As noites sempre foram silenciosas, envoltas em uma calma que quase parecia mágica. Mas tudo se transformou quando ela se mudou para o apartamento ao lado. As paredes finas do prédio não eram apenas um obstáculo físico; elas transformaram-se em um véu que revelava a vida da nova vizinha. Eu podia ouvir o som de suas pisadas firmes no velho assoalho de madeira, o eco suave de suas músicas alternativas que preenchiam o ar com uma melodia quase hipnótica, e até mesmo os sussurros de suas intimidades, que pareciam flutuar entre os espaços. Apesar da proximidade, nunca havíamos trocado uma única palavra. Era curioso como duas vidas tão próximas podiam existir em mundos tão separados. Eu não sabia o nome dela, nem se tinha um apelido que pudesse refletir a essência daquela mulher enigmática. Às vezes, imaginava como seria sua voz, se era suave como a música que ouvia ou se tinha um tom firme e decidido, como suas pisadas. No entanto, pela primeira vez, seu nome invadiu meus ouvidos, dando forma ao desejo e à curiosidade que me consumiam. Clara.
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