogando-os para trás. Enchi-me de raiva e despeito e me ergui também.

"Por que você me beijou?" Exigi saber, com meu tom engasgado, mas firme. Apertei meus punhos fincando meu olhar nas costas largas dele. "Harry, me responde!"

"Vamos voltar." Harry demandou e seguiu para seu cavalo, esquecendo sua camisa e sapatos e montando exatamente como estava. Abri e fechei a boca, mas não tive opção que não segui-lo, pois ele não parecia disposto a me esperar. Vesti-me rapidamente e corri para meu cavalo, montando-o atrapalhadamente pela pressa e galopando então atrás de Harry.

A viagem de volta foi tensa, silenciosa e desagradável. Ele evitava me encarar por mais que eu o fuzilasse com meus olhos cinzentos, e sua expressão era impassível e distante, como se eu não estivesse ali. Meu coração batia feito doido no peito e eu sentia vontade de gritar para que ele falasse alguma coisa, qualquer coisa, e que de preferência me explicasse o que se passava por sua maldita cabeça.

Esperei até que chegássemos ao palazzo para fazer isso. Ele seguiu para o próprio quarto, provavelmente para tomar um banho e trocar de roupas, mas eu fui atrás dele e entrei no aposento antes que ele tivesse chance de fechar a porta.

"Você é um idiota!" Acusei andando até o centro do cômodo e me virando para ele. "Ou melhor, você é um covarde!"

"Draco-"

"Não! Agora você vai me escutar!" Exclamei em um rosnado inflamado. "Você não tinha nenhum direito de me beijar e depois agir assim! Se você não me quer, diga agora e me mande imediatamente para Pádua! Mas pare de me tocar de maneira gentil e carinhosa, ou falar palavras bonitas, e me beijar, para depois fugir como se repugnasse a ideia! Você está sendo um completo covarde! Muito menos homem do que eu pensava que você era!"

Parei para respirar ruidosamente, encarando-o com raiva. Havia certa culpa misturada à impaciência em sua expressão, mas isso não fez com que minha cólera diminuísse. Meu coração batia tão rápido que eu achava que explodiria em meu peito. Tudo que eu queria era despejar o que estava entalado em minha garganta há anos e acabar logo com esse sofrimento e angústia.