Capítulo Único - Somos livres como...

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She's like a rainbow! Coming colors everywhere! Vai, Jongin, canta!

O clima temperado do nordeste texano era testemunha da felicidade expressada pelos melhores amigos. O Cadillac Deville corria em seu limite, na maior velocidade que era capaz de alcançar. Os fios pretos de Sehun misturavam-se numa bagunça cativante, acompanhado do cigarro pela metade brincando em seus dedos e do sorriso charmoso estampado em seu rosto.

Oh, everywhere! — completou o moreno.

O calendário marcava doze de abril quando decidiram ir embora. Em meio aos balões de aniversário coloridos, largados no meio do salão de festas vazio e tendo como parceira a velha garrafa de uísque do Senhor Oh, decidiram dar o fora daquele lugar o mais rápido possível. Austin pensava pequeno, dentro da linha, e aquilo era demais para eles. Sehun e Jongin queriam ver o mundo, tinham ambição.

Meio bêbados, trocaram um beijo atrapalhado com gosto de álcool. Ali, selavam a proposta de que sairiam do Texas o quanto antes. Não tinham tempo para mentes fechadas e discursos preconceituosos, já estavam em sessenta e nove afinal.

Um mês de cálculo e observação se seguiu. Bastou que Jongin descobrisse onde o pai colocava as chaves do carro e que Sehun fizesse uma ou duas ligações para que estivessem de mala e cuia, enfrentando trinta e duas horas espremidos num carro pequeno que, depois de meia hora, já fedia a cigarro. "Maldito seja o vício do Sehun", dizia Jongin.

Não foi fácil para Sehun, sempre corajoso e impulsivo, convencer Jongin de que não passava de conversa boba de gente bêbada. O moreno era medroso, cauteloso, pessimista e sabia que, caso decidisse fugir, seus pais não fariam a mínima questão de olhar em sua cara por um bom tempo — talvez nunca mais.

O Oh teve, então, de ser duro com Jongin. Por vinte e um anos, pisava em ovos para não magoá-lo, partia seu coração pensar na hipótese de acabar com o sorriso doce do rosto iluminado, mas, naquelas circunstâncias, não hesitou antes de jogar toda a verdade em sua cara:

— Olha 'pra sua vida, Jongin! Você gosta do que faz? Gosta de vestir essas roupas engomadinhas, de não falar palavrão, de ir àqueles jantares beneficentes recheados de gente preconceituosa? Gosta de ir à missa todo domingo para ouvir o Pastor Jones dizer que pessoas iguais a nós irão arder no fogo do inferno? Ou prefere almoçar com a Chrystal todo sábado porque sua mãe tem certeza de que vocês dão a porra de um casal lindo e que, em breve, ela terá vários netinhos correndo pela casa? Não acha que já está grandinho demais para que o Senhor e a Senhora Kim vivam a sua vida por você, cara? Me diz!

Foi aí que Jongin, já em casa, sozinho, se encarou no espelho. Sua mente, como sempre traiçoeira, repetia em looping as perguntas de Sehun.

"Você gosta do que faz?"

"Gosta de vestir roupas engomadinhas, de não falar palavrão?"

"Gosta de ir aos jantares beneficentes? De ouvir o Pastor Jones dizer que vai queimar no fogo no inferno?"

"Gosta de almoçar com a Chrystal?"

Porra, não! Não para todas aquelas malditas perguntas. Não para os idiotas racistas dos jantares beneficentes, para os homofóbicos da igreja, não para a Chrystal — que, definitivamente, não seria a mãe de seus filhos. Até porque, se Jongin os tivesse, eles não teriam uma mãe.

Para ser sincero, não imaginava-se apto a ter uma família algum dia. Sua família era Sehun, e, pelo amor de Deus, sabia que nem mesmo o maior ato de perdão do Senhor seria capaz de perdoar o que passava por sua mente quando perguntado sobre os netinhos que daria à mãe.

Girassóis de Van GoghOnde histórias criam vida. Descubra agora