O mundo criado por ela, a Deusa da Vida, era simplesmente terrível. Era confuso, ela queria criar algo ideal, mas toda criatura precisava destruir algo para manter a própria vida. Era relativamente pacífico, talvez até demais, entediante eu diria. As vezes a Deusa dormia por anos a fio, sem nada mudar ou nenhuma criatura nova surgir, chegou num ponto em que ela achou que deveria criar algo mais interessante, se superar. E se alguma criatura fosse capaz de pensar da mesma forma que ela? Era um desafio, o que uma criatura faria com esse tipo de pensamento? Tentaria se opor a Deusa ou a amaria? Ela sentia tanta falta de incertezas que escolheu correr o risco, afinal se esse mundo desse errado era só o destruir e recomeçar.
Ela então resolveu dividir seu mundo em 8 reinos, com uma criatura semelhante a si em cada uma e responsável por ele. O reino dos mortos, da luz, da tempestade, do mar, da pedra, das raízes, do vento e da vida, sua casa. Por último, ela dividiu uma parte do seu poder em 8 cristais, um para cada reino, que sustentava cada um deles, mas tudo bem, o cristal da vida era o único que mantinha controle sobre todos os outros e este sempre estaria sobre seu poder e de seu filho semelhante. Em toda sua sabedoria, era fácil supor, um ser semelhante seria sábio como ela era.
Milhares de anos depois, o desequilíbrio do planeta mantinha a Deusa satisfeita e muito bem ocupada, seus 8 filhos haviam criado mais semelhantes a eles e populado os reinos com o poder do cristal e com criaturas tão complexas o caos era garantido e muito bem recebido, ao menos para a Deusa. O único local do qual ela não suportava o caos era no seu próprio reino. Ela vivia em um palácio e no próprio reino como uma de suas criaturas, era adorada e respeitada por todos, exceto por seu próprio filho e Guardião do Reino da Vida. Vita não se interessava pelo caos provocado pela mãe e prefere ficar trancado em seu quarto, fazendo experimentos com suas próprias criações.
Os seres do reino da vida eram seres humanoides assim como a Deusa e Vita, pequenas flores e folhas, das mais variadas cores, saiam misturadas a seus cabelos. Caules de plantas cresciam em seus ossos, perfurando seu caminho até a pele onde desabrocham pequenas flores e até mesmo frutos na época certa. Vita criava animais de diferentes tipos, sempre misturados a plantas, folhas e flores e era o que mais adorava fazer em seu quarto, por ser criado pela mãe, talvez fosse o mais infantil de seus irmãos.
Em um momento muito importante para tudo que irá se seguir, Vita sentou-se no jardim do palácio durante uma noite de luas cheias. Seu gato, de pelos verdes longos e compridos e pequenas asas nas costas, se juntou a ele. O rapaz então pegou a jarra que trouxe consigo, água misturada a pó das luas, que às vezes se aproximavam tanto do reino, que ele conseguiu fazer com que a areia delas viajasse até ele por anos até que ele pudesse colocar no jarro, e jogou a água no chão com cuidado formando um círculo.
— Lo, esse é um momento muito importante, eu nunca usei esse pó antes. – Lo miou em resposta. – Eu sei, mas mamãe não pode ficar sabendo, é uma surpresa.
A água brilhava, e a luz das luas fez com que ela cintilasse. No meio do círculo, se formou uma espécie de espelho, mas sua superfície se mexia como um mar agitado, o gato olhou para Vita e miou mais uma vez.
— Não há com o que se preocupar, Lo. – Ele se aproximou do círculo e com cuidado, o tocou com a ponta do dedo, subitamente uma mão agarrou a dele. Em desespero ele se jogou para trás puxando a pessoa para fora do espelho movimentado, que desapareceu.
Vita encarava a silhueta que ainda segurava sua mão. Ela poderia ser semelhante a ele, se não tivesse nenhuma planta de qualquer tipo saindo de si. A moça estava de olhos arregalados e por muito tempo não soube o que dizer. Até que o grito finalmente saiu.
— Acalme-se, criatura.
— Onde eu estou? – Ela fala com a voz trêmula.
— No reino da vida.
Ela olha ao redor as árvores brilham fluorescentes, com folhas de cores roxas, rosas e azuis. O rapaz que a encara tem uma flor branca crescendo na bochecha.
— Eu... Tava no shopping, em São Paulo?... Eu só bati no espelho sem querer... Isso é algum tipo de cenário?
Vita encarou Lo, que miou novamente e Vita revirou os olhos, o gato realmente o avisou dos riscos.

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Os Oito Reinos
FantasyUma Deusa entediada decide criar oito reinos caóticos e desequilibrados. Seu filho metade planta e mimado teleporta Camila pro mundo deles por puro acaso, o que pode dar errado quando a Deusa está disposta a ir até onde for possível pra matá-la? Cap...