As pessoas costumam dizer que a primeira vez você nunca esquece e não foi diferente comigo. Eu me lembro de tudo. Do vento frio e seco, do cheiro de mato recém cortado misturado com ferro, eu me lembro dos sons, dos gemidos de agonia que não tiveram tempo de se tornar gritos, dos ossos quebrando e do vermelho vivo inundando e regando a terra. Mas se você me perguntar qual seria a coisa que eu nunca me esqueceria, eu certamente responderia os olhos. É engraçado que primeiras vezes quase sempre nos rementem a outras primeiras vezes. Alguma vez você já matou uma galinha? Eu honestamente não, mas me lembro da primeira vez que vi meu avô matar uma, existe uma fração de segundos entre o momento que a faca é erguida e o sangue jorra, um pequeno estalo que separa a vida da morte e neste pequeno estalo se você olhar nos olhos, você consegue ouvir a alma gritar. Particularmente a memória da alma da galinha implorando para viver me atormentou por anos, eu recordo de não ter comido carne por um bom tempo, eu nunca vou entender como alguém sente prazer em matar algo tão inocente, tão frágil, tão humano. Mas esta não é uma história sobre galinhas, certo? Esta é uma história sobre como um pequeno estalar de dedos do olhar de um homem me mostrou o sentido da vida, a minha missão. Está história é de como eu me tornei uma assassina.
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