DOCE VENTURA - SPIN-OFF de Doce Tentação e Doce Veneno

Capítulo 26.

Capítulo 26.

Giovana

Foi como se eu estivesse dormindo. E de repente conseguia ouvir ruídos ao meu redor, mas não conseguia abrir os olhos e decifrar o que aqueles sons eram de verdade. Eu estava presa dentro de mim. Como uma borboleta dentro de um casulo.

Eu queria acordar, queria mesmo, mas me sentia tão fraca para fazer qualquer outra coisa além de dormir. Até que a voz de Victor me despertou. E quando eu abri lentamente os olhos e a luz ofuscou minha visão, eu soube que finalmente estava de volta.

Depois que eu acordei, minha mãe veio me ver no hospital. Ela se desculpou por ter tentado tirar Nina de Victor, disse que estava assustada e que queria acertar com minha filha o que errou comigo. Eu sabia que ela havia ordenado que desligassem os equipamentos que me mantinham viva, no início eu fiquei em choque e me perguntei como ela abriu mão de mim assim? Mas depois eu resolvi deixar isso de lado. Não me faria bem algum ficar martelando sobre isso. Ela fez o que achava que devia fazer. E no fundo sou grata por isso, de repente, se o meu corpo não tivesse sido obrigado a reagir eu ainda estivesse em coma. Tudo acontece por um motivo, nada nessa vida é por acaso.

Sobre Vicente, a única coisa que Victor me disse, era que ele não iria mais ser um problema. Ele havia prometido nos deixar em paz e estava se mudando para outra cidade. Eu nunca imaginei, no ano em que trabalhei para ele, que Vicente fosse esse tipo de pessoa. Que ele fosse capaz de matar uma pessoa, por pura birra e dor de cotovelo, mas ele era. Então quando Victor falou sobre isso vagamente, eu resolvi confiar na palavra dele e esquecer todo o resto. A justiça, infelizmente, é falha e sempre tende pro lado de quem tem mais dinheiro, por isso saber que ele estava longe e não iria mais tentar nada contra a minha família e eu, já era o suficiente.

Eu continuei no hospital, sob observação o que pareceu uma eternidade, mas foi apenas um mês. Por mais que eu tivesse acordado, de acordo com o médico, pelo dano que meu cérebro sofreu, talvez eu tivesse alguma sequela. Dito e feito, eu estava com muita dificuldade em andar. Algo que um dia fiz automaticamente, hoje eu tinha que pensar em pôr um pé na frente do outro e ter muita paciência para chegar até o meu objetivo. É difícil e eu quase chorei quando percebi que minhas pernas não seguiam meus comandos da mesma forma que antes, mas então me lembrei que poderia ter morrido e a gratidão tomou conta de mim. Sem falar que eu preciso parecer forte, não posso deixar Victor me ver abatida. De acordo com minha sogra, ele entrou em desespero, só por pensar em me perder, então se eu tiver que guardar minhas lágrimas pros momentos em que estou sozinha, é o que eu vou fazer.

A primeira coisa que fiz, depois de receber alta do hospital, foi ir até o cemitério, deixar flores ao meu pai. Foi bom termos nos acertado. Meu único arrependimento, foi não termos ficado de bem antes. Mas acho que isso é característico do ser humano… ficamos remoendo feridas antigas e acabamos deixando o tempo passar. Perdemos tempo, ao invés de curar as feridas da alma e isso às vezes nos custa caro no futuro. Nos deixa arrependimentos, que já não podemos mais consertar.

Ele foi um bom pastor dentro da igreja, sempre ajudou aos irmãos de fé. E mesmo que não tenha sido o melhor pai, ele fez de tudo por mim, pelo menos até o momento em que decidi fazer minhas próprias escolhas e viver minha vida, cercada pelos meus próprios ideais. Eu espero que ele esteja em paz, e que no fim ele tenha achado que valeu a pena viver da forma em que viveu. Eu sei que eu estou em paz. E que vou ser tão feliz quanto eu puder.

Outra mudança na minha vida, foi que eu fui levada para a casa de Victor e não para a minha. De acordo com ele, eu ainda estava me recuperando e ele queria ter certeza de que eu estava bem, por isso tinha de ficar em sua casa, para ter sempre alguém comigo. Com essas palavras, sua cama de solteiro, que uma noite dividimos, foi substituída por uma cama de casal. As prateleiras com seus troféus de jogos de futebol do ensino médio, foram substituídas por um berço para Nina. Tudo o que representou sua adolescência, fora substituído para o que representa um homem comprometido e pai.