Prologo

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Floresta de Greenvale, 1892.

No castelo situado na clareira, havia vários guardas vigiando sua entrada. Nem nada nem ninguém poderiam entrar na fortaleza onde o rei debatia com seus ministros sobre o que fazer com os irmãos Roberts, que estavam separados. A mais nova estava presa e o outro havia fugido.

Mas dali a alguns segundos, a situação mudaria drasticamente. Os guardas estavam caindo em uma batalha com dois jovens, um lobo e um humano. Gabriel, o lobo, ia à frente, enquanto Grant Roberts corria para as masmorras para resgatar Rebecca, para os três fugirem dali imediatamente.

Tudo estava indo como planejado. Grant aprendera que se tudo estava indo bem, aconteceria algo bastante ruim no final. Rebecca olhou para os olhos cor de floresta do irmão que andava sempre preocupado com alguma coisa.

—Grant, está tudo bem? Parece preocupado.

Ele bagunçou os cabelos escuros, e não olhou para irmã, nem chegou a respondê-la de fato. E logo começaram a caminhar em direção a floresta e logo quando adentraram na trilha, guardas começaram a perseguí-los. As capas dos dois irmãos esvoaçavam ou se prendiam nos galhos enquanto corriam freneticamente.

Rebecca cobriu o rosto com a capa vermelha, e Grant se ocultou debaixo da sua capa negra. Os guardas estavam a passos de alcança-los e Gabe os acompanhava na forma humana, com os olhos claros guiando o grupo. E enquanto fugiam os guardas finalmente encurralaram o trio. O jovem de capa negra encontrou uma brecha nos guardas e sussurrou para os outros dois, avisando que distrairia os guardas e iria logo atrás.

—Tudo bem, mas venha logo, Grant. —Rebecca falou, em um tom preocupado—

—Claro que vou logo. Já me viu faltar em alguma coisa, Rebecca?

A irmã negou e seguiu Gabriel, que estava correndo e gritando para ela vir logo. Por volta de quinze minutos depois, Grant estava em uma trilha alternativa, que o levaria para o mesmo lugar que estariam a irmã e o lobo. Reclamava que a trilha era longa e que parecia não terminar, mas ele não queria ir à parte mais densa da floresta. Não sabia o que custaria aquela teimosia.

Ele estava caminhando na floresta com arvores mais separadas, procurando por Rebecca e Gabe, quando pisou em alguma coisa. Sentiu uma dor fina em seu rosto, e ao tocar no local, sentiu um ardor e pôde ver o sangue em suas mãos, mas antes que pudesse ter qualquer outra reação, voltou a sentir algo cortando seu braço e perna, simultaneamente. Arrancou o objeto do seu braço para ver que era um gancho usado  na captura de lobos, e ali soube que era um homem morto.

Os ganchos são usados para agarrar a pele, e apenas sai arrancando a parte que está presa, e os fios cortam até a mais densa rocha. Ao jogar o gancho no chão, um fio causou um corte profundo em seu tórax, fazendo-o berrar de dor, que piorou quando um gancho em ação conjunta a um fio machucou a região de seu ombro.

Tentando se livrar da dor agonizante, levantou a mão para se livrar do gancho em seu ombro, porém, seus dedos foram levados pelo fio. O rapaz voltou a gritar, agonizado pela dor da perca dos dedos da mão direita. Diversos ganchos acertaram suas costas como facas, e ele caiu no chão.

Estava gritando de dor, implorando por socorro, mas nenhum sinal de Rebecca, e nem do lobo. ''Mal agradecidos'',pensou, e tentou emitir outro grito, mas engasgou-se com o sangue e o cuspiu em tosses.

—Malditos. Realmente irão me deixar morrer enquanto fogem do rei? Covardes.

Por ironia, Gabriel estava lá, ouvindo a agonizante tortura, e para poupar a garota, mandou-a ir à frente. Não pôde mover um dedo para ajudar Grant, que enquanto definhava, amaldiçoava Deus e o mundo, dizendo que eram merdas e que por culpa dos caçadores desgraçados ele estava morto agora.

—Quanta agonia Grant. Eu não... desculpe. Eu não consegui ajudar você, eu temia pela minha vida. —falou, ao caminhar na direção do rapaz e sua poça de sangue. —Eu realmente sou um idiota. Devia ter ajudado você.

Ajoelhou-se ao lado do corpo, e fechou os olhos do rapaz, e limpou o sangue que escorria dos lábios dele, e foi retirando os ganchos do corpo e o segurou nos braços, com o rosto sereno de quem havia acabado de dormir.

—Ah Grant, se você tivesse aguentado mais um pouco, você teria saído desse mundo. Mas acho que você não tem culpa.

Enquanto caminhava de volta ao castelo, um grito feminino foi ouvido, exatamente na direção em que estava indo. Era questão de tempo até ela morrer, e o ciclo recomeçaria dali a vinte anos, onde mais dois irmãos seriam obrigados a entrar nesse estupido jogo e arriscar suas vidas, para ter a que tinha de volta.

Os guardas deixaram-no entrar, e caminhou para as masmorras, onde o rei estava com a garota sob tortura, mas antes eles saberiam da morte do garoto. Rebecca balbuciou baixo ao vê-lo com o corpo. O rei não parecia surpreso.

—Quem... de quem é esse corpo, Gabe?

—Do Grant, Rebecca.

Ao ouvir aquilo, ela começara a chorar e gritar em desespero, e pedia para morrer logo, para se juntar ao irmão. O rei meneou a cabeça e falou para ela esperar, já que seria questão de tempo para ela morrer.

—Cala a boca, Rebecca. Não fique agindo como você tivesse sido a única a sofrer por ele. Você teria ficado lá, me perguntado de quem era os gritos de agonia, mas estava desesperada demais que nem se lembrou dele. Eu o vi morrer, agonizar e pedir socorro, enquanto tentava sair de uma armadilha para lobos. E o pior foi que não pude fazer nada.

O rei sorriu diante da afirmação, quase como se tivesse planejado tudo aquilo. Foi quando Gabe se lembrou de que Grant havia aprendido a localização de todas as armadilhas, e não havia nenhuma próxima do castelo. Aquela havia sido plantada lá propositalmente.

—Foi você, não foi? Pra que fez isso? Estava tão apressado para recomeçar o ciclo? Teve alguma de suas estupidas visões futuras?

—Digamos que sim. E se são visões, claramente são do futuro. A morte do garoto queimou seus miolos? Os próximos que virão vão fazer algo sobre a maldição. Algo que...

—Não diga. —o lobo falava com ironia — Vai acontecer a mesma coisa. Sempre acontece a mesma coisa. Tirando o Hughes, que enlouqueceu. Bem, a garota acabou de morrer por perda excessiva de sangue. Até daqui a vinte anos, Majestade.

—Até logo, lobo branco. Tenha mais cuidado na próxima vida. E cuide direito do seu irmão, ele será guardião da garota. E. meu filho e minha irmã estão voltando de viagem, então considere os próximos muito azarados.

A lenda da capa negraWhere stories live. Discover now